segunda-feira, 15 de junho de 2009

Caçando passarinhos

Luciano Pires

“Vou caçar passarinho!”. Quando eu era criança lá em Bauru, quarenta anos atrás, todo garoto andava com seu estilingue ou sonhava com uma espingardinha de chumbo pra matar passarinhos. Não é um absurdo?

Nossa consciência sobre a proteção ao meio ambiente é cada vez mais forte e isso é bom, muito bom. Quem agride o meio ambiente está cada vez mais isolado e exposto à identificação e punição. O cerco vai apertando. E isso também é bom, muito bom. Essa consciência vem do amadurecimento da sociedade, alimentado pela pregação dos ambientalistas que começou lá com o “salvem as baleias” e hoje está presente em todos os momentos de nossas vidas. É verdade que falta muito, mas a nova geração que vem aí é muito mais responsável que a anterior.

Duvida? Experimente dizer a uma criança que você vai matar um passarinho...

Muito bem. Pregar para as crianças, abraçar árvores, fazer filmes, dar a entrevistas, escrever artigos, tudo isso é muito bom e necessário. Mas quem é que realmente tem o poder – e a responsabilidade - de sair da pregação para realizar ações concretas para mudar a realidade?

Veja um exemplo simplório: há muitos anos as equipes da Fórmula Um distribuem seus “press releases” compostos de seis folhas A4, para cerca de 300 jornalistas a cada final de semana. Recentemente os assessores de imprensa da equipe McLaren concluíram que num mundo onde os arquivos eletrônicos são lidos por todos, não há sentido em usar folhas de papel. E decidiram distribuir seus releases eletronicamente. Que legal, né? Todos gostaram da idéia, menos um jornalista, o veterano Dan Knutson, que insistiu em receber a versão impressa.

Como ninguém gosta de atritos com jornalistas, a McLaren passou a entregar-lhe o material impresso com o seguinte título: “Versão análoga para Dan Knutson”. No final do release está impresso: “Nós derrubamos uma árvore para poder entregar esta versão impressa para o jornalista mencionado anteriormente”.

Os executivos da McLaren fizeram mais que a pregação, usando seu poder para realizar uma ação efetiva, simples e direta. Economizaram cerca de 20 mil folhas de papel por ano e deixaram Mr. Knutson sujo na área...

Uma ação efetiva, transformando a pregação em resultados.

Antes que venham as pedradas: uma coisa não elimina a outra. A pregação é necessária. Mas me parece que temos pregadores demais. Todos querem salvar as baleias, mas não conseguem praticar pequenas ações táticas como a da McLaren.

Sabe o que é? É que essas pequenas ações não rendem mídia. Não são violentas. Não tem sangue. Não assustam as pessoas com a possibilidade de um dia serem cozidas pelo sol. Não têm o charme de um “abraço à represa”.

A pregação é muito mais legal que a ação.

Pois reflita sobre o seu poder de implementar ações simples, calcadas em atitudes, usando o conhecimento que está ao alcance de todos para provocar pequenas mudanças. São elas que – juntas – podem mudar a realidade.

Luciano Pires é jornalista.

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