terça-feira, 8 de julho de 2008

Saboaria Xapuri, iniciativa comunitária



Nesta simples casa de madeira, localizada em um bairro pobre de Xapuri, chamado Sibéria, um grupo de mulheres transforma trabalho e determinação, mesclados a elementos tradicionais da floresta, como andiroba, copaíba e outros, em uma das mais bonitas iniciativas comunitárias do Estado do Acre: a premiada Saboaria Xapuri.

Raimari Cardoso
Joseni Oliveira


A falta de empregos fez a Associação de Moradores do Bairro Sibéria, em Xapuri, buscar formas alternativas de gerar renda a partir do trabalho comunitário. A pequena fábrica de sabões e sabonetes, produzidos a partir de sebo de gado ou restos de gordura da cozinha é uma dessas idéias que têm dado certo, apesar da falta de incentivo e até mesmo da falta de vontade política e má-fé de algumas autoridades.

Lideradas por Carmita Pereira de Souza, as mulheres do bairro Sibéria logo descobriram que além do sabão, poderiam produzir e vender detergentes, desinfetantes e ainda sabonetes e outros produtos de beleza aromatizados à base de óleo de copaíba, andiroba e diversas ervas da floresta, gerando ocupação e renda para a comunidade.

Foi assim que surgiu a Saboaria Xapuri, no dia 17 de junho de 1990, que com apoio tecnológico da Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) e empresarial do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), está prestes a colocar formalmente seus produtos no mercado, atingindo, finalmente, seu objetivo de gerar emprego e renda para aquela comunidade, tida como uma das mais organizadas de Xapuri.



No decorrer de seus 18 anos de funcionamento, a Saboaria Xapuri já recebeu dois prêmios importantes. No ano de 1996 a fábrica foi vencedora do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica na categoria Inovação Social e em 2006 recebeu o Prêmio Chico Mendes de Florestania.

A coordenadora-chefe da saboaria, Carmita Pereira de Souza, que participou da fundação da fábrica há 18 anos, conta que antes as condições do espaço físico eram precárias, mas que hoje a situação é melhor. “No início construímos um chapéu de palha com muita dificuldade, fizemos um bingo para arrecadar o dinheiro para comprar o material e pagar a mão-de-obra. Hoje, graças a Deus, o espaço está bem melhor, pois conseguimos ampliá-lo e compramos novas máquinas para aperfeiçoar o sabão”, comemora ela.

Apesar do otimismo de dona Carmita, a situação do empreendimento comunitário poderia ser outra - muito melhor - não fosse a falta de compromisso da atual administração municipal. Os recursos de um convênio com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, destinados à melhoria das condições físicas e de funcionamento da indústria artesanal não foram, até o momento, aplicados pela prefeitura, prejudicando sobremaneira o bom andamento da atividade.

O convênio de nº 562973 , que pode ser consultado no Portal da Transparência, firmado entre prefeitura de Xapuri e o referido Ministério, tem por objetos a "construção de açudes, construção de fábrica de sabonetes e compra de veículo traçado". Do valor de R$ 134.381,00, destinados aos três objetos, R$ 37 mil foram destinados à construção da fábrica, segundo à direção da associação de moradores, mas apenas o "veículo traçado" foi comprado e, mesmo assim, teve a sua finalidade desviada.

O carro serviria para dar suporte às duas outras atividades, ou seja: à saboaria e à piscicultura que seria desenvolvida nos açudes que também nunca foram construídos. Ao contrário disso, o prefeito adquiriu uma caminhonete de luxo para passear no asfalto e atender ao seu gabinete, sem oferecer nenhuma assistência à população, e ainda tentou devolver à fonte o dinheiro que sobrou, numa clara atitude de má-fé e falta de vontade com a comunidade do bairro.

De acordo com o presidente da Associação de Moradores do Bairro Sibéria, João Jorge Cosmo da Silva, se os recursos tivessem sido aplicados no ano passado, como estava previsto no projeto, seriam suficientes para adequar a fábrica às exigências do Departamento Estadual de vigilância Sanitária e de outros órgãos fiscalizadores. Além disso, segundo ele, poderiam estar sendo gerados mais 10 empregos diretos para a população, sem contar com um maior volume de matéria-prima que estaria sendo comprada, gerando renda para os seringueiros.

Atualmente, a Saboaria Xapuri tem apenas cinco funcionárias e funciona no período da tarde. Nos últimos meses a fábrica aumentou sua capacidade de produção, chegando a fabricar cerca de 1.600 unidades de sabonetes por mês. A produção de detergente também aumentou, passando de 400 litros para 800 litros por mês. Essa produção, no entanto, não pode ser formalmente comercializada por não estar adequada às exigências da lei pela falta dos investimentos supracitados.

João Jorge explica que os produtos são comercializados informalmente, no mercado local, e que para garantir a segurança dos consumidores, a Funtac participa como parceira trabalhando a melhoria da qualidade e apresentação do produto, além de testar a pureza dos óleos regionais de copaíba, andiroba e outros elementos naturais utilizados na produção dos sabonetes. Segundo ele, há procura pelo produtos em várias regiões do país e até mesmo do exterior, depois de alguns exemplares de sabonetes serem levados por turistas para diversos lugares.

"Nós estamos tentando conseguir que a prefeitura conclua a execução do projeto e torne possível os investimentos na fábrica, que serão muito importantes para a formalização da nossa produção. Com isso, poderemos contratar um químico responsável que assine o nosso produto para que possamos conseguir, também, a autorização da Vigilância Sanitária para funcionarmos", diz o presidente da associação.

Apesar dos obstáculos impostos pela falta de recursos financeiros, continua firme o propósito das valentes mulheres da Saboaria do bairro Sibéria, em Xapuri, de desenvolver um trabalho comunitário, com práticas populares de fabricação de sabões, sabonetes e outros produtos naturais, utilizando recursos da floresta, na busca por uma melhor qualidade de vida e dignidade, com base no caráter sustentável e no grande alcance social da sua produção.

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