Rubens Menezes de Santana
Este é o Morro do Arroz sem Sal, também conhecido como Terra Alta, que fica localizado no Pólo Agroflorestal da Sibéria, em Xapuri. Contando o tempo da travessia por catraia, não se gasta mais que uma hora de caminhada até o seu topo.
Deste ponto tem-se uma visão panorâmica de todo o entorno de Xapuri e também deve apresentar um bom close de toda sua parte urbana, o que não foi possível comprovar.
O local é acessado por uma estradinha de terra que atualmente serve para a retirada de piçarra, o que causou enorme ferida em sua encosta, o que potencializa a ação de agentes da erosão, principalmente o escoamento superficial.
A densa cobertura vegetal acompanha a declividade e as copas das árvores formam uma intrincada parede de folhas e galhos que impedem a visão da cidade esparramada logo abaixo: viva, pulsante, próxima, mas uma ignora o outro. Poucas pessoas sabem da existência, tão próxima e estratégica do morro.
Esta é a imagem possível de capturar, sob estas condições. Mesmo assim, foram tomadas de seu terço inferior e valendo-se dos galhos mais altos de um cajueiro enorme.
Para uma espiadela mais panorâmica, apenas se algum desatinado promovesse um corte rasante que podasse as copas das árvores mais altas. A alternativa seria erguer uma torre com plataforma de observação a altura de uns 5 ou 6 metros, no topo do morro. Duas ou três lunetas sobre bases giratórias. Tá pronto o mirante.
Consegue imaginar o sol se pondo por trás das colinas da Sibéria em direção ao rio Xapuri? Ou os últimos raios de sol batendo sobre a cidade? Aguardar a substituição da luz solar pela escuridão e, aos poucos, as luzes das casas transformarem-se em estrelas caídas?
Neste mesmo local, ainda se pode pensar em arvorismo, descidas através de tirolesas e trilhas ecológicas. Tudo isto, ao alcance de uma travessia de rio. Após a construção da ponte, que, comenta-se, ocorreria a partir da rua Sadalla Koury, o usuário, após a travessia, estaria ao sopé do morro.
Uma pequena estrutura para cobrança de ingressos para a manutenção do complexo – de quem não está equipado, cobra-se pelo uso de binóculos - boa lanchonete e treinamento de operadores, guias e recepcionistas, e uma melhoria infraestrutural de pequena monta para o acesso. O restante do investimento seria feito na divulgação e publicidade.
E ainda geraria emprego e renda. Problemas crônicos de Xapuri, que fazem deste, um dos poucos municípios do Acre em que a população é praticamente a mesma há 30 anos.
Não há, em nenhuma cidade onde se explore o turismo, local de visitação gratuita e como não temos a paisagem de Cuzco diante da qual as pessoas ficam embasbacadas – sem se falar sobre as ruínas incas – precisamos observar o que temos de diferente e particular. Poucas cidades têm um mirante em posição tão favorável quanto Xapuri. Muitas os têm, mas em posições mais distanciadas.
Outros locais podem ser elencados como potenciais atrativos turísticos: as cachoeiras do rio Xapuri, acessíveis pelo ramal Guanabara e daí uma descida em barcos de uma área praticamente inexplorada até Xapuri, que demoraria um dia, propícia aos amantes da natureza e turismo de aventura. O local de apoio e início da aventura demandaria uma estrutura bem rústica tipo dormitório coletivo e culinária seringueira para acumular energia e resistir à longa descida pelo rio.
Apenas para esta atividade é necessário permanecer na cidade por dois dias, no mínimo. Ainda se pode pensar na pesca amadora quando, após pescado, o peixe é devolvido à água. O dano é zero aos estoques de proteínas das comunidades locais, visto que somente fotografias seriam tiradas da área e dos peixes.
Para esta atividade o visitante demandaria o mínimo de três dias.
Além disto, há que se divulgar para além de Xapuri, a romaria de São João do Guarani. Atualmente facilitada pela boa trafegabilidade do ramal, poderia ser incentivada a antiga tradição de se fazer o percurso a pé com pousos nas diversas colocações de seringueiros. Raimundo Barros está no itinerário e seria interessante uma boa conversa, à noite, sobre o movimento seringueiro liderado por ele mesmo juntamente com seu famoso primo Chico Mendes.
A uma distância aproximada de 10 km e por ramal de boa base de chão, acessa-se o igarapé Morro Branco, que deságua no rio Acre em terras pertencentes ao antigo seringal Albrácia. Segundo informações, apresenta-se bem preservado, tem bom volume d’águas limpas e que se pode utilizar para a instalação de um balneário com quiosques e parque com trilhas ecológicas.
A restauração do Ponto Chic é uma ideia que toma força, e já despertou a atenção do deputado Sibá Machado e do Senador Aníbal Diniz. Não pela intervenção em sua estrutura física, mas pelo que pode englobar de atividades culturais. Pensa-se em tornar este ambiente, outrora destinado às famílias mais abastadas, num espaço de inclusão social que abrigue escola de música, bailes, teatro, centro de convenções, solenidades, reuniões, simpósios, exposições, museu, fototeca e o que mais se pense em termos de cultura xapuriense, tais como cursos de culinária, para resgate e divulgação dos pratos típicos de Xapuri. Hoje, poucas pessoas conhecem nossos doces como o filhós e a brevidade.
À entrada do restaurado espaço, que se vendam ingressos; o espaço precisa ter sustentabilidade, e isto implica em custos.
Pode ser utilizado para exposição de nossos produtos que vivem numa semi-clandestinidade, quase secretos, como a cajuína, o aluá de milho e os licores. Apenas os afortunados têm acessos a estas bebidas. É preciso apresentar alternativas à onipresente coca-cola. Nossas guloseimas estão restritas às cozinhas das poucas pessoas que ainda as sabem produzir.
Os restaurantes também poderiam oferecer nossos licores como degustação ente o almoço e o cafezinho. O único risco daí decorrente é o freguês comprar um litro de licor e levar pra casa como um troféu. Mas é preciso divulgar e expor. Quem quer vender, não oculta seu produto.
Necessitamos, enfim, de um calendário de eventos a ser divulgado nas outras cidades e que faça parte de um catálogo cultural do Estado do Acre, por meio da Secretaria de Turismo.
Xapuri dista da capital, Rio Branco, em torno dos 180 km, o que a coloca num ponto ideal pra a captação de turistas internos, pois fica perto de Rio Branco - mercado potencial por excelência - o bastante para ser alcançada por estrada relativamente bem conservada, porém, distante o suficiente pra desestimular por cansaço, prudência e/ou excessos, a tentativa de retorno no mesmo dia, embora não impossível.
Para ajudá-los a decidir-se por permanecer, precisamos oferecer-lhes um leque de opções de atividades que lhes preencham o dia e os deixem tão cansados ao ponto de não lhes passar, nem mesmo fugazmente, a ideia de pegar a estrada e voltar pra suas casas. O único desejo deverá ser o de uma boa cama pra dormir e descansar.
Xapuri já é um nome com forte atração sobre o turista, mas não dá prá ficarmos esperando que apenas a visitação à casa de Chico Mendes e a seu túmulo, seja capaz de fazer um visitante ou turista passar mais que uma hora na cidade. Isto é tempo apenas pra ele gastar dinheiro com o reabastecimento de seu veículo e uma garrafinha d’água, no máximo. Precisamos oferecer atividades que lhes prendam a atenção e ocupem seu tempo de maneira prazerosa. Apenas pra beber cerveja ou ficar à frente da TV, o turista potencial fica em casa mesmo e a custo zero.
Não podemos desconsiderar que já houve a visita de uma equipe do Ministério do Turismo na busca de se estabelecer a inclusão do Acre na rota do turismo internacional, através do projeto Caminhos de Chico Mendes que envolverá também Brasiléia.
Já acontece muita movimentação de pessoas que visitam a Cuzco através da Rodovia Transoceânica.
E nós vamos deixar os turistas passarem lá fora, no Entroncamento?! Vamos pelo menos convidá-los a entrar, como bons anfitriões descendentes de nordestinos.
O xapuriense, Rubens Santana, o Rubinho, é professor universitário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário