quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A velhice dos meninos do PT

Gina Menezes

Foi um misto de nostalgia e surpresa ao deparar dia desses com o senador Jorge Viana (PT-AC), quando pude constatar o óbvio e inegável poder do tempo sobre ele. Aos 53 anos, nem de longe é o “menino do PT”, como era tratado pelo então rival Edmundo Pinto. Pena que Pinto não viveu o suficiente para ver Viana se transformar no quinquagenário bem sucedido, nem o poder que detém há 20 anos. Parece óbvio essa conclusão infantil, mas não é.

Ao ver os cabelos prateados do meu herói da adolescência, pude constatar que necessito de novos “heróis”. Pena que o próprio Partido dos Trabalhadores acreano não reconheça isso. Há duas décadas, vejo o partido reinventar e reutilizar suas lideranças sem dar espaço as novas. Lendo na imprensa local a notícia de que o deputado estadual Ney Amorim, 34 anos, não levará o nome à disputa pela pré-candidatura à Prefeitura de Rio Branco, entreguei os pontos de vez.

Continuaremos a ter como estrelas os senhores petistas, que caminham a passos largos para os 60 anos e repetem, sem nenhuma originalidade, o adversário Flaviano Melo, aquele que levará na biografia o feito de ter tentado com que o PMDB no Acre nascesse e morresse com ele mesmo. O PT vai pelo mesmo caminho, porque os “meninos” se recusam a acreditar que a perpetuação de poder é utopia e imortalidade é sonho aquém da nossa realidade mundana.

A notícia que mencionava Ney Amorim era assinada pela assessoria de imprensa do próprio PT. O parlamentar nem se dignou a deixar que a assessoria dele assinasse a nota. Para que? Se a ideia foi mesmo do PT nada mais justo que o partido assinasse. Amorim pode não entender de momento político, mas entende de direito autoral.

Não é certo a ideia contraditória de tentar a perpetuação no poder pelas mãos de meia dúzia de pessoas. Incrível coincidência: quando Jorge Viana foi eleito prefeito de Rio Branco, em 1990, contava 31 anos de idade. Praticamente a mesma idade de Amorim, sendo que Viana jamais havia desempenhado mandato parlamentar. Ney está no segundo, como deputado estadual.

Naquela época, na distante década dos 1990, aos 13 anos, eu não faltava aos comícios. Praticamente obrigava minha irmã mais velha a me levar para ver o lindo e, juro, achava Jorge Viana alto, um homenzarrão. Ele povoava meus sonhos de adolescente como sua inteligência, juventude e beleza. Tão logo pude votar, comecei e continuei votando nele e nos seus também inteligentes amigos da Frente Popular do Acre.

Hoje, aos 31 anos, caminho pelos corredores da Assembleia Legislativa do Acre, onde trabalho, dividida entre confusão e decepção. O petista “jovem” da vez, Ney Amorim, que tem quase a mesma idade que a minha, não consegue espaço, tampouco recebeu o legado de “ menino do PT". Como assim? Minha geração endeusou os meninos que se tornaram cinquentões para que eles usurpassem os direitos dela? Na nota escrita por algum colega meu, o deputado Amorim afirma que não quer ser prefeito. Ou ele foi obrigado a concordar com isso ou ele não merece mesmo ser prefeito. A decepção é enorme. Seria a mesma coisa que eu, como jornalista, me negasse a ser correspondente internacional. Contrassenso puro.

Existe um falso absoluto no Acre de que apenas o PT pode indicar cabeça de chapa na Frente Popular do Acre. Todos os demais partidos, incluindo o sempre eterno aliado e subserviente PCdoB, não passa de coadjuvante. Por onde ando não se leva a sério que Perpetua Almeida com sua explosão de popularidade possa ser candidata a prefeita de Rio Branco, porque cometeu o erro fatal de não ser petista ou menina do PT.

O deputado federal Henrique Afonso, 47 anos, que ajudou a fundar a Frente Popular do Acre, apesar de ser só um pouquinho mais novo que os “meninos do PT", não têm o direito sequer de cogitar a ser candidato a prefeito. Se ele o faz com a cara e a coragem, como vem fazendo, é tido como um fanfarrão, piadista. Por quê? Coisas que a vã filosofia política não explica.

Henrique Afonso está no PV, mas foi no PT que se criou politicamente e de onde foi banido por motivos que não se explicam inteiramente. A única coisa que sei é que pode até ter sido “menino” na mesma época que Jorge e Tião Viana, foram do mesmo PT, mas não foi aceito como da mesma “turma”, portanto, está desclassificado segundo os manda chuvas da Frente Popular.

O engraçado é pensar que o conselho regente da FPA é formado por petistas. Enquanto os petistas reservam espaço dentro como quem reserva água no deserto, a oposição vai se beneficiando dessa infantilidade política. Exemplo disso é o ex-deputado federal Fernando Melo, pré-candidato a prefeito de Rio Branco pelo PMDB, com apoio do senador Sérgio Petecão (PSD), outro dissidente. A propósito, se dizia que Petecão não tinha luz própria e que deveria se conformar com o eterno posto de coadjuvante. Os 199.956 votos do senador Petecão mostraram que a análise da Frente Popular, especialmente do PT, estava errada.

Alguém pode questionar o que tenho a ver com isso. Mas tenho muito, pois, a exemplo de milhares de adolescentes, sonhei com a FPA, que agora vejo correr o risco de morrer caso não haja alternância de poder dentro da própria coligação. Pelo tempo perdido com esse sonho de adolescentes, peço: criem novas lideranças e nos façam sonhar outra vez.

Não venham argumentar sobre a capacidade ultra especial de Jorge Viana, Tião Viana, Gilberto Siqueira, Francisco Carioca e os demais iluminados cinquentões que dominam o ambiente político da Frente Popular. Não duvido da capacidade deles, mas peço que não duvidem da capacidade dos outros. Nem uma pesquisa cientifica me foi apresentada mostrando que Ney Amorim, Perpétua Almeida ou Henrique Afonso são menos capacitados. E mais: título acadêmico, mesmo que seja como professor de história pela Universidade Federal do Acre, como o de Carioca, não pode suprimir, competir ou servir de embasamento para contestar a voz popular que elegeu o não tão alfabetizado Sérgio Petecão.

Gina Menezes é jornalista.

3 comentários:

Jorgewan Hadad disse...

Gina, não a conheço pessoalmente, mas gostaria de parabeniza-la pelo excelente texto que retrata de forma simples e transparente a situação em que nós eleitores vivemos com relação a falta de novas opções na hora de escolher os candidatos. No Acre, no Pará e em todos os Estados da Federação, a História se repete, infelizmente. O jeito é torcer para que os eleitos, sejam eles os antigos ou os novos "meninos", façam algo pelo nosso querido Estado do Acre, que não se resume apenas a Rio Branco e região metropolitana.

Abs..

Jorgewan Hadad

Ducarmo disse...

Bom sempre achei que as opniões dessa moça eram baseadas no " quem paga mais", mas tenho que concordar precisamos de novas lideranças... isso ai Gina você acertou em cheio.

Rubinho disse...

O PT elitizou-se e apresenta pouca ou quase nenhuma diferença dos demais partidos políticos. Precisamos lembrar que o nome é PARTIDO DOS TRABALHADORES (não PT!) A única maneira de tentar reverter este quadro ameaçador e fazê-lo voltar-se para as bases, é lançar SIBÁ MACHADO COMO CANDIDATO! Este É da base.