quarta-feira, 13 de julho de 2011

Minha opinião

Recebi vários comentários, na maioria impublicáveis, infelizmente, sobre os dois últimos textos postados neste blog: Uma cidade em crise, de autoria do jornalista Altino Machado, e Reflexões sobre Xapuri (título meu), do professor de economia Carlos Estevão Castelo, que na verdade foi um comentário feito pelo xapuriense à postagem original de Altino em seu blog e destacado aqui por este blogueiro que vos escreve.  

E uma coisa que chama a minha atenção como blogueiro é a falta de disposição, para não dizer de capacidade, que as pessoas de Xapuri demonstram para debater com seriedade assuntos tão importantes para o município e para todos nós como os que foram abordados pelos dois autores. De dezenas de comentários recebidos, pude apenas selecionar uma meia dúzia deles que não estivessem eivados de termos ofensivos e vulgares. E vejam que o blog tem uma média de quase 500 acessos únicos por dia.

Quando se discute sobre a situação de Xapuri, que tem sido sempre a mesma no decorrer das últimas décadas, independentemente de quem está no poder, embarco na opinião de alguns comentaristas sérios de que um dos principais fatores para a mudança dessa realidade está exatamente na falta de participação do próprio povo. Não se faz outra coisa senão apontar problemas, eleger os responsáveis por eles, “baixar o pau” pelas esquinas ou se esconder no anonimato.

O leitor Paolo Almeida comenta que na prática ninguém reage, não se mobiliza, não reúne. “Só apontar o que todo nós sabemos fica taxativo, repetitivo e não resolve nada”, diz ele. O próprio Carlos Estevão pensa que a situação atual não é de responsabilidade de Bira ou de outros prefeitos isoladamente. Segundo ele, a sociedade está acomodada e só espera pelos políticos. E ponto.

Meu grande amigo e colega de profissão Leônidas Badaró diz que mais do que discutir os possíveis erros da atual administração, equívocos na condução administrativa, nomes que podem surgir como futuros candidatos ao cargo de prefeito, o mais importante pra Xapuri, neste momento, é discutir a letargia em que se encontra a nossa sociedade.

Eles estão certos ou errados?

Para mim estão cobertos de razão. A manifestação séria e responsável do pensamento acerca da nossa realidade política, mesmo que em forma de crítica ácida contra a atuação dos responsáveis pela condução dos destinos do município, contribui para a formação de uma opinião abalizada, como diria o inesquecível Wando Barros, que fuja do vesgo senso comum para servir como uma espécie de termômetro da sociedade e como subsídio para as ações do prefeito e dos vereadores. É o que penso.

Sobre os argumentos de Altino e Carlos Estevão, eles não estão 100% corretos, é claro; mas é evidente também que estão carregados daquilo que o povo pensa e diz ou somente imagina. Xapuri está uma merda, como afirmou dona Cármen Veloso? Para mim, não, mas a expressão corajosa da nonagenária reflete a opinião da grande parte da população, seja com essas ou com outras palavras, em razão da estagnação e da falta de esperança e de crédito nos governos que se sucedem.

Altino Machado afirmou que as fábricas instaladas em Xapuri não modificaram a realidade econômica do município. Considero isso, em parte, uma verdade, pelos mesmos argumentos nos quais ele sustentou a afirmação. Por outro lado, temos que admitir que a situação de desemprego em Xapuri estava muito pior antes dos quase 400 empregos que elas estão gerando diretamente, a despeito da forma obscura, em minha opinião, como as relações de trabalhos são tratadas nessas indústrias.

Carlos Estevão afirmou que o comércio de Xapuri está falido e que o crescimento quantitativo de casas comerciais não representa desenvolvimento, assim como crescimento econômico não é igual a desenvolvimento econômico, coisa de economista bom como ele é. Mas quem vive a rotina da cidade sabe que o comércio local não vai tão mal assim, com lojas sendo abertas e ampliadas do dia para a noite e com muitos empresários experimentando da expansão de seus negócios. Se isso não representa desenvolvimento, acredito que algo positivo deva significar.

Mas voltando ao tema principal deste post, que é a importância da participação da população na discussão dos assuntos relacionados à vida política e administrativa de Xapuri, encerro usando novamente as palavras de Leônidas Badaró, quando afirma que é preciso fazer com que a população volte a se interessar pela discussão da retomada do crescimento xapuriense.

“As boas ações, seja de quem for, nunca serão suficientes se não tivermos o envolvimento da sociedade. É lógico que essa letargia não é culpa do povo xapuriense, é reflexo das desastrosas administração ao longo dos últimos anos. O que precisamos pensar, discutir, rediscutir e focar é: jamais, nunca, de forma alguma podemos nos contentar com o ‘menos ruim’. Seja ele quem for”, filosofa o bom xapuriense.

Um comentário:

xapuriense disse...

Belo texto Raimari. Acho que você sintetizou bem o debate entre os comentadores, como também apresentou seu ponto de vista.

Penso que o que escrevi alcançou o objetivo, ou seja, apontar algumas questões sobre nossa Xapuri que provocasse reflexões. Acho, inclusive, que provocou até mais do que eu esperava.

Afirmo-te que recebi várias manifestações positivas aqui na Capital, como também e-mails não muito "polidos". Então, aproveito para esclarecer através de seu espaço democrático alguns pontos:

a) Eu sou, apenas, um xapuriense que ama demais a velha princesa. Inclusive, em todos os lugares que ando nesse Brasil fazendo palestras, apresentando artigos, participando de simpósios e seminários, etc. Tenho um imenso orgulho em abrir minha fala com a seguinte frase: “Eu sou de Xapuri no Acre, e isso é muito importante...”

b) Não tenho nenhuma pretensão de me candidatar nada em Xapuri. Inclusive nem sou filiado a partidos. Nem tenho o perfil que a política profissional partidária atualmente exige. Minha meta atual é concluir meu doutoramento em História Social na USP. Tarefa que não está sendo fácil e que ocupará meu tempo até 2015.

d) Não morro em Xapuri por pura falta de opções de trabalho e estudo. A UFAC, infelizmente, ainda não tem um curso de Gradução ou Pós que seja regular no Município. Se tivesse, com certeza estaria morando e trabalhando ai. Tanto é assim que mesmo sem condições objetivas, aceitei o convite da UFAC para colaborar com as monografias dos alunos dai. Se fosse outro município eu negaria por falta de condições, mas como era Xapuri fui "pego" pelo coração.

e) Quando ao "bar na praça", queria afirmar que não tenho nada contra o dono, nem o conheço pessoalmente, apenas afirmei que a atividade no local que se encontra é totalmente irregular. Mas eu não sou Prefeito, Delegado, Juiz ou algo nessa linha e, principalmente não morro em Xapuri. Pois se eu residisse ai, como cidadão faria esforços para, na forma da Lei, retirar o bar do espaço público.

f) Nada tenho contra o Bira, ou qualquer outro nome citado em meus comentários. O que fiz, como já afirmado, foi repercutir o que escutei e observei na cidade por ocasião de minhas idas para orientar os alunos de Economia.

g) Quando a afirmação sobre o comércio. Me coloco à disposição para, quem sabe, fazermnos um debate com a participação de comerciantes, estudantes e demais interessados sobre o Tema. Veja, empreendedorismo é um assunto que tenho dedicado algum esforço de leitura atualmente.


Carlos Estevão Ferreira Castelo
Xapuriense
Professor Adjunto 3 da UFAC/CCJSA