sábado, 15 de agosto de 2009

Tom de campanha

Claudia Andrade, do UOL Notícias em Brasília.

A senadora Marina Silva (PT-AC) afirmou neste sábado (15) que a decisão sobre uma eventual mudança para o PV vem antes da de sair candidata à Presidência da República ou não. A primeira decisão ela deverá tomar nos próximos dias. Em relação à segunda, apesar de não falar abertamente sobre suas pretensões, já discursa em tom de campanha.

"Eu vou tirar esse fim de semana e o início da próxima semana para tomar minhas decisões. Já terminei o ciclo de conversas com várias pessoas e estou na fase final desse amadurecimento. Não coloquei prazo nem dia, mas não quero transformar isso numa novela", disse aos jornalistas, depois de participar de um evento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

A ex-ministra do Meio Ambiente afirmou que sua decisão, no momento, está restrita a saída ou permanência no PT. "O PV me fez um convite honroso para integrar o partido, mas deixei claro que não vou condicioná-lo a pesquisas ou a candidatura, a priori. O PV está propondo uma discussão programática de colocar a questão do desenvolvimento sustentável em seu programa e isso me levou a fazer essa reflexão. Ninguém sai de um partido para ser candidato".

Quando os jornalistas insistiram em saber qual seu posicionamento sobre uma eventual candidatura à presidência, Marina Silva deu indícios do que pode vir a ser sua decisão. "É algo que faz parte de um processo, mas não pode ser colocado a priori. Primeiro tem que ter ideias, projetos, programas e aí desdobramentos para que as coisas aconteçam. No Brasil nós temos 30 anos de lutas pela questão ambiental; está na hora de transformar essas boas ideias e boas experiências em políticas amplas que tenham a escala da magnitude do país".

Questionada sobre a preocupação que o Planalto teria a respeito dos votos que a senadora poderia tirar da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), Marina ponderou que voto não tem dono. "A luta ambiental não atrapalha ninguém. Não existe voto a ser dividido. O voto é do cidadão. O voto está livre para ser dado para quem o cidadão entende que quer dar".

Discurso com poema

Ao falar sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável para uma plateia formada por integrantes do MST que participam do Acampamento Nacional pela Reforma Agrária, a ex-ministra destacou que a crise econômica não será resolvida sem que o problema ambiental seja sanado.

"Muitos não entendem quando se diz que a crise ambiental, que é mais grave, também precisa de recursos e tecnologia. A prioridade não é para a crise ambiental, mas a crise econômica não se resolverá sem que se solucione a crise ambiental", disse Marina Silva, acrescentando que para os pobres do mundo todo, a crise econômica já existia. "A diferença é que agora a crise atingiu quem nunca tinha atingido. Quando ela atingia só os que não têm, os que não podem, ninguém falava em crise".

A senadora voltou a citar o sociólogo francês Edgar Morin ao dizer que "a mudança, no começo, é apenas um desvio". "Temos que ficar atentos para ver qual desvio queremos deixar prosperar".

Defendeu ainda a "distribuição equitativa" dos frutos do crescimento, para que se transformem em saúde e educação. Encerrou sua fala com um poema de sua autoria, que declamou de pé. No poema, ela se compara ao arco e à flecha e diz que, quando é flecha, age impulsionada por boas ideias. Quando é o arco, seu trabalho é empurrar a flecha para o alvo.

Ilustrou essa metáfora com seu trabalho no Congresso e a carta aberta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendendo veto a alguns artigos da MP 458, que regulariza terras na Amazônia Legal.

No fim da apresentação, foi aplaudida de pé. Depois, tirou foto com integrantes do MST. Mas negou que o evento tenha tido um tom de campanha eleitoral. "Não, não. Em todos os lugares que vou as pessoas me tratam com muito carinho. É uma demonstração de respeito pela causa. Isso mostra o compromisso com a luta ambiental".

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