sábado, 21 de março de 2020

A pandemia no Acre

Jerry Correia

Sábado, 21 de março de 2020. Estamos de quarentena. Um vírus que apareceu na China se espalhou rapidamente por todo o mundo. Milhares já morreram e outras centenas de milhares estão infectadas.

Estou na América do Sul, onde o vírus chegou há menos de um mês. No Brasil, país que eu moro, já são mais de 1.000 pessoas infectadas e, infelizmente, 18 já perderam suas vidas.

Sou do Acre. O estado está localizado na Amazônia, no extremo norte do país onde vivem menos de 900 mil pessoas. Por aqui, 7 pessoas já foram diagnosticadas com o vírus. Ainda não há notícias de mortes ocasionadas pela moléstia.

Em Assis Brasil, cidade onde eu moro e estou escrevendo, ainda não temos casos confirmados da doença. Estamos na fronteira com o Peru e a Bolívia. Uma ponte de 242 metros liga nossa cidade ao lado peruano. Soldados armados estão guardando a fronteira que está fechada há alguns dias.

Estamos trancados em nossas casas. A pequena cidade está deserta. Parece filme de terror, mas é real. Estamos com medo do vírus que só ouvíamos falar pela tv. Ele está perto!

Muitos imigrantes estão presos em nossa pequena cidade. Quase todos são haitianos que não tinham Assis Brasil como destino. Ficaram presos aqui porque a fronteira está fechada. Já são quase 300 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. Algumas crianças bem pequenas, bebês de colo e outras que estão prestes a nascer.

Com a chegada de tanta gente o pânico aumentou entre os moradores. O medo é que alguém esteja contaminado com o novo vírus. Quase todos imigrantes estão vindo de cidades brasileiras onde a doença já chegou.

Eles não podem seguir. Eles não podem voltar. Estão recebendo ajuda da prefeitura que disponibilizou abrigo e alimentação.

As igrejas estão fechadas. A música silenciou nos bares da cidade. As ruas desertas denunciam o medo dos inocentes que estão presos sem nada dever.

O noticiário só informa o aumento de casos. Mais gente infectada. Mais mortes. Mais medo!

Ficar trancado em casa já não é seguro. Famílias seguiram rumo aos sítios, colônias e seringais.

As autoridades apenas recomendam ficar em casa e lavar bem as mãos.

Nas farmácias não tem álcool em gel. As últimas unidades foram vendidas pelo triplo do preço normal. É o capitalismo aproveitando a ocasião.

Se alguma coisa boa trouxe o vírus? Ora, as famílias estão mais unidas, o povo tá orando e acreditando mais em Deus; tem gente lendo mais, falando menos, ouvindo e refletindo o quão frágil é a raça humana.

O silêncio é quebrado pelo barulho da chuva. As estrelas não quiseram aparecer essa noite. A cidade já dorme, sonhando acordar com boas notícias.

Deus, estamos em tuas mãos. Nos guarde!

Jerry Correia é jornalista.

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