terça-feira, 24 de março de 2020

Simplesmente, Fernandão

Xapuri perdeu nesta semana um grande sujeito. A cidade, já mergulhada na tristeza e na solidão da pandemia, ficou orfã da alegria irreverente de um botafoguense apaixonado pela vida, pela família e pela terra onde deixou uma marca indelével. 

Eu conhecia o professor Fernando Dantas dos Santos, o Fernandão, desde quando me entendi por gente. Foi lá no seringal Novo Catete, onde ele e sua esposa Maria Rodrigues viveram na antiga escola Epaminondas Martins durante 19 anos.

Dono de histórias engraçadíssimas, chegou ao Novo Catete no ano de 1965 para assumir o comando da escola rural construída durante o governo territorial de José Guiomard dos Santos. Ele contava que pela escola passaram algumas das figuras mais conhecidas da sociedade xapuriense.

O casal Fernandão e Maria completaria este ano 51 anos de casamento celebrado lá mesmo, no Novo Catete, onde tiveram três filhos: José, o “Zezão”, Maria Lúcia e Dejenane, completando a família com mais uma, Fernanda, depois que vieram embora para a cidade, no ano de 1984, dois anos depois da morte de meu pai, Antônio Firmino, de quem eram compadres.

“O Novo Catete era um lugar bonito, cheio de vida. Lá haviam nove casas distribuídas pelo campo, com várias famílias morando, fora as muitas outras que viviam naquele entorno, para cima e para baixo do rio ou para o centro. Muita história que se perdeu no tempo mas que não poderia ter se acabado”, recordava ele em uma de nossas últimas conversas.

Combalido por um tumor nas vias biliares, Fernandão partiu para a eternidade aos 71 anos, não sem lutar bastante conforme era a sua natureza. Confesso que com ele vai um tanto da minha história, das minhas lembranças e raízes que ficaram lá naquele velho seringal onde a vida tinha tudo de diferente do que vejo nos dias presentes. 

Caso superemos o terror que nos rodeia nos dias atuais, desejo que a vida que nos espera lá à frente seja vivida de uma maneira parecida como foi a do Fernandão, com muita luta, sim, mas também com muita alegria e simplicidade. Que nenhuma necessidade material, de dinheiro ou de realização pessoal seja razão para que não paremos e sejamos nós mesmos. Que tenhamos essa oportunidade. 

Valeu, Fernandão.

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