sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Prefeitos meninos mínimos

José Cláudio Mota Porfiro

Basta um mínimo de discernimento e qualquer cidadão que consiga ver um palmo adiante do nariz rombudo observará que, para cada segmento da estrutura governamental, há sempre uma série de gargalos e problemas de fáceis soluções. Mas o nobre deputado não consegue ver. O pequeno edil tropeça nas pernas. Sua Excelência, o senhor prefeito, então, é muito pior porque tem formação intelectual ainda mais capenga e não vai além das mesuras que podem ser feitas para o agrado de apenas alguns munícipes.

Pisar-em-ovos

Fui instado a colaborar por quem de direito. Todavia, antes, é conve-niente ir ao âmago do problema e analisá-lo na sua real dimensão. Depois, as soluções aparecerão como num passe de mágica. Mas esta não é uma tábua de mandamentos. Apenas rumos bem interessantes aqui são apontados, inclusive, para os dignificados doutos da Justiça Eleitoral.

É claro que há, dentre os prefeitos acreanos, uma professora com nível superior, um economista de renome nacional e um doutor em humanidades. Quanto aos demais, é oportuno observar que, mesmo a vinda dos palestrantes das fundações  -  Teotônio Vilela, Perseu Abramo, dentre outras  -  encarregadas da formação dos políticos sem lastro não surte resultado, porque o que é dito nos cursos entra por um ouvido e sai pelo outro. Ademais, os participantes estão imersos na penumbra da desinformação, nada entendem porque o nível é alto demais, ou porque a conversa é intensa com o objetivo de, depois, dizerem que os temas mais importantes não foram tratados e por isso eles se dão ao direito de errar.

Na grande maioria dos casos, os prefeitos das cidades do Acre, notadamente as menores, são rapazinhos de pouca instrução, pretensiosos e empavonados, como príncipes de pequenos reinos, onde o rei é o pai e a população de súditos boquiabertos não chega a cinco mil almas. Ambos entendem muito de politiquice, politicalha, maledicência e fuxico. Nada entendem dos conceitos e práticas da política propriamente dita. Também ninguém lhes ensina nada.

Incômodo é notar que, em primeiro lugar, surge-lhes na mente o aprendizado de uma prática terrível em muitos dos casos herdada do papai também politiquinho. Eles aprendem o lado ruim do pior dos aspectos da política partidária, esta, certamente, um mal, mas um mal necessário. Os prefeitos meninos tentam dialogar consigo próprios e querem dizer que estão muito acima da sua mediocridade semi-alfabetizada. Eles não observam que a política que não é nociva é a que trata do bem-estar do ser humano. E só.

Se me viro para um lado da estrutura administrativa de um município, vejo que as políticas educacionais, por exemplo, se levadas a bom termo, colocam a merenda escolar de qualidade no cardápio diário dos alunos, promovem o dia letivo integral, adquirem livros que ensinam caminhos, pagam salários dignos e compram equipamentos e novas tecnologias facilitadoras do ensino fundamental, principalmente.

Se olho para o outro lado, percebo que as políticas públicas orientadas para a solução dos problemas da produção de alimentos levam, inclusive, o resultado do trabalho agrícola para as escolas que terão alunos melhor alimentados. Estes aprenderão muito mais e irão bem menos aos postos de saúde, dentre outros fatores extremamente positivos.

Alunos mais estudiosos darão menos trabalho aos que fazem as políticas de segurança pública. A maior parte deles preferirá frequentar um ginásio de esportes  -  com bons professores de educação física, é claro - a afugentar-se no perigoso mundo das drogas.

Se a preocupação do administrador voltar-se para a construção de estradas vicinais, os caminhos das escolas serão menos penosos, os agentes da saúde preventiva chegarão mais facilmente às vivendas dos agricultores mais distantes, estes não terão a necessidade das visitas freqüentes aos postos de saúde, a produção agrícola será escoada em menos tempo, e assim por diante.

E o que se vê?

Incluam-se, aqui, também as cidades maiores. As obras mais concretas cabem apenas aos esforços hercúleos do Governo do Estado que, na superior maioria dos casos, não pode contar com as prefeituras municipais por pura inépcia destas. Felizmente, as secretarias de estado podem confiar em equipes formadas por técnicos de formação esmerada que partem das teorias densas e chegam a uma prática favorável através de projetos exeqüíveis, para o bem de todos, como deve ser feito. (Felizmente, enquanto um cidadão de bons propósitos e perfeitamente saudável do juízo, não posso deixar de ver o trabalho que vem sendo feito em todas as áreas da administração pública. Eu não sou cego e a senhora, minha leitora, também não é!)

No Acre, são ainda conhecidos casos de cidadãos ou pseudo-cidadãos que, por não terem uma ocupação definida, um ofício, uma profissão, um diploma, passaram a fazer da política partidária uma arte, a arte de enganar o eleitor inculto e desinformado. Não sabendo fazer nada, o indivíduo  -  politicanalha  -  se especializa em mentir. O pai o colocou na escola e queria fazer dele um médico ou um advogado ou um engenheiro, mas o menino rude só conseguiu ser político enganador da fé pública. 

Desequilíbrio seria apontar os problemas e não demandar as soluções. Elas existem. Basta um pouco de discernimento (leitura, mesmo) por parte dos políticos menores e por parte dos que dizem garantir a sua formação, como as fundações acima mencionadas.

Interessante por demais é que a justiça eleitoral atente para uma solução bem plausível colocada em prática pela nossa Secretaria de Educação. Senão vejamos.

A explicação é apenas uma síntese do processo, é claro. Em rápidas palavras, o diretor de uma grande escola é como o prefeito de uma pequena cidade. Considere-se que o Colégio Estadual Barão do Rio Branco, por exemplo, matricula mais de dois mil alunos por ano. Para que o trabalho seja levado a bom termo, então, é preciso uma análise das competências e das capacidades dos que se candidatam ao cargo de dirigentes escolares.

Em um dado momento, os diretores de escolas passaram a ter a eleição garantida através do sufrágio universal, mas os eleitos nem sempre correspondiam às expectativas da comunidade escolar porque lhes faltava preparo, inclusive, para o trato com as finanças. Foi aí que surgiu a idéia segundo a qual um número qualquer de professores pode se candidatar a dirigente. Só que, antes, esses mesmos candidatos fazem um curso de um mês ou dois meses, parece-me, e, se aprovados é que colocarão os seus nomes para a disputa. Aqueles que têm as melhores notas têm as maiores chances. Em outros termos, como no adágio antigo, só se estabelece quem tem competência real e comprovada em curso intensivo, através de concurso teórico e por meio da concorrência legitimada pelo voto.

Mesmo que as comunidades do interior não tenham pessoas com preparo intelectual para um empreendimento de tamanha envergadura, outros indivíduos com alguma ligação com as cidades poderiam participar das três etapas da mesma forma como fazem os professores que se candidatam a diretores de escolas... E tudo seria feito, também, com os vereadores gulosos e com os apaixonados deputados estaduais completamente destituídos de razão, de tirocínio. Pura emoção.

Em verdade vos digo que a culpa é da vaidade que atinge tão somente os ignorantes que não sabem dominá-la. Aos que colocam e fazem bom uso dessa carapuça - autoridades, líderes mínimos e afins - devo repetir que um pedante continua sendo um homem que tem a digestão intelectual extremamente difícil.

Aí eu pergunto: quem lerá estas linhas tão surpreendentes? Eu, novamente, no domingo. Por Deus!

José Cláudio Mota Porfiro é xapuriense.

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