Com dívidas que superam a marca de R$ 1,5 milhão, Caex agoniza.
A informação surpreende, mas nesse ano de 2007 a Cooperativa Agroextrativista de Xapuri, uma das organizações de seringueiros mais conhecidas e respeitadas do Acre, não está beneficiando um único quilo de castanha na usina da cidade. Atolada em dívidas que ultrapassam a marca de 1,5 milhão de reais, a Caex agoniza após uma série de gestões, que segundo o atual presidente, Luís Íris de Carvalho, não honraram com os ideais defendidos até a morte por Chico Mendes.
Criada em 1988, ainda sob a coordenação do líder sindical morto naquele mesmo ano, a cooperativa tinha o objetivo de eliminar do processo de comercialização da borracha a figura indesejável do atravessador (marreteiro) e viabilizar o desenvolvimento econômico dos seus associados. Passados quase 20 anos de sua criação, a Caex nem de longe parece aquela instituição sólida que recebia apoio e financiamento de ONGs e Fundações de governos internacionais.
Da castanha que está sendo beneficiada hoje em Xapuri, a Caex tem a participação de apenas 3% em cima do lucro, conforme reza o contrato de sociedade na usina de beneficiamento com a empresa R. Bertolini, dona da produção que está sendo processada atualmente. Para se manter em funcionamento, a cooperativa está vivendo da fatia de 20% do mercado da borracha deixado pela Fábrica de Preservativos Masculinos, sendo que a Caex ainda divide essa fatia com outro comprador da região. A borracha está sendo comprada e revendida no seu estado natural.
De acordo com Luís Íris de Carvalho, mais conhecido como Licurgo, que está no cargo de presidente da Caex desde maio deste ano, a nova diretoria encontrou a entidade praticamente falida, devendo impostos municipais e estaduais, com a folha de pagamento com quase cinco meses de atraso e com o seu estabelecimento comercial praticamente sem nenhuma mercadoria nas prateleiras. Licurgo conta que nos últimos anos uma série de atitudes da última gestão da empresa levou a cooperativa à iminência da bancarrota.
Entre os erros apontados pelo atual presidente está a concessão de empréstimos a terceiros realizados de forma verbal e a movimentação desastrosa do capital da empresa, atestada por balanços confusos e relatórios financeiros incompreensíveis. Outro fato que agravou a situação da Caex foi a perda de 86 toneladas de castanha, no valor de 1 milhão e 65 mil reais, levadas para a Bolívia por uma pessoa de nome Raul, como pagamento de uma suposta dívida com a empresa Tahuamanu, daquele país.
Entre tantos problemas, o maior, no entanto, é a inadimplência com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão do governo federal que disponibiliza os recursos do programa de compra antecipada da castanha. Sem haver prestado contas do dinheiro recebido para a compra da safra 2005/2006, no valor de 1 milhão de reais, a Caex não pôde acessar os recursos para a compra da safra passada. Para investigar o que foi feito desse dinheiro, a atual diretoria solicitou a realização de uma auditoria pelo Tribunal de Contas do Estado que se encontra em andamento. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Sem castanha e sem dinheiro, a Caex busca agora parcerias para enfrentar as dificuldades e vencer a crise. Entre os possíveis parceiros, está o governo do estado, a Cooperacre e a Cooperativa Chico Mendes, de Modena, na Itália. O presidente Luís Íris de Carvalho dará início nas próximas semanas a uma série de contatos com essas instituições, na busca de soluções para evitar que um dos maiores símbolos da luta e da organização dos seringueiros de Xapuri feche suas portas.
O gerente da Caex na administração passada, Salustiano Diogo, foi procurado, mas preferiu não se pronunciar sobre o assunto. O ex-presidente Luís Pereira não foi encontrado.
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