Tenho dito

Clique na imagem acima para ler o documento entregue pessoalmente a mim pelo vereador Ney Eurico, do PSB, como resposta ao desafio que fiz a ele para que apresentasse prova de que houvera eu, algum dia, feito comentários ofensivos contra os vereadores de Xapuri, como afirmou em depoimento ao juiz Luís Gustavo Alcalde Pinto.

Não tenho a menor intenção de prolongar essa polêmica com o vereador, com quem sempre mantive mútua relação de respeito, mas alguns pontos destacados por ele necessitam ser contrapostos. A começar pelo texto que ele desencavou no blog, intitulado Latifúndio (im)produtivo, que foi publicado em 2009 e cujas opiniões se dirigiam à legislatura anterior a esta.

Quanto aos termos apontados como ofensivos pelo vereador, quando me referi à Câmara de Xapuri como instituição corporativista, assistencialista e clientelista, não consigo vislumbrar qualquer ofensa, uma vez que os três adjetivos se aplicam ao resultado de um conjunto de atitudes e comportamentos coletivos facilmente reconhecidos no caráter da casa naqueles tempos.

Para ser mais claro, vou enumerar alguns exemplos irrefutáveis do comportamento da Câmara na legislatura passada que me levaram a lhe atribuir as pechas acima. Ressalto que esses mesmos exemplos podem ou não estar sendo repetidos na atual legislatura, da mesma maneira que podem ou não haver exceções entre os homens que ocupam aquelas disputadas cadeiras.

1 – Corporativismo: Vereadores faltaram em massa a uma sessão ordinária no ano de 2008 para que o presidente Ronaldo Ferraz, supostamente, não acumulasse mais uma falta que poderia lhe fazer perder o mandato. A denúncia foi feita pelo então suplente de vereador Selmo Dantas, que hoje é vereador licenciado (leia aqui).

2 – Assistencialismo: Essa prática comum da política brasileira não necessita ser comentada, mas conheço muita gente disposta a confirmar que já teve receita médica despachada em farmácias da cidade a pedido de vereador. No caso de Xapuri, ser chamado de assistencialista não pode ser considerado ofensivo, até mesmo porque a maioria dos que o fazem realmente têm a intenção de ajudar, creio eu, sinceramente.

3 – Clientelismo: No ano de 2008, a Câmara de Xapuri aprovou por unanimidade um projeto que garantiu a continuidade de  contratos irregulares até o final do mandato do ex-prefeito Wanderley Viana. A prefeitura pediu à Câmara autorização para  contratar cerca de 117 servidores provisórios sob a justificativa de excepcional interesse público, quando na realidade apenas queria validar a situação dos mesmos funcionários que haviam sido postos para trabalhar irregularmente e que estavam sendo pagos de maneira igualmente ilegítima (leia aqui).

Quanto às negociatas e conchavos, prefiro não me estender no assunto, a não ser que alguém ache necessário que eu continue a revirar armários repletos de esqueletos. No mais, quero esclarecer aos vereadores que não cabe a mim decidir sobre o pedido da Câmara para que as sessões daquela Casa sejam transmitidas ao vivo pela Rádio Educadora 6 de Agosto, ideia que eu, particularmente, acho estapafúrdia.

Acredito que seria mais produtivo se a Câmara obtivesse espaço na emissora para veicular um programa semanal que resenhasse os atos do Poder Legislativo como um todo. É uma sugestão de iniciativa para a qual me disponho a ajudar tanto na liberação do espaço quanto na elaboração do programa, que não teria a participação direta de vereadores, mas apenas como entrevistados por um apresentador definido por critérios a serem discutidos.

O que me preocupa é que a Câmara não conseguiu fazer funcionar uma simples página na internet, em formato de blog, cedida pela Assembleia Legislativa que, por sinal, treinou e pagou uma pessoa selecionada para fazer fazer o trabalho de divulgação das ações da Casa. Durante meses, uma adolescente passou o tempo a copiar textos de blogs e sites, entre eles este mesmo e o site da prefeitura, e colá-los na página da Câmara.

Considero injusta a afirmação de Ney Eurico de que não existe espaço para os vereadores na Rádio Educadora ou neste blog. Tanto na emissora da qual sou coordenador quanto nesta página, qualquer um deles tem espaço para divulgar o seu trabalho, para contestar as críticas que recebem e para responder aos questionamentos da população. Sempre estive aberto para qualquer um e desafio quem afirme que tenha tido espaço negado por mim mediante solicitação.

Ocorre que, não faz muito tempo, vereadores se dirigiam frequentemente aos estúdios da emissoras para promover bate-boca e picuinhas. Quando não, se aproveitavam do espaço para se promover politicamente, sem apresentar nenhuma matéria relevante ou projeto de interesse da população. Por essas razões, a Câmara se distanciou da emissora e vice-versa.

Nada que não possa ser revertido desde que ao mesmo tempo em que tenham espaço para falar, os vereadores lancem mão também da capacidade de ouvir e assimilar as críticas, sabendo diferenciá-las do significado de ofensa. Como bem disse meu colega Leônidas Badaró, Xapuri tem muitos problemas, mas nenhum é tão grave quanto depender de pessoas cujos egos se sobrepõem à capacidade de admitir o óbvio.

Tenho dito.