Jorge Silva/Reuters
Cerca de 16 milhões de venezuelanos irão às urnas neste domingo para dizer, em referendo, “sim” ou “não” à reforma constitucional que concede superpoderes a Hugo Chávez e abre uma janela para que o compañero se perpetue no poder. A julgar pelo resultado das pesquisas, o país está dividido ao meio.
A última sondagem, realizada pelo instituto Hinterlaces, atribui ao “não” (46%) uma ligeira e inexpressiva vantagem sobre o “sim” (45%). Nessas horas que antecedem a manifestação do eleitor, opositores e apoiadores de Chávez medem forças nas ruas.
A avenida Bolívar, antes reduto exclusivo do chavizmo, foi tomada na noite passada por milhares de adeptos do “não”. Antes divididos, os adversários de Chávez agora estão estrategicamente unidos.
Em resposta, os partidários do “sim” encheram a mesma avenida Bolívar nesta sexta-feira (30), na última grande manifestação antes do referendo. Chávez, como sói, canta vitória. A oposição empenha-se para convencer os eleitores a comparecer às urnas. A ausência e a abstenção jogam água no moinho do presidente.
A refrega venezuelana ocorre no instante em que se discute no Congresso brasileiro se a Venezuela deve ou não ser admitida no Mercosul. A proposta tramita na Câmara. Já passou por duas comissões: a de Relações Exteriores e a de Constituição e Justiça. Está pronta para ser votada no plenário. Deve ser aprovada.
É no Senado que as pretensões de Chávez devem encontrar maior resistência. A oposição prepara-se para erguer barricadas contra a proposta. Mesmo senadores governistas torcem o nariz para a admissão da Venezuela no bloco econômico liderado pelo Brasil. A mais notória voz governista a se contrapor às intenções de Chávez é a de José Sarney (PMDB-AP).
Precursor do Mercosul, o ex-presidente diz que o resultado do referendo deste domingo terá forte influência sobre a decisão do Senado. "O ingresso vai depender do plebiscito, porque se o plebiscito aprovar essas cláusulas constitucionais, abrirá uma discussão e dificilmente a Venezuela atingirá a cláusula democrática para ser aprovada pelo Congresso brasileiro", diz Sarney, contrapondo-se inclusive ao pensamento de seu neo-guru Lula, para quem há excesso de democracia na Venezuela de Chávez.
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