quinta-feira, 11 de agosto de 2011

“Amigo é coisa para se guardar…”

Carlos Estevão Ferreira Castelo 
 
Falou Nader Sarkis, um dos muitos amigos de  meus anos verdes em Xapuri. Tenho que aproveitar sua manifestação. Não para “pitacar” sobre seus argumentos, mas para prestar uma pequena homenagem e solicitar desculpas a esse valoroso xapuriense (com emoção e razão). Aproveito também para relembrar tempos passados, sem perder de vista o alerta de Sérgio Roberto, ou seja, de que “...não podemos meramente opor o tempo, de o reduzirmos a dois polos: presente e passado. Os tempos se perpassam, o passado está constantemente passeando no presente e quando lançamos mão de nossas memórias, fazemos corriqueiramente influenciados pelas nossas vivências”.
 
Sou amigo de Nader desde criança. Apesar do mesmo, “naquela época boa”, morar na “Coronel” e pertencer a “turma” de cima (a lá “da praça”). Eu morava na Floriano Peixoto e pertencia a turma do “coqueiral”. Na minha turma tinha Manú, Chicoral, Dalcides, Bila, Zé Neguin,  Márcio do Mucuin, Mimizão, Roberta, Fernanda, Maura, Delaide, Vandoca, etc. Turma essa que, muitas vezes, costumava se misturar com a galera da “Major”. O celeiro dos “bons de bola”, como Julinho, Zé Henrique, Pipiuna, Rildo da Bia e outros. Na turma da “Major”, vez por outra, pintava o Pinicoral, Bazuca, e tantos outros. As turmas se encontravam em “bandeirinhas”, “barras” e “barreliuns” nas noites xapurienses. Bem pertinho do “poste da D. Euri”.
 
Mas comecei a me relacionar com Nader com mais frequência quando fui morar, temporariamente, nos fundos do escritório da antiga Eletroacre. Que ficava atrás da praça, ali pertinho da ponte da Bolívia. Deixei temporariamente minha turma e passei a conviver com o pessoal das imediações da “Coronel”. Lembro-me que depois da janta, costumávamos conversar muito nos bancos  daquela praça.  Na escola, eu e Nader já convivíamos, mesmo eu sendo um ano mais “adiantado” que ele. Por algum motivo, que não me recordo, em algum momento passamos a estudar na mesma sala. Inclusive terminamos a 8ª série juntos. Também estudamos o primeiro ano do segundo grau na mesma classe (com Bolão, Gewan, Paulo da Teleacre, Rosinha, Luzia Argolo,etc).
 
Uma das primeiras lembranças que tenho de Nader, foi, em um ano de meu Deus onde o Professor Joacir Matos liderou a passeata do dia das crianças, elegantemente vestido de “lobo mau”. Em Xapuri, essa passeata era organizada tradicionalmente pelos professores do “Divina Providência”. Fui para a caminhada  fantasiado de Gilberto (o sobrinho do Pateta). Após a passeata, na hora da merenda que distribuíam no “Divina”, pouco antes da “boateca”, recordo-me do Nader, do Roti e Gewan, rindo de mim que, totalmente desengonçado, fazia uma foto com minha irmã e irmão para a posteridade. Estavam os três amigos em um banco do “Divina” observando a presepada. Nader, com um flauta de brinquedo vermelha na mão, acho que já ensaiava seus primeiros passos na música. Isso ficou na memória, não sei bem o porquê, mas ficou.
 
Outra boa recordação é de um circo, nos fundos da casa de Nader. Em Xapuri sem TV, fazíamos coisas inimagináveis para meu filho Pedro, que hoje tem 8 anos. Inclusive, quando conto o que aprontávamos a Pedro, ele acha que estou inventando. Duvida que aprendi a nadar com 7 anos, no açude do “Cachoeira”. Que subia em árvores frutíferas para “pegar” talas grossas, de coqueiro do “coqueiral”, talas selecionadas, para fazer as “pepetas” que tanto adorava. Quanto conto a Pedro que no carnaval saia “mascarado”, ele não consegue visualizar tal cena. O fato é que durante os preparativos para a estreia do circo convivi com Nader e seu irmão Tadeu – o famoso “esporão de galo” - de forma muito constante. Acho que cheguei até almoçar, uma vez, em sua casa. No dia da estreia do circo o Toinho, de Seu Sólon, caiu e quebrou o braço. O circo acabou na hora. Lembranças....
 
Não esqueço também as peladas que jogava com Nader (e outros amigos) nos campinhos improvisados de Xapuri, entre os bancos da praça São Gabriel. Nader, como eu, já era botafoguense e possui muita habilidade com a “pelota”. Entre uma pelada e outra, uma boateca e outra, uma aula no “Divina” e outra, íamos  construindo e formatando nosso caráter. Tempo, tempo, tempo, tempo...(pensado nos acordes de Caetano).
 
Nader torna-se locutor da rádio “Difusora 6 de agosto”. E eu, já em Rio Branco, perco contato com Xapuri e com meu amigo de infância. Somente voltamos a nos “encontrar” no "Impacto  3",  grupo musical que fundamos no ano em que voltei a morar em Xapuri. Encontrava-me cansado de tanto estudar Economia. Por isso, havia resolvido trancar o curso e voltar para uma temporada em Xapuri. Era 1986.
 
Esse grupo, penso eu, entrou para a História da Música no Município, por  ter utilizado, pela primeira vez, um teclado com ritmos eletrônicos. Antes, a música em Xapuri era “tocada” (muito bem por sinal) por “conjuntos” compostos por vários instrumentos. Utilizavam bateria, baixo, guitarra, etc. Com o “Impacto”, inovamos. Nunca vou esquecer a “festa de debutantes” onde tocamos oficialmente pela primeira vez juntos. Era 1987. Com apenas um pequeno teclado “Casio”, não profissional, e com o auxilio luxuoso de um violão, velho, colocamos a “galera para dançar”.
 
Oitenta mesas vendidas. “Ponto Chic” lotado, todo lotado. Eu, com uma insegurança monstra, fruto do inicio na música decorando cifras. Naquela noite a “sociedade xapuriense” aplaudia de pé o Sr. Darly Alves, o mesmo que viria, tempos depois, mandar assassinar Chico Mendes. A filha de Darly debutava. Lembra dessa amigo?
 
Outra vez, no “Flauzino”, fazíamos junto uma boate/baile. Daí chega o primo  Bila, com a assertividade que lhe é peculiar, e começa a criticar nosso grupo. Minha insegurança “foi para o espaço” e não conseguia mais executar acorde nenhum. Nader interveio, não aceitou aquilo. Deu um “puxão de orelha em Bila”. Obrigado amigo, não imaginas quanto seu ato, simples, contribuiu para minha formação. Naquela noite, ao chegar em casa, pensei: “nunca mais deixarei ninguém me colocar para baixo”. Nunca vou esquecer. São pequenas coisas que ficam para sempre.
 
Coisas como a visita feita por Nader, Gewam e Bolão, após eu retorna de Rio Branco com a perna quebrada, devido a um acidente automobilístico. Estávamos na 4ª série. Acho que foram os únicos que me visitaram em minha casa. Para “dar uma força”. Outra vez, obrigado.
 
O “Impacto 3” acabou, se transformou em um outro grupo que viria a ganhar fama em Xapuri e redondeza, o “H-UELEN”. Entretanto,  antes do “Impacto” desaparecer, quando ainda ensaiávamos na casa de Nader, ali “na 24”, descobrir que além de botafoguense e o gosto pela música, tínhamos outra coisa em comum: uma certa dificuldade para “iniciar a prole”. Mas Nader conseguiu, eu também. Nader abriu seu coração para Haroldo, eu para Kadú. Depois Deus presenteou Nader com Elias, em seguida veio mais um. Eu, da mesma forma, ganhei Júlia, depois Pedro. Parecido, né amigo?
 
Devo dizer que sofri bastante quando Nader teve problemas de saúde. Que graças a Deus conseguiu superar. Lembro-me perfeitamente quando sua irmã, na frente da casa do Zé Bacu, falou-me que Nader estava em São Paulo. “Esta superando os problemas”, disse ela. Como fiquei feliz. Da minha forma, do meu modo. E não é que tempos depois também sou surpreendido com problemas de saúde. Ligo para o celular de Nader, apreensivo, e, como sempre, sua voz amiga me conforta e me deixa esperançoso. Naquela noite dormi mais tranquilo. Mais uma vez, obrigado, amigo.
 
Bem, poderia continuar mais dez, vinte, trinta páginas, rememorando coisas que vivi, em Xapuri, com o velho amigo e irmão Nader Sarkis, mas penso que não interessaria aos leitores. Finalizando então pedindo desculpas para  Nader se, de alguma forma, o deixei triste com o texto resposta ao Haroldo. Devo confessar (Nader pode acreditar ou não), que nem lembrei sua ligação paterna com Haroldo quando escrevia o texto, somente depois.... Penso, também, que não exagerei, não fui grosseiro ou desrespeitei o filho de meu amigo. Mesmo assim, peço desculpas, por tudo o que já vivenciamos e ainda vamos vivenciar. Não pelo conteúdo do texto, mas pelo fato de ter provocado, mesmo que por mínimos momentos, tristeza no “coração valente” de Nader.
 
Quanto a proposta de fazer “...um bom debate presencial, para afinarmos as ideias, fazer uma ampla discussão sem interferências partidárias acerca do melhor para Xapuri...”, diria a Nader que acho muita bem vinda. Com certeza participaria, se convidado. Fiquei muito animado, até proporia fazer esse encontro de e para xapurienses por ocasião das defesas públicas das monografias dos alunos de Economia. São temas interessantíssimos, que poderiam servir como referência para as discussões. As defesas ocorrerão no final de agosto e inicio de setembro. Depois, amigo Nader, quem sabe não poderíamos tocar juntos novamente na colação de grau do pessoal. O que achas?
 
Carlos Estevão Ferreira Castelo é xapuriense.

5 comentários:

Magao disse...

Meu grande amigo Carlinho, vc lemboru muito bem em suas pocas palavras do que nossa terrinha era, e o estado em que se encontra ela hoje. Tempos maravilhosos que passam em nossas mentes e que hoje deveria esta muito melhor infelismente esta ao contrario, porisso a D Carme Veloso falou o que falou porque ela e como todos nos sabemos que noss cidade era diferente sim. Eu preciso falar com vc pessoalmente carta. Um abrco do amigo Magao.

Sued disse...

Carlos Estevão,somente pra pegar uma carona na sua disposição de se comprometer em um debate só com cidadãos Xapurienses,se me convidarem tambem sairei daqui de PVH,RO pra defender tambem o bem estar da minha querida cidade,e aproveito pra assinar embaixo tudo que voce falou do NADER meu irmão,desde do nosso tempo de criança em Xapurí, a índôle e o carater Nader não só dele e sim de toda sua família, dispensa comentários,PROFª ALÍCE me ensinava com amor de MÃE,parabéns pela homenagem a esse GRANDE HOMEM.Abraço Irmão.

nader disse...

Tu não me deves desculpas, amigo Carlinhos. Escrevi aquele texto simplesmente a fim de aumentar ainda mais a discussão sobre nossa terrinha, para fazer com que a ideia da repercussão do tema andasse um pouco mais e chegasse ao esperado debate. Não o fiz com a intenção de defender meu filho, Haroldo, penso que ele desempenhou seu papel do cargo ao qual foi designado, embora tenha havido alguns trocadilhos um tanto quanto ásperos. Muito menos, meu irmão com a serventia de ferir você ou outras pessoas, afinal isso não condiz com aquilo que, como bem disseste, aprendemos juntos.
Acredito que a síntese principal dessa contenda é a seguinte:
Foram incitados alguns xapurienses a partir da postagem da frase da D. Carmem. Desses, alguns se manifestaram, outros não gostam de dá “pitacos”. Já explicitei meu pensamento sobre a dita cuja, porém tem também a questão de quem mora aqui, tem filho estudando aqui, tem negócios aqui, enfim, não quer ver seu torrão sendo esculachado (embora haja vários motivos). É como aquele pai que chama atenção do seu filho, mas fica com o pé atrás quanto outrem o faz pelo mesmo motivo, entendeu?
Seus escritos me fazem viajar, aprendo muito com suas ideias, mas não esperava esse último, fiquei de queixo caído com a riqueza dos detalhes, obrigado pelo carinho, você sabe, a recíproca é verdadeira, meu parceiro. Entre mim e você jamais haverá maledicência.
Aquele outubro de 87 é inesquecível, IMPACTO 3 (nosso conjunto musical)fazendo um baile de debutantes, Ponto Chic lotado, um mini teclado, uma guitarra e uma mesa de som made in Xapuri, que ainda tenho parte dela (feita pelo nosso saudoso Mauro José, filho do seu Aliardo, pai da Suane), mas foi um sucesso...
Estou à sua disposição, vamos fazer um som pra matar a saudade.
Forte abraço, meu irmão! (Renato Sá)

xapuriense disse...

Sei, Nader. Claro que seu texto não foi para defender Haroldo. Isso tava claro para mim desde o inicio. Seu texto foi para colocar sua visão das coisas. Que vc fez muito bem por sinal.

Sabemos (eu e vc) que Haroldo estava, apenas, cumprindo sua função de Assessor. Até destaquei isso no texto.

Mas mesmo assim, irmão, não estava "processando legal no meu minhocário"...rsrsrsr.

Eu sou assim mesmo...

Vc e o Andrias são pessoas especiais, que fazem a diferença no mundo, entre tantos outros amigos que tenho. Graças a Deus.

Magão,

Que legal suas palavras. Claro que podemos conversa pessoalmente. è só agendar. Tua filha Michelle (minha orientanda)tem meu telefone.

Parabes pela sua filha, amigo. A monografia dela está muito boa.

Gostei muito de connhece-la e ter colaborado com Michelle para que pudesse superar o desafio da monografia.

Diz para ela se preparar para defender o trabalho. O nome dela tá na minha relação para a defesa pública. Exatamente pela qualidade do trabalho.

Grande abraços a todos...

Jorgewan Hadad disse...

Meus amigos Nader e Carlinhos....Fiquei emocionado ao ler o texto com tanta riqueza em detalhes que so uma excelente memória poderia ter. Os anos se passam, mas a lembrança destes belos momentos de infancia e juventude jamais se apagarão!...vcs e outros amigos como o Tadeu, Bolão, estarão para sempre em minha memória e espero um dia ainda estarmos reunidos para recordar estes e outros momentos e também poder ajudar a nossa querida princesinha do Acre a se desenvolver cada vez mais.......a exemplo do que vi nas fotos do Raimari pelas suas andanças em Feijo, Sena, Tarauacá e Cruzeiro. São obras milionárias como a ponte sobre o Rio Tarauacá, executada por uma grande empresa chamada JM, com sede em Brasilia e filiais em Belém, Rio Branco, etc.....Grande abraço!!!..Gewan.