quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Marina deixa o PT



A senadora Marina Silva não é mais do PT. Ela comunicou a decisão por telefone ao presidente nacional do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), na manhã desta quarta, e também entregou uma carta (veja a íntegra do documento no Blog da Amazônia) em que justificou a sua saída do Partido dos Trabalhadores.

Leia a seguir reportagem de Maurício Savarese*, do UOL Notícias em São Paulo.

Marina Silva anuncia saída do PT sem confirmar ida ao PV

Ex-ministra do Meio Ambiente e referência mundial em militância por causas ecológicas, a senadora acreana Marina Silva, 51 anos, anunciou nesta quarta-feira (19) a saída do PT, partido pelo qual militou por 30 anos. Ela deve seguir para o PV, em uma negociação que envolve a candidatura dela à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010.

"Cheguei à conclusão de algo muito semelhante ao que fiz há 35 anos, quando decidi, aos 16 anos, sair do seringal Bagaço. Naquele momento tinha sonho de cuidar da saúde, que era frágil, de estudar. Não foi fácil, mas eu tive a coragem de fazer o pedido ao meu pai que deu sua anuência e eu fui para Rio Branco. Uma decisão difícil. Recorro a essa história para dizer como cheguei à decisão de me desligar do Partido dos Trabalhadores", disse Marina em entrevista coletiva.

A senadora afirmou que ainda não se filiou a outro partido, o que deve acontecer nos próximos dias, segundo seus interlocutores.

"Nesse momento, eu devo dizer que não se trata ainda de anunciar a filiação a outro partido. Quero deixar isso muito claro. Eu precisava primeiro decidir se deixava ou não o Partido dos Trabalhadores. A partir de agora, me sinto livre pra fazer essa transição", afirmou.

"O anúncio agora é sobre minha desfiliação do PT. Agora vou estar em conversações com o PV, obviamente respeitando o prazo para filiações partidárias.

"Depois de ser pressionada por colegas, como o ex-governador do Acre Jorge Viana e o governador da Bahia, Jaques Wagner, a não deixar o PT, Marina deixou um recado para os que ficam no partido.

"Esse gesto não se trata de desconstituir os sonhos construídos durante tantos anos, tanto trabalho, no PT. Trata-se somente da disposição de semear em outras searas. Essa luta não é só de um partido, deve ser de todos os partidos, das empresas, da comunidade científica, dos movimentos sociais", afirmou.

Questionada sobre críticas de que sua eventual candidatura à Presidência serviria apenas para estimular o debate sobre políticas ambientais, Marina rebateu: "Só acha o conteúdo monotemático quem não sabe que falar de desenvolvimento sustentável é resposta para todos os setores da sociedade".

Candidatura a presidente

Nascida com o nome de Maria Osmarina Silva de Lima, ela é vista como ameaça aos candidatos da base do governo nas eleições presidenciais. De acordo com uma pesquisa do instituto Datafolha divulgada no último domingo, ela já conta com 3% das intenções de voto - concentrados nas classes mais ricas e bem informadas - apesar de ter sido incluída nesse debate somente desde o início deste mês.

Marina deixou a administração federal após mais de cinco anos e quatro meses por conta de divergências com o grupo liderado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto. A saída dela foi noticiada pela imprensa mundial como um golpe contra a preservação da Floresta Amazônica.

Marina Silva exerce seu segundo mandato no Senado. Foi eleita pela primeira vez em 1994, aos 36 anos, e naquele mesmo ano se tornou nome natural do PT para a pasta do meio ambiente no caso de vitória de Lula, o que aconteceu em 2002.

Figuras importantes do PT, como o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, chegaram a sinalizar que o partido poderia tentar reaver o mandato de Marina como senadora por conta da troca de partido, já que seu suplente na Casa, Sibá Machado, foi aliado fiel do Palácio do Planalto ao longo da permanência da acreana no ministério. Mas as principais lideranças petistas já descartaram o movimento.

Trajetória

Marina nasceu em uma família pobre no seringal Bagaço, a 70 km de Rio Branco. Dos onze filhos do casal Pedro Augusto e Maria Augusta, três morreram ainda pequenos. A senadora se tornou a segunda mais velha entre os oito sobreviventes, sete mulheres e um homem. Trabalhou como empregada doméstica e seringueira para ajudar a família e custear seu tratamento de hepatite, doença que contraiu ainda jovem.

Estudante de cursos supletivos, Marina só foi alfabetizada quando adolescente. Depois, graduou-se em História pela Universidade Federal do Acre, onde descobriu o marxismo na década de 1980. Foi ali que entrou para o Partido Revolucionário Comunista (PRC), grupo semi-clandestino de oposição ao Regime Militar (1964-1985). Começou a dar aulas de História e a frequentar as reuniões do movimento sindical dos professores.

Ao lado de Chico Mendes, Marina assumia na maior parte do tempo a liderança do movimento sindical no Estado. E foi para ajudá-lo na candidatura a deputado estadual que ela passou a oficialmente integrar o PT, em 1985. No ano seguinte, fez dobradinha com o líder seringueiro para tentar se eleger deputada federal.

Marina ficou entre os cinco candidatos mais votados no Estado, mas o PT não alcançou o quociente eleitoral e ela não conquistou a vaga para a Câmara Federal na Constituinte. Chico Mendes também não chegou à Assembléia Estadual.

Em 1988, foi eleita como a vereadora mais votada para a Câmara Municipal de Rio Branco, a única declaradamente de esquerda. Em dois anos de mandato como vereadora, Marina atraiu atenção da mídia nacional ao devolver o dinheiro de gratificações, auxílio-moradia, e outras benesses que os demais vereadores recebiam.

Em 1990, candidatou-se a deputada estadual e foi eleita. O PT e os partidos coligados elegeram três membros da assembléia e conseguiram colocar Jorge Viana no segundo turno das eleições para o governo do Estado.

No final do primeiro ano de mandato, Marina passou mal após uma viagem ao interior e teve de ser hospitalizada. Começou um longo período de sofrimento que só foi amenizado com a vinda dela para São Paulo, onde recorreu à ajuda de Lula, José Genoíno e outros líderes do PT para conseguir um melhor tratamento e exames mais completos. O diagnóstico foi de contaminação por metais. Recuperada, disputou e venceu a eleição para o Senado Federal.

Polêmicas

Acreana é evangélica e mais jovem frequentou as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), grupos católicos afinados com pensadores de esquerda. Quando adolescente chegou a ser noviça, mas acabou desistindo da carreira no clero. É acusada por adversários de, mesmo no Ministério do Meio Ambiente, dar ouvidos a teses anticientíficas como o criacionismo -- que faz interpretação literal da Bíblia para explicar o surgimento do Universo.

Os adversários também a definem como uma "trava obras", por conta da suposta demora de sua pasta na concessão de licenças ambientais para a construção de hidrelétricas, estradas e outras obras públicas. Ela responde que não mudou seu compromisso desde os tempos da amizade com o Chico Mendes, assassinado há 20 anos, dois meses depois da eleição de Marina para a Câmara de Vereadores de Rio Branco. Juntos, os dois fundaram a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre.

Sua biografia a credenciou a receber do jornal britânico "The Guardian", em 2007, a condição de uma das 50 pessoas capazes de ajudar a salvar o planeta. Também recebeu o prêmio "2007 Champions of the Earth", a maior honraria concedida pelas Nações Unidas na área ambiental. Marina Silva foi casada duas vezes e tem quatro filhos.

*Colaborou Claudia Andrade em Brasília

Um comentário:

Unknown disse...

Esse filme começou em Xapuri, onde varias pessoas ligadas ao PT decidiram caminhar junto com o Partido Verde em busca de um sonho.
Vamos ver onde vai dar esse sonho
acredito que o Acre vai entrar em outro nivel de conquista.