Escrevi há algum tempo que nas ruas de Xapuri, apesar do pequeno tamanho da cidade, existe um misto de imprudência ao volante, falta de fiscalização e de reprimenda para quem infringe a legislação de trânsito. Fui tachado de sensacionalista por considerar perigoso e impune quem dirige alcoolizado ou abusa da velocidade e invade residências em plena madrugada, colocando em risco a vida de quem sequer colocou os pés fora da sua casa.
Ao fazer as considerações descritas acima, não tive a intenção de ofender a ninguém, muito menos duvidei da competência e responsabilidades de quem quer que seja. Apenas expressei o sentimento de uma boa parcela da população (a sua maioria, na realidade), que anda a pé ou de bicicleta pelas estreitas e mal conservadas vias públicas desse povoado, e que o fazem assustados com o comportamento dos que se escondem atrás de um motor e se utilizam de um volante para mostrar o seu desprezo pelos simples mortais.
É impressionante como algumas pessoas se sentem poderosas no controle de um veículo. Aparenta que o fato de conseguir engatar algumas marchas e aprumar uma direção, para alguns, representa a maior realização de suas medíocres existências ou um direito conquistado de agir com profundo desrespeito e menosprezo para com a vida dos seus semelhantes. Trata-se, apenas, de uma impressão muito pessoal, mas que parece fazer sentido quando nos deparamos com episódios lamentáveis, que constantemente se repetem.
O comerciante Roberto Carlos de Oliveira, proprietário de uma pequena loja de confecções no centro da cidade, tem sorte de estar vivo. Ele foi atropelado, na noite da última terça-feira, por uma condutora de um Fiat Strada que a cerca de 50 metros antes havia batido em um carro que estava parado em frente à escola Divina Providência. Não parou para ver os estragos causados e avançou, certamente nervosa, para atingir uma pessoa logo adiante. Felizmente, o comerciante não se feriu com gravidade, mas poderia ter morrido.
De acordo com a polícia, a condutora do Fiat Strada, Talita Gomes, responsabilizou-se pelas despesas e ponto. Está pronta para outra. Sem pontos perdidos na CNH e, talvez, com a consciência tranqüila, resultado do dever cumprido, afinal de contas socorreu a vítima e vai arcar com os ônus do seu sofrimento físico e material (ele teve sua bicicleta destruída no acidente). Quanto aos danos psicológicos de quem viu a morte de perto, é o preço justo por estar no meio do caminho das bestas habilitadas e suas máquinas de atropelar.
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