José Cláudio Mota Porfírio*
Pelo menos uma dentre tantas verdades não dói. Por isto, afianço-vos que tenho quatro pilares básicos a sustentar as minhas rasantes sazonais. Primeiro, a família que me deu origem, depois, o doce lar e a mulher amada, depois, as escolas gratuitas que freqüentei ao longo dos anos e, enfim, o boteco, de onde jorram em borbotões frases de efeito e comentários que partem de espíritos altamente inteligentes e ligeiramente etilizados... E tudo isso é a minha cara, realmente. Feito por encomenda, lá em Xapuri, papai houve por bem caprichar no produto made in seringal. Ora pois!...
O que me faz rir? – Ter votado no líder maior do nosso tempo, Lula, mesmo depois de ele haver desconsiderado a minha formação intelectual e pisoteado o minguado salário... O que faz chorar? – Ver tantos palhaços peregrinos, de fraque e cartola, na busca maior que é uma fatia do erário público, em Brasília, mesmo sem nenhuma condição moral ou vocação intelectual para representar o triste Zé povim deste meu Brasil desmemoriado... Quais são os palhaços preferidos? – Renan, Serra, Fernando Henrique, Collor, Chávez, Morales e Bush... Com quais figuras históricas mais me identifico? – João Goulart, o ex-presidente brasileiro expulso do poder pelos americanos, nos anos 60. Paulo Freire, o nosso educador maior com quem ainda cheguei a trocar algumas figurinhas, na Unicamp. Teotônio Vilela, o velho político hoje morto. Galvez, Plácido e Chico Mendes... Um herói? – Meu pai, um estivador anônimo que carregou a história do Acre nas costas, de barranco acima, na forma de pélas de borracha, castanha, madeira... Com qual título sentir-me-ia honrado? – Forjador de consciências críticas... E o pesadelo que atormenta? – A possibilidade de parar de sonhar ou a de perder a memória... Um lugar da Terra? – Xapuri, meu berço e minha fonte de vida, de onde bebo, diuturnamente, doses maciças de sensatez, vergonha na cara, equilíbrio e civilidade... Na pele de quem gostaria de passar um dia? – Na de Bill Gates, rico, ecumênico, prático e solidário. A vida não é fácil; acostume-se a isso. É dele... Frase preferida? – O risco que corre o pau corre o machado. (Viver é arriscado.)... Memória mais querida? – Eu em criança, meus irmãos e minha avó cearense ranzinza fazendo capitão de feijão e colocando nas nossas bocas ávidas... Característica que mais detesto nos outros? – Há uns caras que morrem dizendo saber fazer aquilo que jamais conseguirão por absoluta falta de preparo, caráter ou coragem. Em outras palavras: quem não pode com o pote não pega na rodilha... Característica que mais detesto em mim? – Não sei puxar o saco de ninguém, não peço coisa alguma de nenhuma autoridade e, por isso, curto numa boa um certo ostracismo com que me brindaram pelo fato de ter sempre razão no que digo e falar as verdades mais cristalinas que machucam tantas suscetibilidades... Uma recordação da infância? – Venho de um berço humílimo, de canarana, maçaranduba e saco de estopa, praticamente não tive infância, trabalho e ganho desde os dez anos, mas, andar de pernas-de-pau e olhar por cima das janelas altas dos nossos turcos e portugueses, na minha cidade, ainda hoje me extasia... O que os outros dizem de mim? – Há uns que me acham petulante, metido a delegado, dono da razão, boçal, prepotente. Há outros que reconhecem alguma qualidade nesta alma barranqueira. E há algumas mulheres que dizem de mim de tudo um pouco... O maior vexame? – Ter sido preso três vezes, de ordem do Dr. Nielse Mouta, Juiz de Direito, na delegacia de Xapuri, por vagabundagem e por briga de rua, tendo o soldado Almerindo no meu encalço com uma borracha na mão e uma algema na outra. E olhe que sempre estive entre os melhores alunos do vetusto Divina Providência... A maior ressaca? – Aos catorze, era aprendiz do marceneiro Elias Monteiro Luz, o Breque. Fiz uma caipirinha com o álcool comprado para elaborar o verniz, fiquei doidão e quase morro de vomitar... O que me faz desanimar? – A falta de incentivo que às vezes vem de mim mesmo... Qual a maior mentira? – Vivo dizendo em casa que não sou de andar mentindo por aí... Do que mais gosto nas mulheres? Da meiguice da superior maioria, da sensibilidade, do senso de organização e responsabilidade, do ecletismo e das loucuras... As coisas mais importantes do mundo? O meu talento rasteiro, os bens espirituais e materiais que consegui amealhar ao longo dos anos e a minha galerinha lá de casa, Alan, Adrian e Andrei. Com estes, apesar dos três anos dos gêmeos, ainda tomarei uns bons chopes no Água na Boca e, depois, irei dançar rock’n roll na Excalibur... Um livro? – Criando meninos, de Steve Biddulph... Um filme? – Quo vadis? Dentre as mentes sãs e os insanos da velha Roma, de Augusto a Nero, Cláudio, apesar dos chifres homéricos aplicados por Messalina, uma quenga, foi um imperador que pensou na guerra, mas pensou e supriu também muitas carências materiais dos mais pobres... Teria inveja de alguém? - Do Gianecchini... Um sonho de consumo? – Dois: uma Ferrari vermelha, do ano, e a Juliana Paes... Com quem trocaria de lugar por um dia? – Com o Dalai Lama... A maior bronca do papai? – Fui a um passeio-trabalho e ele achou que eu havia tomado umas e outras. O velho estivador era um brutamontes e eu tomei porrada de verdade pra criar vergonha na cara... Se não fosse dublê, seria o quê? – Seria o que eu nem acredito que sou: professor, pesquisador, escritor, poeta, proseador, cronista, articulista, pensador, patati, patatá, patati, pataculá... O que seria a felicidade? – Saber viver com pouco e poder dizer a todos que estou sempre às ordens. Disponham!... Um trabalho que jamais faria? – Segurança de cabaré ou de puteiro. A barra é muito pesada, há gente de todos os naipes do baralho e poucos vão ali para fazer gentilezas. É do cacete, mesmo!... Um talento que gostaria de ter e acho que faz falta? Cozinhar... E a frase favorita? – Alguém dentro de mim é mais eu que eu mesmo.
Um momento difícil? – Foi quando perdi um irmão, o Jorge, aos trinta anos, um sujeito bem sucedido e bonachão que quase mata de saudades os demais componentes da raça lá de casa... Se o mundo acabasse amanhã, o que faria hoje? – Ficaria rezando e pedindo perdão por três horas a fio, na Catedral. Depois, tomaria umas e outras e iria repetir, pela enésima vez, um bocado de coisas que já fiz na intimidade daquelas instituições que comercializam o prazer na Via Chico Mendes... Como gostaria de morrer? – De repente... O que escreveria na lápide? – Aqui jaz um realizador de sonhos possíveis e impossíveis... O que gostaria de ouvir de Deus ao chegar lá? – Meu bom José, você chegou bem na hora do almoço. Pega o teu rango e, depois, capricha. Toma conta do Céu que eu vou lá embaixo dar um jeito na Terra.
* Cronista xapuriense
Extraído do blog Impressões Gerais.
Um comentário:
Esse é o Zé Claúdio. Um ser especial que faz a diferença no mundo.
Carlos Estevão
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