Leonildo Rosas
“Eu Não Vim Fazer Discurso” é um livro que reúne várias manifestações públicas do escritor colombiano Gabriel García Marquez. Os textos são ótimos, mas um deles, produto de um discurso feito em Caracas, capital da Venezuela, em maio de 1970, chamou a minha atenção por ser comparado ao realismo fantástico que alguns políticos, setores da imprensa e minúsculos segmentos tentam fazer a população acreana crer.
García Marquez falou sobre uma ideia que tinha em mente e que poderia ser transformada em um livro. Não posso afirmar se o livro de fato saiu.
Segundo ele, o enredo aconteceria num pequeno povoado, onde uma velha senhora teria dois filhos - um de dezessete anos e outros de quatorze.
Certo dia, ao acordar, a mulher teria dito:
- Não sei, mas amanheci com o pensamento de que alguma coisa muito grave vai acontecer neste povoado.
Os filhos riram e saíram. Um deles foi jogar bilhar, e, na hora que ia fazer uma jogada simples, um adversário provocou:
- Aposto um peso como você não consegue. Todos riram, ele riu, mas não conseguiu efetuar a jogada.
O filho pagou a aposta e ouviu a pergunta:
- O que será que aconteceu, se era uma jogada tão simples?
Ele respondeu:
- É verdade, mas fiquei preocupado com o que a minha mãe me disse essa manhã sobre alguma coisa grave que vai acontecer neste povoado.
O que ganhou a aposta voltou para casa e disse para seus familiares:
- Ganhei esse peso de maneira mais simples porque ele é um bobão.
Sua mãe perguntou:
- Bobão por quê?
A resposta:
- Ora, porque não conseguiu fazer uma jogada simples, estorvado de preocupação porque a mãe dele amanheceu hoje com a ideia de que alguma coisa muito grave vai acontecer neste povoado.
Então a mãe diz:
- Não deboche dos pressentimentos dos velhos porque às vezes acontecem.
Outra parente que ouviu a conversa saiu para comprar carne e disse ao açougueiro:
- Quero meio quilo de carne.
No momento em que ele estava cortando, ela acrescentou: - Ou melhor, me dê logo um quilo, porque estão dizendo por aí que alguma coisa grave vai acontecer, e é melhor estar preparada.
O açougueiro entregou a carne e quando chegou outra senhora para comprar meio quilo, disse:
- É melhor levar um quilo porque o pessoal está dizendo que alguma coisa grave vai acontecer, e está todo mundo se preparando, comprando coisas.
Então a mulher respondeu:
- Tenho vários filhos; olha aqui, é melhor me dar logo dois quilos.
Em meia hora o açougueiro vendeu todo o estoque, matou outra vaca, vendeu tudo, e o rumor foi aumentando.
Até que chegou o momento em que todos do povoado ficaram esperando que alguma coisa acontecesse. As atividades foram paralisadas e, de repente, às duas da tarde fez o calor de sempre. Alguém comentou:
- Vocês estão percebendo o calor que está fazendo?
- Mas aqui sempre fez calor, disse outro.
Uma terceira pessoa arrematou:
- Mesmo assim nunca fez tanto calor a essa hora.
No povoado, na praça deserta, baixou de repente um passarinho, e correu a voz:
- Tem um passarinho na praça.
E todo mundo foi, espantado, ver o passarinho.
- Mas, meus senhores, sempre houve passarinhos que pousam na praça.
- Pois é, mas nunca nessa hora.
A tensão no povoado aumentou e, como não podia deixar de ser, cresceu o desespero para ir embora, mas ninguém tinha coragem.
- Eu, sim, sou muito macho, gritou e um deles, e vou embora.
O corajoso pegou seus móveis, seus filhos, seus animais, meteu tudo numa carreta e atravessou a rua principal onde o pobre povo ficou vendo aquilo. Até o momento em que disseram:
- Se ele se atreve a ir embora, pois nós também vamos. E começaram a desmontar o povoado. Levaram embora as coisas, animais, tudo.
Um dos últimos a abandonar o povoado disse:
- Que não venha uma desgraça cair sobre o que sobra da nossa casa. E então incendiou a casa, e outros incendiaram outras casas.
Todos fugiram. No meio deles ia a senhora que tivera o presságio, clamando: - Falei que alguma coisa muito grave iria acontecer e disseram que eu estava louca.
A história contada há quase 42 anos parece muito com o comportamento da oposição no Acre. Sem rumo, sem proposta e sem credibilidade, os opositores apostam nos rumores, boatos e mentiras para tentar plantar o sentimento de que algo muito grave acontece no Estado.
Diariamente, eles trabalham para proclamar um caos que não existe, esquecendo-se, propositalmente, dos avanços experimentados no Acre nos últimos anos.
Sob a governança da Frente Popular, o Acre ganhou um rumo. Passou estar afinado com a boa política e a diminuir o fosso histórico entre o real e o discurso.
Citando outra obra de García Marquez, o Acre rompeu mais de 100 anos de solidão e de descompasso patrocinado por políticos que se preocupavam muito mais com os seus negócios particulares do que com o bem-estar da sociedade.
Agora, no ano em que completa 50 anos como Estado, o Acre vive um novo tempo. As perspectivas são as melhores. Chegou o momento da afirmação econômica com combate às desigualdades.
O governador Tião Viana terminou o primeiro ano de mandato com aprovação popular invejável. Conseguiu ampliar o diálogo com os diversos setores e demonstra a cada ação que fez a opção pelos mais humildes.
Os desafios são grandes. Mas estão longe do realismo fantástico pregado pela oposição.
Ninguém que sair e ir embora. O momento é de continuar a construção à altura dos nossos sonhos.
Ninguém veio apenas para fazer discurso. A população acreana está vendo e aprovando.
O jornalista Leonildo Rosas é Secretário de Comunicação do Governo do Acre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário