Visita de xapuriense ilustre na Rádio Educadora 6 de Agosto, na tarde desta segunda-feira, véspera de mais uma Procissão de São Sebastião. O assunto foi o lançamento do romance O Inverno dos Anjos do Sol Poente, marcado para a noite do mesmo dia, no Campus da Ufac, que terminou por não acontecer devido a um imprevisto.
José Cláudio Mota Porfiro é filho de Raimundo Porfiro Soares, apelidado Gibiri, que era estivador nos portos e armazéns de borracha e castanha da cidade natal. Francisca Mota Porfiro, a mãe, apelidada Nenem, era costureira e profissional do lar. Com a ajuda de bolsas de “favor oficial” estudou o ginásio em um colégio particular, o Divina Providência, católico, da Ordem das Servas de Maria Reparadoras, onde cursou também o ensino médio.
Mota Porfiro é formado em Letras Português/Inglês pela Ufac. Mestre e Doutor em Filosofia e História da Educação pela Unicamp – Universidade Estadual de Campinas. É cronista assíduo de jornais do Acre, GAZETA e Página 20, há vinte e seis anos. Foi professor de Língua Portuguesa, Literatura e Redação do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, de ensino médio, por trinta anos.
Hoje, é diretor de desenvolvimento de recursos humanos dos quadros da Universidade Federal do Acre, onde trabalho há 36 anos.
Segue um pouco de Cláudio Motta por ele mesmo:
“Não dispunha de brinquedos em casa. Não me era permitido participar de brincadeiras que excedessem os domínios do meu quintal. Podia ir para a aula, sim. E ia à Missa, como ainda hoje o faço. No colégio onde estudei havia uma biblioteca de pequeno porte, com livros arranjados de doação, em outros estados brasileiros, pelo Padre José. Entre os treze e os dezessete anos, ali eu ficava das nove às onze e meia, ou mais. Li boa parte dos clássicos da literatura à disposição. Havia alguns universais, mas havia os nossos interessantíssimos romancistas brasileiros. Não manuseava livros que tivessem a ver com as ciências exatas. Na falta de algo mais interessante, findei por ler boa parte da Enciclopédia Mirador Internacional.
Meu pai não sabia ler, mas sabia que se tratava de algo bem importante. Um dia, nas férias, ele perguntou se eu nada tinha para estudar. Respondi que não; que houvera passado em todas as provas com notas muito boas, ao que ele retrucou:
– Ah, é? Então vá estudar o dicionário.
Fiquei prolixo e na minha cidade alguns me achavam um pouco esnobe. Não era nada disso. Era, sim, um garoto pobre, mas habituado às boas leituras.
Observo que as minhas influências vêm de alguns mais velhos, como Miguel de Cervantes, Erasmo e Dante. Mas vêm também de José de Alencar, Machado de Assis e Lima Barreto, antes; e João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Vinícius de Moraes, dentre outros, agora por último.
Trago ainda influências de três mulheres muito especiais. Minha mãe, a primeira delas, era uma pessoa que via muito longe e sempre trouxe consigo a certeza de que os estudos ainda me deixariam numa posição muito confortável. E foi o que aconteceu. Ainda leio alguns livros por ano.
Uma outra mulher, de nome Orfisa Camelo Bacelar, me ensinou a trilhar o bom caminho pautando-me pela disciplina. Depois, observei que foi com ela que aprendi a ser objetivo, a ter foco.
Uma terceira mulher, a professora Euri Gomes de Figueiredo, me apresentou à poesia de Carlos Drummond de Andrade e à melodia de Chico Buarque, dentre muitas outras apresentações fantásticas no mundo das letras. Foi esta que me ensinou os rudimentos da escrita. Elas foram também influências muito marcantes.
Certa ocasião, um amigo, o Francisco Dandão, pediu a mim que redigisse um texto para o jornal A GAZETA, em 1987. Foi o que fiz. Ele andou aparando algumas arestas, mas pediu que eu fizesse outro e eu sai fazendo muito mais. Esse moço também me influenciou bastante.
O Inverno dos Anjos do Sol Poente foi escrito levando em consideração alguns pontos de vista. Primeiro, a criação ficcional é algo que me conquistou há muito tempo e me domina desde sempre. Gosto de contar histórias desde a mais tenra infância. Depois, trata-se de um romance memorialístico porque as histórias aqui contadas têm como base as minhas recordações de infância, inclusive e principalmente, a respeito de tudo o que me dizia a minha avó cearense. Por último, tenho um grande apreço pelos nossos antepassados xapurienses de origem sírio-libanesa, portuguesa e sertaneja. Esses homens e mulheres fizeram uma obra estupenda. O meu romance também é uma forma de prestar homenagem justa a essas pessoas que me foram muito caras, com certeza.
Com relação ao meu relacionamento com a ciência e a literatura, falei algo meio picaresco.
Escrevi em texto bem humorado que estava prestes a desmanchar o meu caso de amor com uma concubina antiga, a ciência, posto que ela até hoje me alimentou através do pagamento de um salário que, com a aposentadoria, ficará cada vez menor.
Arranjei, agora, uma prostituta que pulula pelos salões da nobreza, a literatura, porque atentei para a realidade segundo a qual o literato de ofício não recebe salário, mas ganha dinheiro farto, senão vejamos o caso do José Saramago, do Paulo Coelho, do Luís Fernando Veríssimo, do Ediney Silvestre, da Patrícia Melo, e assim por diante”.
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