segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Uma ponte para Xapuri

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Manoel Moraes de Sales

É preciso muito mais esforço para fazer de Xapuri um polo de desenvolvimento sustentável, mas estamos no caminho certo. Alguns passos já foram dados e outros mais virão numa caminhada que visa tirar a cidade e o seu meio rural do esquecimento. As pessoas que residem de um lado e do outro do rio precisam, já, de uma ligação mais consistente e menos perigosa que o transporte fluvial, principalmente, no longo período de inverno.

É preciso pagar com muito trabalho tudo o que os xapurienses de hoje devem ao passado. E a nossa dívida é grande, haja vista que os nossos bravos antepassados partiram, exatamente dali, para a grande vitória contra os bolivianos.

A História nos trouxe até aqui. Do maior centro econômico e financeiro que foi Xapuri durante toda a primeira metade do século passado, com a falência dos seringais, a cidade viu desaparecerem ou irem embora muitos dos seus filhos e parece ter parado no tempo. Da beleza das épocas da Princesinha do Acre, restaram alguns monumentos e antigas residências dos barões da borracha, daí o ar de cidade histórica visitada por intelectuais e artistas dos mais variados recantos do mundo, principalmente, depois que os olhos das nações viram a obra ímpar do ecologista Chico Mendes.

Por tudo isto e pela consideração e respeito que devemos - nós xapurienses - ter para com os nossos antepassados, não fugiremos da peleja e faremos de tudo para que o nosso agradecimento possa vir em obras e soluções para os problemas enfrentados por esta gente que nunca deixou de acreditar no futuro.

Foi com esse pensamento que houvemos por bem discutir um amplo projeto para a construção da ponte sobre o Rio Acre, que fará a ligação do centro histórico da cidade ao outro lado, o histórico Bairro Sibéria.

É claro que toda a comunidade, dos dois lados do rio, esteve sempre presente e participante nas discussões acerca do futuro que passamos a buscar com todas as forças. Sim, foi a partir deste momento que fomos em busca do aval dos especialistas em ecossistemas. Com eles estivemos e os fizemos ver que os possíveis danos causados ao meio ambiente serão insignificantes se comparados aos benefícios que virão com certeza.

Sabemos que a floresta está praticamente intocada. Temos consciência de que as pessoas que residem nos antigos seringais sobrevivem dos meios que a floresta lhes oferece, do peixe pescado nos igarapés e no Rio Xapuri, à caça não predatória que alimenta o seringueiro, o caboclo e o ribeirinho. E lá eles estão ainda - e devem ficar - para ajudar a preservar tudo o que a natureza lhes dá de melhor, é claro, com a prática do manejo florestal, com o reflorestamento das áreas degradadas das margens dos rios, onde poderão ser plantadas mudas de árvores frutíferas, que aquecerão a nossa futura economia baseada na indústria alimentícia com matéria prima retirada dessas áreas tornadas úteis e rentáveis pelo esforço dos que acreditam que, não apenas o açaí, ou a castanha, ou as seivas da mata, mas as nossas frutas tropicais, como a graviola, o cacau, o cupuaçu, o caju, a banana, o maracujá, dentre outras, plantadas lado a lado, em sistema consorciado, aquele em que uma árvore sombreia a outra e ambas garantem para si, dentre outros fatores, uma maior produtividade.

E, antes que os ecologistas desumanos falem das possíveis desvantagens que poderiam vir a partir da construção da nossa ponte, é oportuno afirmar que não haverá caminhões de toras de madeira cruzando o rio na calada da noite, uma vez que os órgãos controladores e fiscalizadores, como o Ibama e o Ministério Público, não estarão dormindo e manterão vigilância diuturna e incessante, de um lado e do outro do rio, notadamente, com a contratação de novos técnicos e fiscais.

É conveniente lembrar, aqui, que o Alto Acre está em vias de um progresso sustentado a partir do advento da Zona de Processamento de Exportação, dentre outros fatores. Faz-se oportuno observar que o Vale do Juruá já começa a viver tempos de prosperidade a partir da abertura da BR 364 de inverno a verão. Convém admirar a grande obra de urbanização que vem sendo feita ao longo dos últimos anos em Rio Branco, o que viabiliza, dentre outros, o progresso da indústria turística.

Enquanto isso, por um erro de engenharia, que até poderia ser consertado, Xapuri ficou de manga - como se diz no seringal - e parece-nos estar vendo o progresso passar pela janela de um tempo heroico que ali teve início.

Não, senhores. O desenvolvimento da cidade está sendo repensado a partir das pessoas que não arredam o pé do seu pedaço de chão, da sua área de terra de onde, à duras penas, tiram o sustento dos seus. Esses esforçados, certamente, verão dias bem melhores, na graça de Deus.

É por isto que, desde muito tempo, temos pensado nas possibilidades de um programa de manejo florestal que sirva de modelo para outras áreas degradadas ou não, do Estado do Acre, sempre com base no zoneamento agro-florestal tão bem concebido pelo Governo do Estado.

E há muitas outras possibilidades. Acreditamos, inclusive, numa audiência pública urgente. Nesse encontro, todas as ideias e projetos serão discutidos, em uma grande reunião, em Xapuri, para onde as pessoas levarão as suas sugestões já anotadas.

Só para citar algumas ideias, é notório que a agricultura nas áreas degradadas é extremamente viável, com a utilização da mecanização agrícola, se considerarmos glebas como as que vão desde o antigo campo da fazenda da família Brasileiro às imediações do Arroz Sem Sal, até a Fazenda Boa Vista ou ao Novo Catete, todas áreas reaproveitáveis localizadas do outro lado do rio, do ponto de vista de quem está em Xapuri.

Da mesma forma, o subsídio à piscicultura, não só na Sibéria, como em outras áreas de Xapuri, é outro projeto a ser apresentado ao Governo do Estado, na esteira do que vem sendo amplamente difundido e implantado. Nós também participaremos de mais esta via de desenvolvimento que dará mais qualidade de vida e melhores condições de sobrevivência digna aos que não querem ver o progresso passar sem dele tirar, com esforço, algum ou muitos benefícios.

Considere-se ainda que ninguém está interessado em fazer dali mais um município pobre. A Sibéria será garantida enquanto um distrito privilegiado porque as pessoas que lá residem assim o querem. Elas escolheram não perder o trem da história que tornou Xapuri internacionalmente conhecida. Assim, juntos, muitos dividendos ainda haveremos de auferir em nome das comunidades como um todo, sem divisões quaisquer que sejam.

É imprescindível garantir, com todas as letras, que as pessoas que tiram o seu sustento com o negócio das catraias terão a sua renda garantida pelo Governo, como ocorreu aos antigos catraieiros de Rio Branco. Nada mais justo que, inclusive, oferecer-lhes oportunidades nos muitos outros espaços e ocupações que haveremos de criar.

É por isso que outros projetos serão amplamente debatidos, como a urbanização da parte da beira do rio que vai do Hospital Epaminondas Martins à Casa Branca. As pessoas ali instaladas, atualmente, poderão ser transferidas para áreas mais seguras e nobres localizadas nas imediações da Escola Rita Maia, de um lado e do outro da rua, ou ao longo da Estrada da Borracha, onde poderá ser construído um polo de artesanato, de pequenas indústrias de alimentos da terra e de confecções, dentre outros afazeres, para benefício dos talentos naturais do povo. O corredor do Pacífico está aí e nós não ficaremos na janela do tempo vendo o trem da história passar fumegante.

Sonhos e realidades moram perto um do outro, mas só são apresentados quando pessoas com tino progressista o fazem. Pensamos em um projeto de criação de um parque ecológico para a ponta de terra que fica entre o Rio Acre e a embocadura do Rio Xapuri, é claro, considerando os problemas do relevo e das cheias. Lá pode ser erguido um hotel de selva com restaurante internacional para receber ou para oferecer uma opção a mais aos turistas que por ali aportam para um contato mais direto com os ares amazônicos. Certamente, poderemos assim oferecer uma paisagem muito nossa a partir da concepção de um bom arquiteto e de um urbanista de renome nacional.

E assim, foi com a consciência voltada para as questões ambientais de uma ecologia humana que torna o homem o sujeito principal das suas ações, que houvemos por bem partir na busca das garantias do poder central, através dos nossos representantes em Brasília, para a construção da nossa ponte.

A vitória veio porque o prêmio que ela oferece vai sempre para as mãos dos mais justos de coração. O projeto de construção da ponte que ligará Xapuri ao futuro distrito de Sibéria já é parte do orçamento geral da união. Em pouco tempo o nosso povo alcançará, mais uma vez, os velhos troféus de guerra antes perseguidos com tanta bravura pelos nossos heróis da epopeia do início do século passado.

E assim, muitos outros projetos serão perfeitamente viabilizados por este Gabinete agora montado bem mais convenientemente para o benefício do povo do Acre e, mais especificamente, para os xapurienses que nunca deixaram de sonhar e agora veem os seus sonhos se tornar realidade.

Manoel Moraes de Sales é deputado estadual.

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