Camisinha de látex nativo é 7% mais resistente e contém menos minerais, indicam testes preliminares. Os testes revelaram que no látex nativo a presença de minerais é 50% menor que no látex de cultivo.
A Natex, fábrica de preservativos masculinos de Xapuri, está em fase final de consolidação industrial e em dois meses, quando a certificação estiver concluída, inicia a produção em escala para suprir os programas do Ministério da Saúde com 100 milhões de unidades ao ano. A fábrica é a primeira do mundo a usar látex de seringal nativo e a única a manter em sua planta a usina de centrifugação. Esse agregado deverá a primeira a obter certificação de Boas Práticas e do ISSO 9000, selos que asseguram variantes de qualidade da mercadoria, sua cadeia produtiva e linha de produção.
As características comerciais da camisinha da Natex são similares às marcas tradicionais: tamanho stander (cerca de 180 milímetros) liso, opaco e com reservatório. Os valores somente serão confirmados a partir da intensificação dos testes.
Químico e administrador de empresas, Hamilton Bonveti aposentou-se após trinta anos trabalhando exclusivamente com fabricação de camisinha mas em seguida foi contratado como consultor da Natex. Segundo ele, há 14 meses no Acre, o preservativo acreano alcança o mercado com cerca de 10% a menos de custo de produção. Hamilton trabalhou nas três indústrias existentes no Brasil -Jonhson & Jonhson, Inal e Blowtex -e vê no projeto "algo diferente, um desafio interessante".
A Natex tem fornecedores em 700 colocações georeferenciadas e com banco de dados socioeconômicos. Em 2000, quando o projeto começou, o próprio processo tratou de criar a figura do "pára-florestal", pessoas que conheciam a realidade das comunidades extrativistas que serviam de assistentes para os técnicos. Um dos remanescentes dessa geração trabalha atualmente na usina de centrifugação da Natex.
Ricardo Ferreira da Silva, 25, conhece com detalhe cada etapa do projeto e sabe que não se trata de apenas mais um empreendimento comercial. "Muita gente está sendo beneficiada", diz. De fato, a cadeia de produção envolve centenas de famílias que tiveram suas colocações georeferenciadas para se saber exatamente quem são, onde estão e como vivem os extrativistas que fornecem látex para a fábrica. A área de abrangência da fábrica chega a um milhão de hectares. Os seringueiros estão treinados e aptos à participarem do projeto mas novos trabalhadores se juntaram ao processo porque a área construída da fábrica prevê ampliação de maquinários para produção de mais 180 milhões de preservativos. No total, deverá produzir 280 milhões de unidades/ano.
A Natex paga R$4,10 pelo quilo de látex já computado o subsídio estadual. O programa que a mantém envolve 24 seringais da Reserva Extrativista Chico Mendes e adjacências. Em sua plenitude, pelo menos 700 famílias estarão fornecendo o látex. De acordo com a Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) a infra-estrutura logística envolve diretamente 1.000 famílias que residem na área e indiretamente toda a população de Xapuri.
"Estamos em fase treinamento de pessoal e de conclusão da certificação para iniciar a produção em escala", explicou Dirlei Bersch, gerente geral da fábrica.
Experimentos mostram superioridade nativa
Foram investidos R$34 milhões na unidade que se assemelha a uma estação de experiências. Ali, por exemplo, descobriu-se que a rentabilidade do látex nativo é 7% ou 8% superior a do látex extraído em seringal de cultivo. Lotes da camisinha da Natex chegaram a suportar 50 litros de ar no teste de capacidade volumétrica enquanto a o similar fabricado no sistema tradicional agüentou máximo de 36 litros de ar antes de estourar. Isso não quer dizer que seja de má qualidade mas mostra que o material de látex nativo tem realmente mais resistência.
Os testes revelaram que no látex nativo a presença de minerais é 50% menor que no látex de cultivo. "No seringal nativo não há uso de produtos como ferro ou zinco para manter a produção", diz o gerente industrial da fábrica, David Melo, buscando explicar esse teor. Menos minerais significa mais resistência.
Quanto à pressão, realizada no mesmo teste, a camisinha convencional marca 1,80 Kpa e a nativa, até 2,1 Kpa, uma das medidas para definir a qualidade do produto. Pela regulamentação internacional do protocolo RCA, a marca mínima é 1.
Parte do projeto do látex, Fogão Geraluz completa um mês.
Como benefício social o projeto está implantando melhorias que englobam a implantação de módulos sanitários e de captação de água, além de placas solares e fogões que cozinham e produzem eletricidade ao mesmo tempo.
O fogão foi entregue experimentalmente há um mês na reserva Chico Mendes para famílias que moram distante da rede convencional. De acordo com Antonio Maia, trabalhador da Natex e cuja casa está sendo iluminada com o Geraluz, sua família já não consegue mais ficar sem a mini-usina cedida pelo Governo do Acre. "É muito bom. A luz é boa, a gente liga o rádio e pode cozinhar", diz ele, que mora na Colocação Rio Branco, no Seringal Floresta.
A Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) entregou 25 unidades da usina.
DADOS GERAIS DA FÁBRICA DE CAMISINHAS MASCULINAS DE XAPURI
*Produção anual: 100 milhões de unidades ao ano
*Empregos diretos: 150
*Seringueiros envolvidos na coleta do látex: 400 famílias (1º ano)
*Consumo anual de látex: 500 mil quilos (in natura)
*Investimentos: R$34 milhões
Impacto é redução do desmate e inclusão social
Mesmo sem operar comercialmente, a Natex já produz impactos sociais, econômicos e ambientais. "O seringueiro não quer mais derrubar porque sabe que pode ganhar dinheiro com a mata", diz Julielmo de Aguiar Corrêa, gerente da usina de centrifugação de látex da Natex, baseado na experiência de vários anos convivendo com as comunidades. Segundo ele, há seringueiros que chegam a ganhar R$1,4 mil por mês durante o trimestre da extração. A notícia tem levado ao repovoamento de muitas colocações que estavam abandonadas.
Nesta fase, a fábrica emprega 70 pessoas, todas moradores da região.
Edmilson Ferreira
Agência de Notícias do Acre
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