Minha vivência de 23 anos como radialista numa cidadezinha como Xapuri me ensinou que apesar de muito prazeroso e gratificante pela maioria das circunstâncias, especialmente pela relação de carinho e amizade que o profissional adquire junto ao seu público, o ofício se faz também detestado e antipatizado por outras em que o trabalho jornalístico passa a ser visto com maus olhos por aqueles que, subitamente, se vejam como personagens de uma história cuja repercussão lhes negativa ou desabonadora.
Não considero que tenha inimigos, mas a maioria dos problemas de relacionamento humano que tive na vida foram resultado do meu trabalho como radialista. Infeliz e mesquinhamente, as pessoas gostam de ouvir no rádio a desgraça alheia, a má notícia que envolve o fulano ou o beltrano, mas quando o infortúnio transformado em informação recai sobre sua árvore genealógica, aí o mundo desaba e querem que a emissora de rádio pegue fogo e que o radialista arda nas chamas do inferno para toda a eternidade.
Não achando bastante a realidade descrita acima, resolvi me tornar blogueiro. E ser blogueiro é infinitamente pior que ser radialista. Blogueiro é como juiz de futebol, tem a mãe mais xingada do mundo. Ser blogueiro-radialista então foi a gota que faltava para me tornar alvo de uma série de situações desconfortáveis, constrangedoras e até mesmo deprimentes, uma vez que a caixa de comentários do blog se tornou uma espécie de penico ambulante onde os covardes da cidade atiram seus dejetos morais em forma de agressão e xingamento.
O pior de tudo é que as agressões não ficam no âmbito da atuação profissional, mas invadem a vida pessoal do indivíduo causando, por mais preparado que o sujeito seja para situações como essas, um sentimento de revolta e desânimo. Em grande parte dos ataques anônimos é possível suspeitar, mas não comprovar, infelizmente, de onde parte a baixaria cujo objetivo não é outro senão intimidar e desqualificar moralmente.
Foi por essa razão e também por outras que estive perto de finalizar as atualizações neste blog no último mês, quando a página foi atingida por um programa malicioso que fez com que as visitas caíssem em mais de dois terços. Pensei em aproveitar a oportunidade para encerrar a inglória carreira de blogueiro, que, apesar do prazer que oferece, também atiça a sanha covarde de um punhado de pústulas que não conta com o mínimo de escrúpulos.
Mas não são apenas as ofensas e ataques recebidos pela internet que causam desgosto ao blogueiro. As manifestações de reprovação e desagrado recebidas de pessoas que se sentem ofendidas por opiniões ou informações postadas no blog são as que mais causam tristezas e reflexões sobre se vale mesmo a pena, vivendo em um pequeno povoado perdido no meio de pastagens, mexer com um instrumento que causa tanta repercussão e polêmica como é o caso de uma simples e modesta página como esta.
É dura a vida de blogueiro. O vagabundo da periferia vende drogas, é preso, todo mundo corre ao blog para ver a cara do sujeito, saber quantos quilos foram apreendidos, especular os possíveis envolvidos, se deliciar com a desgraça do sujeito. O filho do funcionário público resolve fazer o mesmo que o vagabundo da periferia, é pego com a mão na massa, o blogueiro divulga e se transforma no capeta. Duas semanas depois o malandro sai da cadeia, passa de carro pelo blogueiro e lhe dá uma encarada que é um misto de deboche com ameaça velada.
O político não atua, não tem noção do papel que deve exercer no cargo para o qual foi eleito, o blogueiro critica e em vez de ser questionado, respondido ou até mesmo desmentido, se for o caso, é processado judicialmente. Safando-se na justiça é acossado no campo sagrado de sua atividade profissional, que nada tem a ver (ou pelo menos não deveria ter) com as opiniões que o mesmo emite como cidadão pagador de impostos. Refiro-me ao caso do ex-blogueiro Eden Mota, mas que poderia ser o meu também, como deixou claro em juízo um certo vereador.
Como já disse meu velho e bom amigo Eduardo de Souza, “numa terra mui distante, habitada por sofridos aldeões, dizer o óbvio era muito arriscado”. Aqui, como lá, ser blogueiro realmente não é fácil, é um trabalho árduo, quase insano, cujo retorno é o amor e o ódio em variadas proporções. Mas, afinal, o amor e o ódio não são os sentimentos que movem a humanidade? Então não há motivo para recuar, mas sim para seguir em frente “repetindo os comentários gerais e óbvios, mesmo que por isso sejamos multado em vários dinheiros”.
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