domingo, 9 de novembro de 2008

Francisco Alves Mendes Filho



“Meu pai não deixou órfãos apenas eu e meus dois irmãos, ele deixou órfãos vários pais de família, várias famílias, várias pessoas que defendiam e defendem até hoje a floresta, que dependem dela para sobreviver”, desabafou Ângela Mendes, ao falar do legado do pai durante o lançamento do Prêmio Chico Mendes de Florestania, que aconteceu na última sexta-feira, 7, em solenidade na Biblioteca da Floresta Marina Silva.

“Ele lutava pelo bem-estar social, para que todos vivessem em harmonia. Ele sempre defendeu o cooperativismo, a união entre os povos. Essa é a causa que movia meu pai, sempre humilde, mesmo com os vários prêmios internacionais que recebeu", concluiu a presidente do Comitê Chico Mendes.

“O Prêmio Chico Mendes de Florestania é sempre um momento muito especial durante a Semana Chico Mendes, que acontece entre os dias 17 e 22 de dezembro”, disse Elenira Mendes, presidente do Instituto Chico Mendes. “Este ano eu vejo o formato do prêmio com muito mais energia do que nos anos anteriores, afinal, é uma homenagem alusiva aos 20 anos sem Chico. Em decorrência disso, teremos a oportunidade de homenagear vinte pessoas que caminharam com ele durante essa luta em defesa da Amazônia.”

O Prêmio Chico Mendes de Florestania, conferido anualmente pelo Governo do Estado do Acre, através da Fundação Elias Mansour, tem por finalidade reconhecer e estimular os programas, projetos, atividades e ações que têm como objetivo consolidar o conceito de florestania.

As indicações podem ser conferidas a pessoas físicas, maiores de 18 anos, ou jurídicas de direito privado com ou sem fins lucrativos, sociedades de fato, bem como instituições públicas ou privadas de pesquisas, que, além dos critérios mencionados, serão analisadas objetivamente nos quesitos efetividade, impacto social e ambiental, potencial de difusão, adesão e participação, e originalidade.

As candidaturas podem ser enviadas até o dia 1º de dezembro, através de remessa postal registrada e endereçada ao Prêmio Chico Mendes de Florestania, Fundação Elias Mansour, Rua Senador Eduardo Assmar, 1291, Segundo Distrito, Calçadão da Gameleira – CEP 69909-710, ou por ofício protocolado diretamente na sede da Fundação no mesmo endereço. Realização Governo do Estado/FEM.

Leia mais na Agência de Notícias do Acre.

Chico Mendes

Pobre e iletrado, o pai de Chico Mendes ganhava a vida extraindo látex das seringueiras na floresta amazônica. Aos nove anos, o garoto Francisco Alves Mendes Filho também entrou para a profissão de seringueiro: era sua única opção, já que lhe foi negada a oportunidade de estudar. Até 1970, os donos da terra nos seringais não permitiam a existência de escolas. Chico só foi aprender a ler aos 20 anos de idade.

Indignado com as condições de vida dos trabalhadores e dos moradores da região amazônica, tornou-se um líder do movimento de resistência pacífica. Defensor da floresta e dos direitos dos seringueiros, ele organizou os trabalhadores para protegerem o ambiente, suas casas e famílias contra a violência e a destruição dos fazendeiros, ganhando apoio internacional.

Fundou o movimento sindical no Acre em 1975, com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. Participando ativamente das lutas dos seringueiros para impedir desmatamentos, montou o Conselho Nacional de Seringalistas, uma organização não-governamental criada para defender as condições de vida e trabalho das comunidades que dependem da floresta.

Chico Mendes também atuou na luta pela posse da terra contra os grandes proprietários, algo impossível de se pensar na região amazônica até os dias de hoje. Dessa forma, entrou em conflito com os donos de madeireiras, de seringais e de fazendas de gado.

Participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, em 1977, e foi eleito vereador para a Câmara Municipal local, pelo MDB, único partido de oposição permitido pela ditadura militar que governava o país (1964-1985). Nessa época, Chico sofreu as primeiras ameaças de morte por parte dos fazendeiros. Ao mesmo tempo, começou a enfrentar vários problemas com seu próprio partido: o MDB não era solidário às suas lutas.

Em 1979, o vereador Chico Mendes lotou a Câmara Municipal com debates entre lideranças sindicais, populares e religiosas. Lembre-se: era tempo de ditadura militar. Foi acusado de subversão e passou por interrogatórios nada suaves. Foi torturado secretamente e, como estava sozinho nessa luta, não podia denunciar o fato, ou seria morto.

Foi assim, em busca de sustentação política, que decidiu ajudar a criar o Partido dos Trabalhadores (PT), tornando-se seu dirigente no Acre. Um ano depois de ser torturado, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, acusado de ter participado da morte de um fazendeiro na região que assassinara o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia.

Em 1982, tornou-se presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Xapuri e foi acusado de incitar posseiros à violência, mas foi absolvido por falta de provas.

Quando liderou o Encontro Nacional dos Seringueiros, em 1985, a luta dos seringueiros começou a ganhar repercussão nacional e internacional. Sua proposta de "União dos Povos da Floresta", apresentada na ocasião, pretendia unir os interesses de índios e seringueiros em defesa da floresta amazônica. Seu projeto incluía a criação de reservas extrativistas para preservar as áreas indígenas e a floresta, e a garantia de reforma agrária para beneficiar os seringueiros.

Transformado em símbolo da luta para defender a Amazônia e os povos da floresta, Chico Mendes recebeu a visita de membros da Unep (órgão do meio ambiente ligado à Organização das Nações Unidas), em Xapuri, em 1987. Lá, os inspetores viram a devastação da floresta e a expulsão dos seringueiros, tudo feito com dinheiro de projetos financiados por bancos internacionais.

Logo em seguida, o ambientalista e líder sindical foi convidado a fazer essas denúncias no Congresso norte-americano. O resultado dessa viagem a Washington foi imediato: em um mês, os financiamentos aos projetos de destruição da floresta foram suspensos. Chico foi acusado na imprensa por fazendeiros e políticos de prejudicar o "progresso do Estado do Acre".

Em contrapartida, recebeu vários prêmios e homenagens no Brasil e no mundo, como uma das pessoas de mais destaque na defesa da ecologia.

Casado com Ilzamar e pai de Sandino e Elenira, Chico realizaria alguns de seus sonhos, ao assistir à criação das primeiras reservas extrativistas no Acre. Também conseguiu a desapropriação do Seringal Cachoeira, de Darly Alves da Silva, em Xapuri. Foi quando as ameaças de morte se tornaram mais freqüentes: Chico denunciou o fato às autoridades, deu nomes e pediu proteção policial. Nada conseguiu.

Pouco mais de um ano após sua ida ao Senado dos Estados Unidos, o ativista acabava de completar 44 anos quando foi assassinado na porta de sua casa. Em 1990, o fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho, Darci, foram julgados e condenados a 19 anos de prisão, pela morte de Chico Mendes.

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