quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Professor Anthero Soares Bezerra

DSC03235[3]_thumb[3]

Cemitérios sempre me despertaram um sentimento misto de medo e curiosidade. Entrar em um deles remete-me, inevitavelmente, ao pensamento que procuramos manter afastado do rol de nossas principais preocupações em vida. Salutarmente, evitamos pensar na morte mesmo sabendo ser ela a única certeza de nossa existência. Por outro lado, as necrópoles também me despertam o interesse pelas muitas histórias de vidas encerradas em seus túmulos frios e silenciosos. Como e quando viveram, como morreram, e o que fizeram por este mundo em que continuamos a dar sequência à vida - até que seja chegada a nossa vez - são alguns dos questionamentos que alimentam esse interesse.

Essa curiosidade me faz perambular quase que todos os anos por entre as antigas catacumbas e os modernos jazigos construídos pelas famílias mais abastadas financeiramente. É realmente curioso que mesmo após a morte, destino comum a todos os viventes, as pessoas continuem a ser distinguidas pela condição social e econômica que ostentaram em vida. Simples sepulturas, muitas vezes providas apenas de mera cruz de madeira, dividem o espaço mais democrático do mundo com túmulos bem ornados e capelas recobertas de caríssimas peças de mármore e belos epitáfios que denunciam a notoriedade de alguns e o anonimato de outros tantos.

Outra realidade que se nota ao visitar o cemitério São José, em Xapuri, é o abandono de vários túmulos, muitos dos quais, de tão antigos, já se encontram quase que completamente destruídos pela ação inexorável do tempo. Impossível saber ao certo a razão desse triste abandono que fatalmente culminará com o total desaparecimento daquilo que certamente representa o último vestígio material da existência e da passagem de um ser humano pela vida terrena. Famílias que deixaram a cidade para viver em locais distantes ou pessoas que vieram de outros lugares para cá e que, ao morrer, não deixarem quem zelasse de sua última morada são algumas das circunstâncias que imagino explicar o o injustificável esquecimento.

Todo esse preâmbulo teve por objetivo me permitir dizer que entre os muitos túmulos antigos e abandonados do cemitério de Xapuri, está o de um personagem ilustre da história da cidade. Trata-se do professor cearense Anthero Soares Bezerra, que relevantes serviços prestou à nossa educação no fim do século XIX e começo do século XX, motivo pelo qual dá nome a uma das principais escolas da rede estadual de ensino no município. O educador nasceu no distante ano de 1855 e faleceu em 1927, em um dia 25 de dezembro.

Certa vez, sugeri a um vereador conhecido meu que indicasse ao município a recuperação do mausoléu do professor Anthero Soares Bezerra. Seria o mínimo que se poderia fazer pela memória - quase que perdida - de uma pessoa que, além de haver contribuído sobremaneira com os esforços de progresso e desenvolvimento da cidade, nos honrou em entregar seus restos mortais a esta terra distante, que certamente adotou como sua. Minha sugestão, é claro, não foi ouvida e o tal vereador foi merecidamente sepultado politicamente nas eleições seguintes, se tornando tão justamente esquecido quão injustamente foi o ilustre professor.

Penso em voltar a sugerir a providência ao poder público. A morte deve ser razão para saudade e lembrança, mas jamais para o abandono a que muitos personagens de nossa história, anônimos ou não, estão relegados. Se pensarmos bem, e isso é certo, esse abandono já começa em vida para se estender pela viagem mais longa e desconhecida para a qual todos os seres humanos têm bilhetes garantidos, mas apenas não sabem o dia do check-in.

Nenhum comentário: