Papa tem discurso afinado com o da população brasileira
Por Jouberto Heringer
Estamos no inicio da 28ª Jornada Mundial da Juventude que está ocorrendo pela segunda vez na América Latina. Em 1987, quando aconteceu na Argentina, o contexto mundial refletido era bem diferente do que nos deparamos em 2013. Pode parecer uma distância pequena de 26 anos para uma Igreja que conta sua historia por séculos, mas em um período de rápidas e profundas transformações, este tempo faz eclodir diferentes questões.
A visita do Papa Francisco ao Rio de Janeiro pode ser considerada um evento marcante pela importância do momento político, econômico e social em que o país está vivendo. Além disso, vai conseguir reunir um grande número de jovens do mundo inteiro que irão participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em um país em que continua sendo a maior nação católica do mundo, mesmo com a redução no número de fiéis ao longo das últimas décadas, de acordo com o IBGE. O Papa Francisco tem um diferencial ao apresentar um discurso afinado com o da população brasileira e uma mensagem atual para a juventude com uma pregação ética de humildade.
Olhando para a Madri em 2011 alguns pontos políticos semelhantes se repetem com diferentes geradores. A crise institucional vivida pela Espanha gerada por uma oligarquia política envelhecida encontra semelhança com a crise brasileira deflagrada nas ruas pedindo uma nova postura dos políticos e política brasileira que encontram-se, provavelmente, na maior crise de representatividade entre os poderes da nova República. Se a JMJ de Madri aconteceu em um clima de insatisfação política do povo que teria na eleição de novembro o seu escoadouro, no Brasil, a eleição está ainda a um ano de seu desenrolar.
Voltando ao Brasil, ver o centro da cidade do Rio de Janeiro cheio de grupo de jovens de diversas partes do mundo, caminhando e por que não, passeando, juntos, abraçados, e alguns enamorados. O sorriso, expressão da alegria interior, vem com certeza de algo maior, que supera a distância, a língua, a cultura, e ouso dizer até a teologia cristã romana, tão dogmática quanto multifacetadamente divergente. Estes jovens estão em busca do Cristo apolítico, justo e ético.
Queria destacar algumas notas sobre o Papa que percebendo cativaram-me: a simplicidade, a negação da opulência, a postura pastoral, o discurso franco, as decisões éticas, o combate à corrupção na Igreja, sua identificação pessoal com sua missão... Sei que ele não é vicário nem o vigário, que muitos acentos teológicos fazem a Palavra adquirir tom menor, e que desejaria fosse ele mais Francisco como o São e menos Papa como o Bento.
* Jouberto Heringer é reverendo e professor, atua como capelão da Faculdade Mackenzie Rio e clérigo Presbiteriano. Pesquisador em Cultos e Filosofia da Linguagem na Pós-Modernidade, é mestrando Ciências da Religião (Mackenzie/2013) e pós-graduado em Leadership (Singapore/2004) e Urban Mission (Princeton/1985). Possui graduação em Filosofia (UERJ/1991), Letras (UFRJ/1990), e Teologia (SPS/1985).
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