quinta-feira, 13 de março de 2014

Da série: Imprensa e políticos acrianos se merecem desde sempre

Sérgio Roberto Gomes de Souza*

José Thomaz da Cunha Vasconcelos (foto 01) era natural da cidade de Goiânia- PE, tendo se tornado bacharel em direito no ano de 1889. Antes de ser nomeado governador, no dia 13 de novembro de 1922[1], já havia exercido o cargo de prefeito dos Departamentos de Tarauacá (1918) e do Alto Acre (1920).

Foto 01: José Thomaz da Cunha Vasconcelos – governador do acre entre 1923 e 1926

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Fonte: Jornal Folha do Acre de 24 de março de 1923, ano XIII, nº 452, p. 01

Como governador, ficou mais conhecido no Acre por seu temperamento explosivo do que por suas realizações, o que levou setores da imprensa do Território a expressarem certo “alívio” com o fim de sua administração. Observe-se o exemplo do jornal Folha do Acre. Durante o período em que Cunha Vasconcelos permaneceu no cargo, o periódico nada publicou que pudesse colocar em dúvida a “honestidade” e o “comportamento” do chefe do Executivo no Território, porém, não aguardou sequer a embarcação que o levava para o Rio de Janeiro aportar na primeira cidade do Amazonas para acusá-lo de mau uso dos recursos públicos, enriquecimento ilícito e uso abusivo de poder como demonstra o editorial da edição do dia 10 de junho de 1926:

Não há mais dúvida sobre o afastamento do Senhor Cunha Vasconcelos, do cargo de governador do Acre, estando assim terminado o longo período em que se via o Território, suportando esse homem intolerável que aqui nada mais fez durante três anos, três meses e dois dias, do que sugar os cofres públicos em proveito próprio e dos seus, saindo rico da administração acreana. Atravessamos neste longo período uma situação de lama e de horror. E agora estamos fora da alçada deste novo Calígula, gozando a felicidade de tê-lo afastado. [2]

O texto difere-se sobremaneira de uma publicação feita pelo mesmo jornal no dia 24 de fevereiro de 1924 onde consta: “O atual governador do Território conquista pela lealdade de sua maneira de agir e pela lisura de seus atos, a aureola de simpatia que o torna credor do carinho com que vem de ser recepcionado com sua Exms. Família”.[3] A mudança na linha editorial foi brusca. Mas, Cunha Vasconcelos também demonstrou seu lado “volúvel”. No ano de 1923, recém nomeado governador, fez a seguinte afirmação em entrevista concedida ao jornal Folha do Acre, no dia 24 de fevereiro de 1923: “Um fado amigo me impele para o Acre, terra que muito amo, parecendo que terei de terminar os meus dias entre os acreanos”.[4] Porém, nem bem terminara seu governo e Cunha Vasconcelos já estava na cidade do Rio de Janeiro onde, de acordo com o historiador Francisco Bento da Silva, “agrediu um condutor de bonde e, para livrar-se da prisão, resolveu passar por senador da República, cargo que nunca exerceu” (SILVA, 2012, p. 43).


[1] A data de nomeação difere-se da data em que tomou posse do governo no Acre e iniciou seu mandato como governador.

[2] A queda do Régulo. Folha do Acre, Rio Branco – AC, 10 de junho de 1926, ano XV, p. o1

[3] Folha do Acre, Rio Branco – AC, 24 de fevereiro de 1923, ano XIII, nº 452, p. 01.

[4] Idem.

*Professor de História da UFAC.

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