sábado, 19 de novembro de 2011

Um bulliyng a mais é demais

Bulliyng

José Cláudio Mota Porfiro

As bebidas amargas são, realmente, muito difíceis de tragar, numa alusão ao poeta Chico Buarque de Holanda, em Cálice. Fica-se logo entorpecido devido à ingestão brusca de doses maciças de realidade. Depois, a boca trava pelo que há de injusto na situação vivida e, enfim, os dias, os meses e os anos que se seguem são tristes, cinzas, nebulosos, desestimuladores mesmo. Dá até vontade de largar tudo e ir morar na Coréia do Sul, onde a dignidade e o respeito são cultivados e germinam mui belos, notadamente, entre os que produzem e transmitem conhecimento.

Numa definição sucinta, o bulliyng compreende atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos. É praticado por um indivíduo  -  do inglês bully, valentão  -  ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia, sendo executados dentro de uma relação desigual de poder. Em outras palavras, é como aquele aluno gordinho, ou aquela aluna que tem o cabelo pixaim, de quem todos fazem chacota e até maltratam fisicamente, e nenhum dirigente percebe ou não quer perceber.
E os fatos foram sendo tratados dentro daquela rotina lerda das escolas brasileiras. Estas vinham caminhando naquela pseudo normalidade já histórica. O problema existia, certamente, mas não era percebido. Todavia, para piorar, nos últimos anos, a prática recrudesceu e, agora, passa a existir um bulliyng a mais, o que já é mais que demais.

O novo bulliyng é também perverso porque não maltrata apenas uma vítima, mas toda uma comunidade que deixa de tirar proveito dos estudos e dos conhecimentos transmitidos nas escolas porque alguns alunos se acham no direito de agredir, física ou psicologicamente, pessoas que nada mais querem que dar algumas luzes que iluminem caminhos tão escuros, tão íngremes e tão tortuosos.

Entretanto, antes das críticas mais direcionadas, mais concretas, e que estão acima da letargia abstrata da vida escolar, é preciso afirmar que, felizmente, as escolas brasileiras conseguem, hoje, tirar muitos dos problemas das pautas de resoluções porque têm buscado recursos e saídas plausíveis, inclusive a curto prazo, apesar de algumas questões ainda não solucionadas, como o item que versa sobre a ordem e a disciplina, estes, ainda considerados fatores que levam o pavor aos dirigentes, antes de mais nada.

Há material didático em quantidade suficiente. A aquisição das novas tecnologias é uma realidade e cada aluno finalista do ensino médio dispõe de um palm top de última geração. Muitos livros foram adquiridos e até sobram. Há laboratórios bem montados. Os professores são selecionados através de concursos públicos e os diretores fazem cursos onde se especializam para a administração das escolas. Há avanços e não se pode negar.

E o novo bulliyng? A origem do problema recentemente identificado tem base em muitas famílias que perderam o controle sobre as suas crias - meninões e meninonas  -  e as deixam à solta instilando ácidos venenosos contra os muitos que ainda querem ensinar alguma coisa e contra outros que vão às escolas para aprender o algo mais que lhes pode tirar da situação adversa comum a boa parte da população.

Observemos que, infelizmente, a alçada que seria relativa aos dirigentes educacionais - como o meu ex-aluno Daniel Queiroz de Santana, hoje Secretário de Educação  -  passa a ser, nos dias que correm, uma inquietação dos setores da segurança pública. Em outras palavras, uma preocupação a mais para o respeitável Reni Graebner.

É, senhores do Ministério Público do Estado! Os professores estão sendo também chacoteados, ridicularizados, desrespeitados, ameaçados, sim, inclusive, fisicamente. Senão vejamos.

Este cronista assíduo (e professor desrespeitado), que vos deixa estas mal traçadas linhas, soube, de fonte fidedigna, em uma reunião de professores, através de mensagem do dirigente escolar, que estaria entre os jurados de retaliações físicas pelo fato de me impor em sala de aula e zelar, incansavelmente, pela ordem e pela disciplina.

E não são tantas as exigências. Peço-lhes que, sempre por gentileza, não deixem de se concentrar, pois é esta uma atitude necessária em qualquer atividade que você desenvolva, caso queira tirar algum proveito dela. Digo aos meus estudantes que a conveniência maior é sempre levar a escola muito a sério porque esta forma para a vida e a vida é algo de muito melindroso que requer cuidados demais, do contrário, os longos dias que levam ao momento final  -  o fim da vida  -  serão repletos de infelicidades e dissabores. E isto não é filosofia barata, como poderiam afirmar os meus críticos eternamente atrás das cortinas.

Aos respeitáveis dirigentes da estrutura estatal, inclusive, aos membros dos ministérios públicos, afianço, sem nenhum medo de retaliações por parte de quem quer que seja, que uma laranja ruim apodrece todo um saco repleto de duzentas delas. Apenas um insubordinado consegue prejudicar o rendimento de uma turma de quarenta alunos e o trabalho do sacrificado professor.

Certo é que, depois da notícia transmitida pelo dirigente, os receios não se abateram sobre mim, uma vez que não sou de andar por aí tendo medo de qualquer firula. O problema é que, enquanto pagador de impostos altíssimos, sinto-me na obrigação de representar, aqui, alguns dos meus pares e requerer do dito Estado de direito todas as garantias de segurança, para que nós possamos levar o nosso trabalho a bom termo. Não vou azeitar as armas que eu não tenho. Não vou contratar uma cabroeira, que está disposta a intervir, por não achar necessário responder violência com valentia. Seria até fácil usar este tipo de expediente atirando ao léu trinta moedas de ouro.

Ademais, para efeito de ilustração das palavras aqui apostas, lembro-me que, há uns três anos, o pai de um aluno invadiu a escola e quis agredir fisicamente um professor de língua portuguesa que trabalha pela manhã. Um exemplo monstruoso para os alunos. Há pouco mais de um ano, vi escrito em algumas carteiras uma mensagem segundo a qual nós vamos matar a professora Graça Fadul. Na mesma época, o professor de matemática do matutino registrou queixa no distrito policial por ter sido agredido. Agora, muitos professores são violentados nos seus direitos à segurança e sentem ser chegada a hora de arranjar profissão que não lhes coloque à mercê de tantos riscos.

Um dos alunos musculosos perguntou, no mês passado, se o professor de matemática do noturno não tinha medo de morrer. A coordenadora pedagógica foi ameaçada fisicamente. A outra está morrendo de medo. A pequenina professora de história está sendo desafiada a manter-se em sala de aula sem recuar, sem cair, sem tremer. Alguns professores mais velhos se aposentaram ou se licenciaram por não mais suportarem as vicissitudes de um tempo dividido entre os estudiosos e os insubordinados que prejudicam, simplesmente, a comunidade como um todo.  

Ponderemos, então. A Secretaria de Educação tem, já, as fórmulas para remediar situações como esta. Eles podem contar com um pequeno grupo de patrulheiros escolares da Polícia Militar que passa a cada dois meses nas escolas. Todavia, havemos de convir que as delegacias de polícia funcionam vinte e quatro horas, o que é altamente alentador. É também muito fácil registrar um boletim de ocorrência com endereços que podem ser fornecidos pela própria escola onde os vândalos abundam.

Daí, cá de minha parte, penso que o passo seguinte e mais sensato será requerer um salvo conduto de Sua Senhoria, o Senhor Delegado de Polícia, e qualquer dano que ocorra a mim ou ao meu automóvel (um bem sob a guarda do Estado, posto que pago impostos) terá como responsabilizados, na forma da lei, alguns alunos maiores de idade que se enchem de músculos nas academias com o objetivo único de amedrontar os professores mais novos que, no mais das vezes, arrependem-se da profissão que escolheram, como aquela mestra decepcionadíssima que, aos prantos, foi socorrida pelo jornalista Rutemberg Crispim quando, na banca de jornal, buscava um daqueles manuais que aprovam qualquer um em qualquer concurso público, desde que o esforço seja a tônica do candidato.

Recorrendo e uma crônica de minha lavra, reafirmo que a melhor nova cultura de paz que poderíamos instalar nas escolas é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade, para o bem geral da Nação progressista que deve estar na cabeça e nos planos futuros de cada um, inclusive, dentre os mais determinados. Por Deus!

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