quarta-feira, 31 de julho de 2013

Semana de combate às hepatites

Comorbidades e doenças associadas à Hepatite C merecem atenção

A infecção pelo vírus da Hepatite C (HCV) pode levar a uma série de manifestações que, além de afetarem o fígado diretamente - evoluindo para a forma crônica da doença, posteriormente fibrose, cirrose e até câncer -, podem acometer outros órgãos e sistemas, ocasionando lesões diversas. Algumas manifestações, denominadas extra-hepáticas, acontecem devido à constante estimulação da doença sobre o sistema imunológico do paciente. Articulações, rins, pele e tireoide são os órgãos e sistemas principalmente afetados, podendo apresentar diversos tipos de erupções cutâneas, insuficiência renal, distúrbios da tireoide entre outras consequências.

Alguns estudos têm demonstrado ainda uma associação da Diabetes Mellitus tipo II (não insulinodependentes) com o HCV. O mecanismo exato da ação do vírus no surgimento da Diabetes II é desconhecido, mas os portadores dessa comorbidade apresentam menor resposta ao tratamento da Hepatite C.

Nos pacientes portadores do HIV, a coinfecção pelo vírus da Hepatite C torna-se um sério problema de saúde pública, principalmente devido à rápida evolução da doença hepática e à pior resposta ao tratamento com Interferon Peguilado e Ribavirina. Nessa população HIV positivo, a prevalência de coinfecção com o vírus da Hepatite C é alta, chegando até 30% no Brasil e muitas vezes o exame anti-HCV pode aparecer não reagente, já que em função da imunodepressão causada pelo vírus HIV, o anticorpo da Hepatite C não pode ser detectado. Por isso, para esses pacientes é necessário ter maior atenção, e realizar outros testes caso haja suspeita de infecção pelo HCV.

É importante ressaltar, que pacientes com manifestações extra-hepáticas ou coinfecção pelo HIV devem ser tratados independentemente do grau de lesão no fígado.

Os cuidados com a interação medicamentosa para o tratamento da Hepatite C e das doenças associadas também devem ser observados, uma vez que é comum os efeitos colaterais do tratamento da comorbidade acelerarem as complicações da Hepatite C e vice-versa.

Saiba mais sobre a doença

Hepatite C - O que é e Diagnóstico

SOBRE HEPATITES VIRAIS

Grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo, a hepatite é a inflamação do fígado. Pode ser causada por vírus, uso de alguns remédios, álcool e outras drogas, além de doenças autoimunes, metabólicas e genéticas.

No Brasil, as hepatites virais mais comuns são as causadas pelos vírus A, B e C. Existem ainda os vírus D e E, este último mais frequente na África e na Ásia.

Essas doenças podem ser classificadas, de acordo com as formas de transmissão, em dois grupos:

1)    Hepatites A e E - transmitidas de modo fecal-oral (ingestão de alimentos contaminados ou contato com fezes contaminadas); o mecanismo de infecção está relacionado às condições socioeconômicas, de saneamento básico e de higiene pessoal;

2)    Hepatites B, C e D - transmitidas pelo sangue, por meio de transfusão de sangue e hemoderivados, hemodiálise, procedimentos cirúrgicos e odontológicos em que não se aplicam as normas de biossegurança adequadas, da mãe para o filho durante gravidez e parto (transmissão vertical) ou pelo contato sexual. Esses tipos de hepatites ainda podem ocorrer em consequência do compartilhamento de material contaminado para uso de drogas ou de objetos de higiene pessoal, ou colocação de tatuagens e piercings.

SOBRE A HEPATITE C

De acordo com dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais, os casos confirmados de hepatite C, entre 1999 e 2009, registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), totalizam 60.908. Em relação à faixa etária, o diagnóstico foi mais frequente em indivíduos de 30 a 59 anos de idade. No sexo masculino, 35%, encontram-se na faixa etária de 40 a 49 anos de idade. No sexo feminino, a faixa etária de 40 a 59 anos de idade representa 50% dos casos.

Transmitida principalmente por sangue contaminado pelo vírus HCV, a hepatite C pode causar tanto infecções agudas como crônicas, ou seja, pode evoluir naturalmente para a eliminação do vírus ou, na falha desse mecanismo, tornar-se uma infecção crônica, principal determinante da ocorrência de cirrose e câncer de fígado nos indivíduos afetados.

Seus sintomas são pouco frequentes, tanto nas infecções agudas quanto nas crônicas. Porém, na fase aguda da doença, o paciente pode apresentar desde sintomas inespecíficos - como febre, mal-estar, cefaleia, dores musculares, náuseas e vômitos - até sintomas como icterícia (pele e olhos amarelados), colúria (urina muito escura) e hipo ou acolia fecal (fezes esbranquiçadas).

No exame físico, pode-se encontrar o fígado ligeiramente aumentado e doloroso. Entretanto esses sintomas só estão presentes em 30% a 40% dos casos, fazendo com que muitas vezes o diagnóstico só seja estabelecido na fase crônica da doença.

Cerca de 75% a 80% dos pacientes permanecem com a inflamação no fígado por tempo prolongado, superior a seis meses, caracterizando a doença crônica. Desses pacientes, 20% evoluem para a cirrose, passando a ter um risco de 1% a 5% ao ano de desenvolver câncer de fígado (hepatocarcinoma).

Milhões de pessoas no Brasil são portadoras do vírus da hepatite C e não sabem. Silenciosa, é uma doença com longo período de evolução. O paciente, em geral, demora cerca de 30 anos para desenvolver cirrose ou câncer de fígado. Entretanto, o curso da doença é afetado por vários fatores, especialmente pela ingestão de bebida alcoólica e pela coinfecção por outros vírus.

DIAGNÓSTICO

O anti-HCV (anticorpo produzido naturalmente pelo organismo) é o primeiro teste que deve ser feito nos pacientes para triagem de hepatite e marca o contato da pessoa com o vírus da hepatite C. Esse anticorpo demora de 4 a 6 semanas para se tornar detectável no sangue dos pacientes após o contato com o vírus, podendo persistir indefinidamente.

Outro exame que pode ser utilizado é o PCR, que mostra a presença do vírus no organismo do paciente. O PCR pode ser qualitativo (indica a presença ou não do vírus) ou quantitativo (avalia a quantidade de vírus presentes).

Desde 2011, o Ministério da Saúde ampliou a oferta de testes rápidos gratuitos para detecção da hepatite C, nos chamados CTAS (Centros de Testagem e Aconselhamento). O atendimento no CTA é inteiramente sigiloso e, se o resultado do teste for positivo, a pessoa é encaminhada para tratamento nos serviços de referência.

Para localizar o CTA mais próximo da sua residência basta acessar o link (Centro de testagem e aconselhamento) e clicar na caixa Localizar endereço na coluna à direita da página inicial.

QUEM DEVE FAZER O TESTE PARA DETECÇÃO DA HEPATITE C (grupos de risco):

pessoas que receberam transplante de órgãos ou tecidos, como córneas e pele, além de doadores de esperma, óvulos e medula      óssea;

  • pessoas que receberam transfusão de sangue ou de qualquer derivado de sangue antes de 1993;
  • doentes renais em hemodiálise;
  • pessoas que usam, ou usaram alguma vez, drogas injetáveis ou cocaína inalada;
  • indivíduos que usaram medicamentos intravenosos por meio de seringa de vidro nas décadas de 1970 e 1980;
  • portadores do vírus HIV;
  • filhos de mães contaminadas com a hepatite C, seguindo recomendação do pediatra;
  • pessoas que tenham feito tatuagens ou piercings em locais não vistoriados pela vigilância sanitária;
  • pessoas com parceiros sexuais de longo tempo infectados com hepatite C;
  • pessoas com múltiplos parceiros sexuais ou com histórico de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs);
  • pessoas com necessidade de diagnóstico diferencial de agressão ao fígado;
  • profissionais da área da saúde, após acidente biológico ou exposição percutânea ou das mucosas a sangue contaminado.
  • profissionais da área da saúde, após acidente biológico com exposição percutânea ou das mucosas a sangue contaminado.

Referências: 

HEPATOLOGIA, S. B. (2012). Imprensa / Releases / SERVIÇO: grupos de risco. Fonte: www.sbhepatologia.org.br: http://www.sbhepatologia.org.br/pdf/release1.pdf

MINISTÉRIO DA SAÚDE, (s.d.). Boletim Epidemiológico Hepatites Virais 2011. Acesso em julho de 2012. Disponível em www.aids.gov.br: http://www.aids.gov.br/publicacao/2011/boletim_epidemiologico_hepatites_virais_2011

MINISTÉRIO DA SAÚDE, (s.d.). Hepatites Virais: Desafios para o período de 2011 a 2012. Acesso em julho de 2012. Disponível em www.aids.gov.br: http://www.aids.gov.br/publicacao/hepatites-virais-desafios-para-o-periodo-de-2011-2012

MINISTÉRIO DA SAÚDE, (s.d.). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite Viral C e Coinfecções. Acesso em julho de 2012. Disponível em www.aids.gov.br: http://www.aids.gov.br/publicacao/2011/protocolo_clinico_e_diretrizes_terapeuticas_para_hepatite_viral_c_e_coinfeccoes

HCV, O VÍRUS DA HEPATITE C

É um vírus RNA da família Flaviviridae, que só foi identificado em 1989. Em 1992, foi desenvolvido o primeiro teste para identificação do anticorpo contra o HCV (anti-HCV), proporcionando maior segurança em transfusões sanguíneas e permitindo o diagnóstico da doença. O HCV é classificado em seis principais genótipos (designados de 1 a 6). No Brasil, o genótipo 1 é predominante.

Estima-se que aproximadamente 3% da população mundial estejam infectadas pelo vírus da hepatite C (HCV), o que representa cerca de 170 milhões de indivíduos com infecção crônica e sob o risco de desenvolver as complicações da doença. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é considerado um país de endemicidade intermediária para hepatite C, sendo que de 1% a 1,5% da população é de portadores crônicos da doença.

De acordo com o Ministério Saúde, cerca de 1,5 milhão de brasileiros estão infectados com o vírus da hepatite C, porém, 50% deles desconhecem o problema. Por isso, apenas 100 mil brasileiros receberam efetivamente tratamento até hoje.

OBJETIVOS DO TRATAMENTO

Não existe vacina para hepatite C e a decisão de iniciar o tratamento deve considerar o risco de progressão da doença, a probabilidade de resposta terapêutica, os efeitos adversos do tratamento e a presença de comorbidades. Os pacientes em estágios mais avançados, com fibrose avançada e cirrose, são os que necessitam mais rapidamente de tratamento.

  • Hepatite C Aguda - O tratamento visa reduzir o risco de progressão da doença para a forma crônica. Por isso, independentemente de sintomas, é importante que se faça a detecção precoce da doença, pois quanto antes for feito o diagnóstico e iniciado o tratamento, maiores são as chances de cura (resposta virológica sustentada);
  • Hepatite C Crônica - O tratamento visa controlar a progressão da doença hepática, por meio da inibição da replicação viral, impedindo a evolução para cirrose e câncer de fígado, portanto, aumentando a expectativa de vida do paciente.

EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO

Interferon (IFN) - Foi o primeiro medicamento introduzido no tratamento da hepatite C, ainda na década de 90. O interferon é uma proteína imunorreguladora que aumenta a capacidade do organismo de destruir células tumorais, vírus e bactérias. Ele pode ser classificado em alfa, beta e gama (ou imuno-interferon). O interferon alfa, utilizado no tratamento de Hepatite C, apresenta 14 subtipos com especificidades ligeiramente diferentes.

Ribavirina (RBV) - Ainda na década de 90, estudos clínicos demonstraram que a administração do antiviral ribavirina, associado ao interferon, por 48 semanas, levava à cura da hepatite C (resposta virologia sustentada) em 40% a 50% dos casos, números duas a três vezes maiores do que os obtidos apenas com interferon. Nascia assim a Terapia Dupla.

Inteferon Peguilado (PEG INF) - Introduzido à terapia padrão nos anos 2000, este tipo de interferon apresenta melhor tolerabilidade e maior persistência de níveis séricos adequados, permitindo melhor condição de tratamento para os pacientes portadores do genótipo 1 da Hepatite C.

Inibidores de Protease (IPs) - Desde o final de 2011, está disponível no Brasil um novo modelo de tratamento que consiste na combinação do interferon peguilado e da ribavirina com os inibidores de protease, uma nova classe de medicamentos que aumenta as chances de cura dos pacientes, podendo chegar a 80%, até mesmo aqueles que não obtiveram sucesso com a Terapia Padrão. A chegada desses antivirais de ação direta (DAAs) é a primeira inovação no tratamento da hepatite C em mais de 10 anos.

Atualmente o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza o injetável Inteferon Peguilado alfa-2b e alfa-2ª, as cápsulas de Ribavirina e os Inibidores de protease Boceprevir e Telaprevir para o tratamento da hepatite C.

Referências:

BIO-MANGUINHOS / FIOCRUZ (s.d.). INTERFERON - alfa 2b humano recombinante - Monografia do Produto. Rio de Janeiro, Disponível em http://www.fiocruz.br/bio_eng/media/monografia_interferon.pdf; Ultimo acesso em Julho/2012.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, (s.d.). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite Viral C e Coinfecções. Brasília, 2012. disponível em http://www.aids.gov.br/publicacao/2011/protocolo_clinico_e_diretrizes_terapeuticas_para_hepatite_viral_c_e_coinfeccoes; Ultimo acesso em Julho/2012.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, (s.d.). Suplemento 1 - Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite Viral C e Coinfecções - manejo do paciente infectado cronicamente pelo genótipo 1 do HCV e fibrose avançada. Brasília, 2013. Disponível em (http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2011/49960/suplemento_1_85095.pdf); Ultimo acesso em Junho/2013.

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