quinta-feira, 10 de junho de 2010

“A odisséia da farinha que veio do Acre”

Por Warner Bento Filho

Um caminhão quebrado, uma coleção de atoleiros e mais de 4 mil quilômetros rodados. Este é o saldo do esforço de um grupo de agricultores do Acre para trazer seu produto – farinha de mandioca e derivados - para a VII Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária – Brasil Rural Contemporâneo.

A odisseia acreana começou no final de maio, quando o caminhão carregado com 1,5 mil quilos de produtos partiu de Cruzeiro do Sul em direção a Rio Branco, pela BR 364. É a única estrada que dá acesso ao Vale do Juruá, onde vivem os agricultores, que integram a Cooperativa Nova Aliança dos Produtores de Farinha do Vale do Juruá (Cooperfarinha).

A via tem um pequeno trecho asfaltado – cerca de 170 km - entre Rio Branco e Sena Madureira. E todo o resto – perto de 500 km - é de terra, ou barro, dependendo da época do ano. “Na verdade, a estrada só é transitável durante quatro meses por ano”, conta a delegada do MDA no Acre, Tatiana Balzon.

“Para que a produção da Cooperfarinha chegasse em Rio Branco e fosse para Brasília, solicitamos autorização do Deracre (Departamento de Estradas de Rodagem, Infraestrutura, Hidroviária e Aeroportuária do Estado do Acre), que ainda não abriu a estrada para circulação. Ficamos por conta e risco, visto que as condições da estrada ainda estão péssimas e há vários caminhões atolados há semanas na estrada”, conta a delegada.

O primeiro caminhão contratado para fazer a viagem até Rio Branco quebrou no início do trecho, por causa das más condições da estrada. “Como nenhum caminhoneiro queria colocar seus veículos com a estrada naquelas condições, nos articulamos com o Incra, que mandou um caminhão de Rio Branco para buscar a farinha”, conta.

Todo o esforço valia a pena porque a farinha de Cruzeiro do Sul, segundo a delegada, é conhecida por ser crocante e muito saborosa. Cruzeiro do Sul, que fica no extremo oeste do Estado (e do país), tem uma hora de diferença em relação ao horário de Brasília.

Quando é meio-dia em Brasília, são onze da manhã no Acre. Cruzeiro do Sul está tão longe de Rio Branco que se relaciona mais com o Estado do Amazonas, via rio Juruá, que se liga ao rio Amazonas. Nos oito meses em que a estrada fica sem condições de uso, o rio é o único meio de transporte acessível.

Simplesmente milagroso

Segundo o presidente da Cooperfarinha, Germano da Silva Gomes, a farinha de Cruzeiro do Sul é boa por dois motivos: primeiro, pela experiência. “Comecei a fazer farinha quando tinha dez anos”, conta o agricultor, que já tem 53 anos. O outro motivo, segundo ele, é a capacitação dos agricultores. “Fizemos muitos cursos, nos preparamos. Então, o que já era bom, ficou melhor ainda”, diz.

O caminhão cedido pelo Incra partiu de Rio Branco na quarta-feira,(2), chegando a Cruzeiro do Sul dois dias depois, na sexta-feira (4). A carga foi então transferida para o veículo, que partiu imediatamente e chegou em Rio Branco depois de outros dois dias de viagem, no domingo (6). “Simplesmente milagroso”, comemorou a delegada do MDA.

Na capital do Acre, a carga foi transferida para uma carreta, junto com os produtos de outras regiões do Estado, e de lá seguiu para Brasília. A Farinha-de-Mandioca é o carro chefe da economia Juruaense e principalmente de Cruzeiro do Sul. A Cooperfarinha foi o único empreendimento do Juruá inscrito na VII Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária – Brasil Rural contemporâneo.

Na carga da Cooperfarinha há mil quilos de farinha de mandioca pura, 410 quilos de farinha de mandioca com coco – produto típico da região - 90 quilos de biscoito de goma, 200 pacotes de meio quilo de beiju de goma, 200 pacotes de meio quilo de beiju de massa e 20 quilos de açúcar mascavo.

A VII Feira Nacional da Agricultura Familiar – Brasil Rural Contemporâneo abre na próxima quarta-feira, 16, e vai até domingo (20), na concha acústica, na orla do Lago Paranoá.

Mais informações no portal do MDA.

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