sábado, 20 de junho de 2009

Fuso horário: pressão popular faz Virgílio recuar

Cristiane Agostine, do Valor Econômico

Preocupado com seu desempenho eleitoral em 2010, quando tentará um novo mandato como senador, Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado, poderá retirar o projeto de lei de sua autoria para unificar o horário no país. O senador recebeu dezenas de telefonemas e e-mails com reclamações de moradores de seu Estado e teme perder votos nos municípios amazonenses.

Um dia antes de afirmar que poderá recuar, Arthur Virgílio explicitou o benefício econômico que o Norte e o Centro-Oeste poderão ter com um único horário nacional. " Meu principal argumento é econômico. Vai possibilitar maior integração entre os Estados " , disse, na quarta-feira, completando em seguida que a população logo se acostumaria à mudança. Ontem, depois de receber críticas, o senador comentou que a proposta não foi bem recebida em cidades do Amazonas e destacou que a mudança nos costumes pode ser negativa. " Agora meus argumentos são mais humanos que econômicos e se as críticas continuarem, posso retirar o projeto. "

O projeto, de sua autoria, prevê o fim da diferença de horário no Amazonas, Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Roraima -uma hora a menos em relação ao horário de Brasília - e Fernando de Noronha - uma hora a mais. A proposta foi aprovada na terça-feira na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e estava prevista para ser debatida ontem na Comissão de Relações Exteriores, mas foi adiada.

Empresários dos Estados que serão afetados pela mudança concordaram com o senador tucano e argumentaram que, do ponto de vista econômico, a unificação pode ser positiva, ao facilitar transações comerciais, aplicações financeiras, compensação de cheques e operações na Bolsa de Valores. Mas ressaltaram que o impacto social será grande. Ontem, Arthur Virgílio relatou que amazonenses estão preocupados com o aumento da violência, já que estudantes e trabalhadores iniciarão suas rotinas antes do nascer do sol, caso haja a modificação no horário.

A discussão de um projeto que modifica a vida de milhares de pessoas em seis Estados poderá ter reflexos nas urnas nas eleições de 2010. O mandato de Arthur Virgílio termina em janeiro de 2011 e no próximo ano disputará um novo mandato. Na última eleição de que participou, o tucano viu sua votação diminuir no Amazonas. Em 2002, obteve 608,7 mil votos, 29,4% dos votos válidos, na disputa pelo Senado. Quatro anos depois, quando concorreu ao governo do Estado, sua votação caiu para 74,9 mil votos, 5,5% dos votos válidos.

Há resistência entre os senadores sobre o projeto, como resumiu Cristovam Buarque (PDT-DF): " O que se ganha na unificação do horário se perde na qualidade de vida " , disse. " Do tamanho que é o Brasil é um absurdo ter um horário só. Pode prejudicar a vida das pessoas " . Para Buarque, os meios de comunicação seriam beneficiados com a proposta, para não terem que alterar a grade de programação nos Estados. Por conta da classificação indicativa, emissoras de televisão tiveram de adequar os programas aos horários nas diferentes regiões.

A Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert) disse que a unificação do horário pode ser um " avanço para o telespectador " , mas o assunto não é " prioritário " para a entidade, nem lobby das emissoras de televisão, segundo o assessor jurídico da associação, Rodolfo Moura.

A expectativa do senador tucano é que seu projeto de lei seja alterado com a emenda de Tião Viana (PT-AC), na Comissão de Relações Exteriores, para que todos os Estados sigam o horário vigente no Acre (uma hora a menos do que em Brasília).

O impacto negativo com a emenda de Tião Viana poderá ser sentido nos demais Estados do país, mas Viana argumentou que a emenda permitiria que o cotidiano da população dos seis Estados ficasse estável e pouco interferiria na rotina do restante do país. " Não vai afetar a saúde de ninguém essa mudança. A mudança de horário é uma tendência mundial e foi adotada em diversos países " , comentou Viana. O senador petista é o autor do projeto de lei que, em 2008, diminuiu de duas para uma hora a diferença de fuso horário no Norte, que seguia convenção internacional sobre o fuso.

Senadores temem que aumente o consumo de energia elétrica, se Estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro passem a usar o mesmo horário do Amazonas. Entidades do setor energético, como a Agência Nacional de Energia Elétrica e a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica ainda não têm estudos sobre um possível aumento de gastos com a alteração.

O debate do projeto pode ser adiado para depois do recesso parlamentar, em julho. Depois de aprovado na Comissão de Relações Exteriores, irá para a Câmara.

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