sexta-feira, 30 de maio de 2008

Folha de Xapuri: cinismo puro



É o cúmulo da desfaçatez e do cinismo a peça publicitária produzida pelo Departamento de Comunicação Social da Prefeitura de Xapuri e publicada sob o título de Folha de Xapuri. Com o pretexto de servir à divulgação das ações da prefeitura, o jornaleco é pura propaganda eleitoral antecipada do prefeito Vanderley Viana e um verdadeiro paiol de bravatas e mentiras deslavadas, a começar pela manchete de primeira página que diz que a cidade está sendo revitalizada.

Não basta estampar em um panfletinho mal elaborado uma meia dúzia de fotografias de algumas poucas benfeitorias ou rechear páginas com louvaminhas de assessores e pessoas escolhidas a dedo para convencer alguém de que Xapuri não atravessa um dos piores momentos da sua história. A prefeitura até tem maquiado alguns pontos da cidade com algumas obras sempre envoltas em suspeitas de irregularidades, mas o resumo que se pode fazer desta administração é extremamente sombrio e assustador.



Um bom exemplo do descaramento dos responsáveis pela propaganda do prefeito é a situação da educação municipal. Na segunda página do panfleto, uma manchete vai totalmente de encontro com as manifestações de professores e funcionários da educação, ocorridas durante esta semana. “Mais escolas, merenda de qualidade e valorização de estudantes e professores”, apregoa a cabeça de um texto que traz ao lado uma foto do secretário municipal de educação, Raimundo Marçal Chale.

Para começar, a zona urbana de Xapuri conta somente com uma escola municipal, uma das escolas-padrão construídas pelo governo do Estado há alguns anos em vários municípios e, no caso de Xapuri, posta sob responsabilidade do município. O estabelecimento iniciou o atual ano letivo em condições físicas tão precárias que os professores inseriram entre as suas bandeiras de reivindicação contra a prefeitura, além dos reajustes salariais, a imediata restauração da escola.

Na última terça-feira, os servidores da educação paralisaram as aulas em protesto contra a falta de palavra do prefeito, que não cumpre com as promessas feitas e submete o funcionalismo a um regime rigoroso de não reajuste salarial há mais de 3 anos, de acordo com informações dos sindicatos de servidores municipais e de trabalhadores na educação. Há servidores recebendo menos que o salário mínimo vigente no país, segundo denuncia a professora Marilza Socorro Ribeiro, ex-secretária e aliada política de Vanderley Viana.

A mesma professora denuncia também a falta de material didático nas escolas, a péssima qualidade da merenda escolar que se baseia, invariavelmente, em suco e bolacha, além do fato gravíssimo de os alunos estarem bebendo água suja na escola Rita Maia. Quanto à estrutura física da escola, foi realizada uma pintura às pressas para disfarçar as reais condições do prédio que continua sem oferecer o conforto e a segurança necessários para os alunos do ensino fundamental.

Na tarde desta sexta-feira, os protestos originados dentro da rede municipal de ensino começaram a se estender para os outros setores da administração, igualmente tratados a pão e água pela prefeitura de Vanderley. Em um ato público realizado na Praça Getúlio Vargas, no centro da cidade, o Sinteac – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre – tentava se unir ao Semux – Sindicato dos Servidores Municipais -, para juntos enfrentarem o despotismo do prefeito.

A secretária de finanças, Aucelina Oliveira, fala de equilíbrio financeiro e pagamento do funcionalismo em dia, como méritos fabulosos da administração. Não vou aqui colocar em dúvida a sua palavra, mas é fácil falar com essa segurança quando não há transparência com relação à situação financeira e orçamentária do município, que impede toda e qualquer divulgação ou acesso a informações referentes a contratos, convênios, licitações e etc. Que o diga a Câmara, na figura de alguns vereadores que vivem a cobrar informações sem ser atendidos nas suas solicitações. Como o dito popular assegura que quem não deve não teme, estranha o fato de os parlamentares terem, recentemente, tido que apelar ao Ministério Público para poder saber o que se passa dentro das paredes obscuras da prefeitura. Além do mais, pagar salários em dia não é mérito, apenas mera obrigação.

A propósito, pagamento em dia em Xapuri somente dos funcionários efetivos. Quando se trata de prestadores temporários de serviços, a prefeitura de Xapuri se transforma em um verdadeiro pandemônio, com trabalhadores sem receber salários por meses seguidos, sem contrato formal de trabalho, sendo contratados e demitidos sem nenhum critério legal definido senão ao bel prazer do prefeito e de seus seguidores e daí por diante.

Recentemente, a Câmara aprovou um projeto que poderia ser considerado cômico se não fosse trágico. O prefeito encaminhou ao Legislativo um pedido de autorização para efetuar contratações em caráter temporário de excepcional interesse público. Estava em apuros com o Tribunal Regional do Trabalho para poder continuar pagando servidores contratados de maneira irregular. Entre clientelista e comprometida por razões camufladas, a maioria dos vereadores aprovou o disparate.

Na área de saúde, a prefeitura diz que a vida é levada a sério em Xapuri. Também não duvido, pois se até a vida, maior patrimônio que o ser humano possui, não estivesse sendo levada a sério, já estávamos irremediavelmente condenados. Basta que as pessoas não estejam sendo respeitadas. A equipe da saúde tem se empenhado, conseguido bons resultados na cobertura vacinal, o centro de fisioterapia tem prestado um excelente trabalho à comunidade, assim como os Agentes Comunitários de Saúde e os médicos do Programa Saúde da Família. Tudo isso é obrigação fundamental de qualquer governo. O que foge a isso é aberração, como o fato não explicado da falta de pilhas e coletores que paralisaram temporariamente o trabalho dos Agentes de Endemias da Funasa no combate à dengue, dias atrás.

Enfim, esclareço que nada tenho contra a divulgação dos feitos da administração municipal. Todos os governos se utilizam desse expediente. No entanto, isso não significa que tenhamos que ficar mudos diante da tentativa petulante de enganar as consciências através da utilização de sofismas perniciosos que se não forem combatidos podem tomar pretensões de verdades absolutas. E combater a mentira e o cinismo desvairado é o meu dever de ofício.

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