José Cláudio Mota Porfiro
O que chamamos cultura tem duas formas, ou modos. A cultura é uma espécie de aperfeiçoamento que cada um vai fazendo da sua própria vida. Esse grande estágio se faz por dois caminhos. O aprimoramento direto se chama arte e o indireto é ciência. Pela arte nos aperfeiçoamos a nós mesmos. Pela ciência, edificamos em nós o nosso conceito de mundo. Para que fique mais claro, a cultura é um caminho que nos leva à edificação do espírito.
Por isto, a cultura é uma necessidade imprescindível por toda a vida do homem produtivo. É uma dimensão que constrói o ser humano, assim como as mãos são atributos que temos para a realização de qualquer obra.
Então, no que se relaciona à questão da disseminação real da cultura, o interior do Estado do Acre se recente da falta de políticas públicas concretas que lancem luzes para o longo prazo, que se efetivem de forma a que os eventos não sejam esporádicos, mas que busquem a tradição, como outrora, quando os homens e mulheres dos primeiros tempos, no início e em meados do século passado, notadamente os nordestinos, portugueses, sírios e libaneses, fizeram erguer, a custo próprio, um teatro que recebeu companhias até estrangeiras, que traziam a ópera para estes recantos tão ermos, principalmente, se observarmos a época em que tais eventos ocorreram.
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Foram esses mesmos pioneiros que ergueram o Cine Rialto, que exibiu o festejadíssimo, internacionalmente, Marcelino Pão e Vinho, filme com base no romance do espanhol Jose Maria Sánchez Silva, bem como muitas outras produções do tempo do cinema mudo.
Na mesma época, foi erguida uma associação comercial em estilo art nouveau. Assim como foram construídos os dois colégios Divina Providência e as duas igrejas de São Sebastião. Neste mesmo tempo, surgia o inconfundível Maestro Zeca Torres e a sua banda municipal. Por muitos anos, sob a batuta do grande músico, os desfiles de 5 e 7 de setembro foram exibições de gala a partir de um povo interiorano que ainda ama a Pátria, porque foi à guerra e derramou lágrimas e sangue, para poder viver esse amor mais pleno por todo o sempre.
Foi em Xapuri onde ocorreu a primeira partida de futebol em terras acreanas. No velho estádio da Rua Vitorino Maia, desfilaram craques que depois brilharam na capital e em outras plagas pelo Brasil afora. Incluam-se nesta síntese, ainda, as casas comerciais e as residenciais que eram verdadeiros monumentos em homenagem à economia da borracha... E tudo apenas com o próprio dinheiro dos pioneiros ou com as arrecadações feitas pelos padres e freiras católicos junto ao povo.
Não havia a dependência das verbas governamentais. Este tipo de sensibilidade estatal só se cristalizou bem depois, com o passar do tempo. Depois dos anos oitenta, as instâncias públicas começaram a fazer a sua parte. Mas o Acre, desde sempre, deu significado às propaladas distâncias amazônicas, uma expressão imprópria, inconveniente, inadequada, que serviu de justificativa para políticos nossos que não tinham nenhum amor por esta terra. Por outro lado, também os demais estados do Brasil, de norte a sul, com raras exceções, lutavam para se estabelecer enquanto unidades federativas viáveis e estavam - como estão - localizadas próximas aos centros das decisões mais importantes que poderiam ajudar a todos e não apenas a uma meia dúzia.
É oportuno levar em consideração que há pontos de cultura em todo o Estado do Acre. Boa parte deles são reflexos dos esforços dos homens e mulheres dos primeiros tempos. Outros, por demais interessantes, exuberantes mesmo, foram erguidos agora, a partir de 1998, principalmente em Rio Branco.
Assim, a ideia que norteia o projeto da construção do Centro Cultural de Xapuri tem base na revitalização do antigo Bilhar Clube e na necessidade de um uso efetivo dos espaços a partir de políticas públicas que tenham foco, principalmente, na extrema utilidade social de uma casa de cultura que tenha vida real. (Sim, porque pontos turísticos e culturais como a Fundação Chico Mendes não vivem, mas vegetam na eterna dependência de quem lhes estenda a mão com um centavo que lhes supra as necessidades mais elementares).
Considere-se, então, o benefício social de que se reveste a construção do Centro Cultural de Xapuri. A juventude sem rumo e sem perspectivas pode ter em espaços como o que propomos o seu norte e o seu futuro, principalmente, aqueles tantos que enveredaram pelo mundo obscuro das drogas por falta do algo mais que pode significar a salvação de muitos.
Um garoto ou uma garota que tem a certeza de que a partir de janeiro os esforços serão redobrados para o alcance de uma medalha, com certeza, irão treinar ou ensaiar e não irão frequentar locais onde as influências lhes levem no rumo dos caminhos sem retorno.
É claro que o espaço para os grandes bailes tradicionais deverá ser garantido. Da mesma forma, os encontros anuais dos músicos de Xapuri não serão esquecidos. Para tanto, há, já, o esboço de um calendário para as atividades do gênero.
Todavia, com a aquisição do terreno onde se localizava o Cine Rialto, ao lado do antigo Bilhar Clube, serão instalados espaços para a prática de esportes, como a capoeira e o judô. Aí, também, em uma outra sala, serão oferecidas aulas de dança popular ou de cunho clássico, oficinas de cinema, teatro e literatura. Haverá os locais para o aprendizado do artesanato e das confecções de tecido ou crochê ou tricô, dentre muitas outras possibilidades.
Uma coordenadoria de cultura planejará e executará atividades relativas aos eventos e às atividades voltadas para a área em pauta. Uma outra coordenadoria planejará e executará as atividades esportivas, como os campeonatos e os torneios anuais das mais variadas modalidades esportivas possíveis. Uma presidência responsabilizar-se-á pela absorção dos recursos do Ministério da Cultura, dentre outras instâncias inclusive da iniciativa privada, que farão frente ao cumprimento efetivo das políticas próprias do futuro Centro Cultural de Xapuri. É claro que os coordenadores e o presidente, bem como todos os funcionários de apoio, serão pessoas da comunidade que demonstrem sensibilidade para com a causa em questão.
A denominação Centro Cultural de Xapuri ainda é provisória. Os mentores deste projeto jamais tomariam para si os direitos inalienáveis que têm os xapurienses. Haverá o momento certo para que a comunidade escolha a denominação que melhor lhe aprouver, segundo uma enquete (ou pesquisa) a ser feita entre os munícipes.
Certo é que a juventude não pode ficar ociosa sob pena de, mais tarde, ao invés de construirmos centros culturais e escolas, estarmos construindo mais estabelecimentos penitenciários, o que, em si, já é uma grande lástima e o problema social mais sério vivido pelos brasileiros.
Há de se considerar que o que deve caracterizar a juventude, conforme Sócrates, o clássico grego, é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça e a educação. São estas as virtudes que hão de erguer o seu caráter.
Ainda com relação aos cuidados que os mais velhos devem ter para com os mais jovens, é oportuno lembrar o que deixou escrito e gravado o bom Elvis Presley.
Tudo o que os jovens precisam é de esperança e do sentimento de que pertencem a algo ou a alguém de um modo especial. Se eu pudesse dizer ou fazer alguma coisa que forjasse neles esse sentimento, eu acredito que poderia ter contribuído muito mais para a construção de um mundo melhor.
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