sábado, 6 de agosto de 2011

6 de Agosto, uma data esquecida

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O herói Plácido de Castro no ano de 1907  em foto de Percy Fawcett.

Era madrugada de 6 de agosto de 1902 quando o gaúcho José Plácido de Castro tomava de assalto, junto com um punhado de seringueiros, a Mariscal Sucre do intendente Juan Dios Barrientos, dando início a um dos mais importantes capítulos da história do Acre e do Brasil, a Revolução Acreana, que tornou brasileiro este pedaço de chão.

O evento de tomada da Intendência Boliviana, que oprimia e sufocava com a cobrança de altos impostos a população brasileira que aqui lutava pela sobrevivência, tornou, desde então, Xapuri o “Berço da Revolução”, epíteto ao qual foi juntado, mais tarde, “A princesa do Acre”, dizem alguns em referência à beleza que possuía a rua do comércio pujante que a cidade já teve para quem chegava de navio pelo Rio Acre. Isso bem antes que a margem do rio fosse ocupada com autorização oficial por barracos e casebres tal como se encontra até os dias atuais. Mais recentemente veio outra alcunha: “Xapuri, a cidade mundial da ecologia”.

A verdade é que, a despeito de tantos apodos inconsistentes, 109 anos passados da célebre frase de Plácido de Castro: “Não é festa, é revolução”, a cidade onde se iniciou a Revolução Acreana se encontra a anos-luz de alcançar na realidade prática o mesmo nível de importância que lhe atribui a história e a luta daqueles que, desde antes de o Acre se tornar brasileiro, deram suor e sangue por este rincão. Xapuri, como há muito tempo acontece, empreende uma luta inglória para alcançar o lugar de destaque que sugere sua fama montada, em muitos casos, em mitos e factoides.

E como já foi dito inúmeras vezes que uma cidade sem memória é uma cidade sem futuro, talvez o desapego com a valorização de datas em ocorreram eventos tão significativos como a Revolução Acreana e a falta de atenção aos exemplos deixados por aqueles que deram a vida para que a cidade não perecesse, sejam alguns dos muitos fatores a explicar o fato de, no presente, nos encontrarmos patinando tanto em busca do avanço social que a própria “história de glórias” impõe como obrigatório.

Neste dia 6 de agosto de 2011, na cidade de Xapuri, a Mariscal sucre de 1902, nenhuma atividade alusiva ao início do movimento armado que contribuiu de maneira decisiva para que a diplomacia brasileira viabilizasse a transformação oficial do Acre em território nacional. Contato a prefeitura e confirmo que não há eventos programados para o dia de hoje. E, acreditem, não estou atribuindo especificamente a atual administração do município o esquecimento de acontecimento tão importante para nossa história. Isso tem sido tão comum nas últimas décadas, que um prefeito maluco cometeu, um dia desses, o sacrilégio de arrancar o busto de Plácido de Castro do terreno doado pelo município à família do caudilho gaúcho para em seu lugar construir uma tosca quadra de areia.

Da parte do governo do Acre, para não deixar a data passar em branco, será lançado, como parte integrante das comemorações do início da Revolução Acreana, o Programa de Conservação e Recuperação da Bacia do Rio Acre. O governo cria também a Lei que institui o dia 7 de agosto como o “Dia do Rio Acre” com a seguinte justificativa:

“(...) O Rio Acre foi o cenário e palco da histórica batalha contra os bolivianos, episódio sangrento que se encerrou em 6 de agosto de 1903, sobre suas  águas, Plácido de Castro e seu exército planejou e auferiu a guerra.

A notícia da vitória de Plácido de Castro levou a população a surgir sobre as águas do Rio Acre, as memoráveis comemorações da vitória do povo acreano. Daquele episódio até os dias atuais. A data do dia 7 de agosto permanece viva na lembrança da população acreana como o dia em que o povo recolheu, ainda com sangue, a grossa corrente que vitimou centenas de vidas. 

É nesta data que o Rio Acre, nasceu para o povo, como símbolo de posse do território acreano, e da magistral vitória do exército de uma geração que sonhou junto com o Rio Acre viver livre e festejar o dia do banho na água doce, um banho despido de armas (...).”

Muito pouco se for considerado que a Revolução Acreana foi na verdade uma guerra onde muitas vidas brasileiras foram perdidas em nome de um sentimento que enche o peito de cada acreano: o orgulho de ser brasileiro. Orgulho que também inunda o peito do deputado estadual Moisés Diniz e que, brilhantemente, em seu blog Ecos Socialistas faz deste dia 6 de Agosto uma data menos esquecida.

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