sábado, 1 de fevereiro de 2020

Ataque à liberdade de expressão deixou Xapuri menor

A liberdade de expressar sua opinião e divergir de outras quando se acha conveniente é uma das mais belas características da democracia moderna. Essa garantia está consolidada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU), e deveria estar contida nos princípios de todos, especialmente daqueles que se propõem a representar o povo.

Infelizmente, não é o que ocorre. Restringir a circulação de ideias e atacar a liberdade de expressão são práticas antigas que perduram até os dias atuais. São promovidas por indivíduos que passam a acreditar que apenas são válidas as informações ou opiniões que favoreçam os seus interesses pessoais, sejam políticos ou de qualquer outra natureza. Se pudessem, restringiam até o pensamento.

Passa por aí a minha recente remoção do quadro do Sistema Público de Comunicação do Acre, depois de 31 anos de serviços prestados ao rádio. Solicitada por políticos de boa-fé duvidosa e seus pupilos mimados, a medida foi endossada pelo governo do estado, na pessoa da secretária de comunicação Silvânia Pinheiro, por quem, até então, eu mantinha uma relação sincera e respeitosa. De minha parte, a sinceridade e o respeito prosseguem.

Silvânia nada tem contra mim e muito menos contra a maneira com que eu fazia meu trabalho nas rádios Difusora e Aldeia em Xapuri. Pelo menos foi isso o que ela me afirmou por diversas vezes. Mas pressionada pelo filho do deputado Antônio Pedro, Aílson Mendonça, que sonha em ser prefeito da cidade, achou por bem me deportar da Secom, apesar de haver garantido anteriormente que essa prática nefanda não ocorreria no governo de Gladson.

Quem acompanhou meu trabalho nas emissoras de rádio dos Sistema de Comunicação do Acre sabe que, mesmo tendo liberdade para isso, não sou crítico e muito menos tenho má vontade com o atual governo. Por sinal, passei até a admirar a figura do governador pela maneira gentil e atenciosa com que que me atendeu nas poucas oportunidades em que precisei o entrevistar. Não quero também desviar o foco para o governo, pois a raiz da perseguição política que sofro e que me impede de desempenhar minha função de radialista está enraizada em Xapuri.

Ocorre que o meu entendimento de rádio pública é o de que ela tem o objetivo e a obrigação de atender as demandas da sociedade por informação e ser o canal por meio do qual a população pode levar até o governo as suas reivindicações sobre os problemas que muitas vezes são desconhecidos do próprio governador. A base do meu trabalho sempre foi essa, seja com relação ao governo do estado ou com o município.

E a perseguição contra mim começou exatamente no instante em que fiz seguidas reportagens sobre a falta de médicos no hospital de Xapuri. Não em tom de denúncia, que em minha opinião não é próprio de rádio pública, mas identificando as deficiências e buscando explicações junto à gerência do hospital e da Sesacre e, mais do que isso, apresentando propostas e abrindo espaço para que os moradores da cidade participassem do debate.

Como o diretor do hospital de Xapuri, João Honorato Cardoso, é nomeado por indicação do deputado Antônio Pedro, o grupo político que se arvora a dono da estrutura estatal no município se abespinhou e foi iniciada uma onda de perseguições e ameaças relacionadas a minha retirada dos microfones das emissoras de rádio do governo. Cheguei a ser chamado duas vezes à Secom em razão dessa situação, para mim, vexatória e humilhante.

Outra razão do descontentamento dos donos do partido Democratas – vejam que ironia – em Xapuri é um trabalho colaborativo que faço para o site ac24horas. As matérias que versam sobre a conjuntura política atual os deixam de cabelos em pé por uma razão muito simples: o projeto político deles está desbarrancando em razão de uma estratégia baseada em perseguição à aqueles que possuem posição política contrária.

Estão atônitos com a manifestação da população via levantamentos internos que hoje colocam o MDB como o principal adversário do prefeito petista Bira Vasconcelos, favorito a se reeleger. Os emedebistas já haviam rachado com a dupla pai e filho em razão da má distribuição dos cargos pelo novo governo. Agora, os antigos aliados não desejam dialogar com eles também porque estão mais bem avaliados e demonstram que, mesmo em uma possível reconciliação, não abrirão mão da cabeça de chapa.

A minha retirada das rádios agrada a essa gente por uma razão também muito simples: eles sabem que a troca de ideias, as discussões e a informação imparcial encoraja a sociedade a mudar aquilo que se mostra como ineficiente para a cidade, como é o caso do próprio mandato do deputado, que mesmo tendo sido renovado não mostra resultados produtivos, em minha opinião, mas que logo a própria sociedade terá uma nova chance de se manifestar a respeito, quando o pupilo do parlamentar disputar a prefeitura.

Eles sabem que a liberdade de expressão limita o abuso de poder que tem se manifestado em Xapuri pela caça a pessoas que ocupam cargos provisórios nos órgãos estaduais, a maioria com remuneração em torno de um salário mínimo, para serem substituídas por paus mandados dessas figuras que, com esse comportamento, apenas têm cultivado a ojeriza e a repugnância de muita gente, além de jogar pra baixo a popularidade do governo que dizem defender. Setores do governo estão sendo transformados em verdadeiros currais e o que eu denuncio aqui não é nenhuma novidade. Todo mundo sabe disso.

A verdade é que essa manifestação pornográfica de perseguição política tornou Xapuri menor. A grandiosidade que a cidade possui por sua história, pela tradição de formar grandes brasileiros, por ainda ser um dos lugares mais pacatos do Acre, de gente honesta e ordeira, está sendo substituída pela pequenez da ambição política, pela perda de valores morais, como o caráter e o respeito pelas pessoas, pela arrogância e prepotência de gente que possui sérios problemas de baixa autoestima e que busca sanar a falta de amor próprio praticando tiranias com base em um suposto poder ilusório e efêmero.

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