terça-feira, 12 de julho de 2011

Uma cidade em crise

Altino Machado, do Blog da Amazônia.

Localizada a 188 quilômetros de Rio Branco, Xapuri tem pouco mais de 14 mil habitantes. Por causa de Chico Mendes, virou símbolo do movimento ambientalista, mas o cenário de pobreza e desemprego permanece inalterado.

De meca do socioambientalismo, Xapuri atualmente é a expressão do atraso e da estagnação econômica na periferia da Amazônia. A sua população, descontente e descrente com os governos, é só lamentação.

Aqui não há trabalho, não há emprego, não há nada para fazer, todos estão indo embora. Os turistas sumiram e o governo parece que nem temos mais. É esse basicamente o rosário de lamentos que se ouve dos moradores.

Xapuri representa a contradição de uma política econômica de construção e adaptação do território para projetos alheios aos interesses da maior parte da comunidade que nela reside.

Nos últimos 12 anos, os governos do PT em âmbito estadual e municipal viabilizaram a instalação de novas infraestruturas na cidade –vide o Pólo Moveleiro, a Fábrica de Camisinhas e a Fábrica de Taco– com vistas a tornar a região apta e competitiva para um mercado de trabalho e produção moderno, amparado por uma estratégica ideologia ambientalista.

No entanto, esta ação já acontece como processo de modernização em crise. Os projetos na área não são orientados para as necessidades próprias do lugar, resultando numa situação antagônica: de um lado, ações e agentes impõem um uso corporativo do território endereçado às lógicas externas, e, de outro lado, os agentes locais realizam atividades simples voltadas para os interesses próprios do lugar.

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Dona Cármen Veloso, de 90 anos, é a doceira mais famosa de Xapuri. Vive da aposentaria e da venda de mariolas, cocadas, biscoitos de goma, cajuína, broas e de licores de variados sabores de frutas tropicais. Ela não hesita quando indagada se a vida em Xapuri mudou após o assassinato de Chico Mendes e das gestões do PT na prefeitura.

- Xapuri está uma merda. Meu único cliente é o João Soares. Ele paga R$ 200,00 pelo café e almoço, metade a cada quinze dias, para que eu tenha condições de garantir a comida na mesa - afirma.

A população realmente não reconhece melhorias na cidade, como a instalação e funcionamento das fábricas.

- O que é gerado por elas vai tudo pra fora. Elas empregam pouca gente e levam as nossas riquezas naturais. Quero ver o que será de nós quando nossos bens naturais acabarem, quando não existir mais madeira aqui - avalia o morador João Soares, o único cliente da pensão da dona Cármen.

Xapuri está sendo administrada pela segunda vez por um prefeito petista, Ubiracy Vasconcelos. O primeiro foi Júlio Barbosa, por dois mandatos, de 1997 a 2004.

Ex-companheiro de Chico Mendes na presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, a gestão de Júlio Barbosa é considerada um desastre.

O ex-prefeito foi condenado pelo Tribunal de Contas do Estado, perdeu os direitos políticos e se notabilizou por se dedicar mais às viagens e pescarias em rios e igarapés da região.

Com o prefeito Ubiracy Vasconcelos não está sendo diferente. A população reclama de sua ausência constante da cidade. A reportagem tentou entrevistá-lo em vão.

- Estamos fazendo de tudo para não incomodar o prefeito. Ele está na capital porque o pai dele adoeceu. Quando pode, vem a Xapuri rapidinho. Quando não pode, enviamos para Rio Branco os documentos que necessitam da assinatura dele - explicou o assessor de imprensa da prefeitura Haroldo Sarkis.

Xapuri, conhecida no Estado com o apelido de Princesinha do Acre, é berço de gente tão famosa quanto Chico Mendes: o médico Adib Jatene, o ex-ministro Jarbas Passarinho e o falecido jornalista Armando Nogueira.

Altino Machado é jornalista, ex-repórter dos jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo. Atualmente escreve o Blog da Amazônia, do portal Terra Magazine. Ele esteve em Xapuri no último final de semana.

Um comentário:

Eden disse...

E depois dizem que eu não tenho razão.