Sabe-se, desde a semana passada, que as autoridades de segurança do Pará não têm nada a ver com o martírio da adolescente que conviveu com mais de 20 homens numa cela de delegacia paraense. O país cobra, porém, um culpado – ou culpados.
Busca-se freneticamente um demônio, qualquer demônio, para lhe devolver a guarda de todas as culpas. Alguém que possa eximir uma delegada, uma juíza, uma secretária de segurança, uma governadora, um governo inteiro do exame de todo o mal. A começar pelo mais difícil dos exames: o auto-exame.
Deve-se ao delegado geral da Polícia Civil do Pará, Raimundo Benalussy, a descoberta do demônio, esta deidade de mil e uma utilidades. Atende pelas iniciais L.A.B.. Veste saias. Tem 15 anos. Sim, ela mesma. A culpada de o Brasil ter escalado o noticiário internacional como uma nação de selvagens é justamente a vítima da selvageria.
Em audiência pública realizada no Senado, o delegado Benalussy declarou que a menina L.A.B. “tem certamente alguma debilidade mental". Por que? Ora, porque "em nenhum momento ela manifestou sua menoridade penal" às autoridades que a trancafiaram na cela com mais de 20 marmanjos.
Cezar Britto, presidente nacional de OAB, estranhou: "Mata-se [o índio] Galdino e dizem 'desculpa, pensei que era um mendigo'. Ataca-se uma empregada doméstica, 'desculpe, pensei que era uma prostituta'. Agora se diz a mesma coisa, 'não sabia que era uma adolescente', como se fosse menor o crime de ter uma mulher sendo estuprada sob os olhos coniventes do aparelho estatal."
A governadora Ana Júlio Carepa desautorizou o subordinado Benalussy. Mas esquivou-se de dizer se vai afastá-lo de suas funções. Quanto a L.A.B., a grande culpada, aguarda pelo resultado dos exames que irão informar se contraiu Aids ou se saiu grávida do cárcere paraense de Abaetetuba. De concreto, por ora, tem-se apenas que as autoridades do Pará não têm nada a ver com nada.
Do blog do Josias de Souza.
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