Rubens Menezes de Santana, o Rubinho, via página dos Filhos e Amigos de Xapuri no Facebook.
Começou na segunda-feira, 28, a Semana Literária de Xapuri. A Associação dos Filhos e Amigos de Xapuri esteve representada por Elisângela Horácio, Simone Daniel, Emir Mendonça, Sérgio Souza, Simone Daniel e eu.
Tive o privilégio de assistir a uma apresentação do Coral do IFAC, a alegria de saber que o projeto de formação de novos músicos tem boa aceitação entre os jovens, bem como notícias alvissareiras sobre o Grupo de Escoteiros, comandado por Odail Monte, e também o andamento do PROERD, formação de novos grupos de artes cênicas e danças. Há uma ebulição cultural em Xapuri.
Em pronunciamento de jovem professor de Química do IFAC, foi comunicada a facilidade com que os jovens xapurienses assimilam e respondem bem aos estímulos artísticos. Segundo o mesmo, “há um tendência nata para as artes”.
Por sua história, Xapuri, desde antes da Revolução Acreana, a Princesinha já possuía estrutura urbana, enquanto o restante do Acre era constituído apenas de seringais, à exceção de Porto Acre.
Xapuri possuía os melhores seringais do Vale do Acre, as maiores casas comerciais, teatro, cassino e a maioria dos portugueses e sírios libaneses que até hoje se constituem na elite econômica acreana atual. Estes trazem consigo a noção de estrutura urbana e a capacidade de buscar solução por seus próprios meios. Época de Sadalla Koury, que em face do declínio da economia seringueira, montou a primeira usina de beneficiamento de castanhas do Acre e que era movida a lenha.
Muitos dos filhos da elite foram mandados a estudar nos grandes centros brasileiros, mas muitos deles menos afeitos aos estudos ou mais umbilicalmente ligados ao lugar, resolvem permanecer em Xapuri; outros tentam e não conseguem prosseguir.
De nosso acervo de fotos antigas, vemos times de futebol (este esporte é introduzido inicialmente em Xapuri) datadas de 1944, onde se misturam a elite e trabalhadores braçais, como Guilherme Zaire e Sebasto. É de pressupor, que a interação não se dava apenas no campo esportivo, mas que outros valores e conhecimentos também fossem compartilhados.
Em outra foto, também constante de nosso acervo, estão alguns dos que migraram em busca de qualificação técnica: Careca, Marcos, Henrique, Carlos Ferreira, Gilberto Ferreira, Belmar do Antonino que vinham passar as férias de final de ano na terrinha. Traziam e compartilhavam conhecimentos novos.
Não é à toa que Alberto Zaire é considerado um dos maiores oradores do Acre em todos os tempos. As importantes figuras de Jorge Kalume, Adib Jatene, Jarbas Passarinho, Eliana Pereira, Guilherme Zaire, Armando Nogueira, Félix Pereira, Glória Peres e Chico Mendes dentre outros, são reconhecidos como modelos a ser seguidos. Até hoje, as proezas de Afonso Zaire são contadas nas praças, pelos mais velhos. Todos receberam a têmpera do caldo cultural que é Xapuri que torna o xapuriense pacato, gozador, hospitaleiro e... espertíssimo.
Em meio a toda esta ebulição cultural, é interessante ressaltar que, em Xapuri foi fundada a primeira Loja Maçônica do Acre e até hoje em funcionamento e prestando serviços à comunidade.
Sob o comando da Ordem dos Servos de Maria, o colégio Divina Providência rivalizava-se, em qualidade e eficiência, com o de Santa Juliana em Sena Madureira. Como recebia, no regime de internato, as filhas das prolíferas famílias de trabalhadores, a socialização dos ensinamentos não obedecia à estratificação social. O ensino público seguia-o, à reboque.
É a única cidade do Acre a ter uma Banda de Música que, formou e forma, novos talentos, em seguimento a uma linhagem de músicos como Lourival Capivara, Aurélio Salim, Roldão, Adalcimar, Luiz Beleza, Carlos Koury, Camaleão Colorido, Magão Rocha, Lennon Amanda, Elaís Meira (já com 90 anos, ainda ministrava aulas de música) e Maísa Farias - um novo talento.
As gerações contemporâneas já não necessitam migrar em busca de qualificação; a última a necessitar foi a nossa. Há cursos superiores e técnicos. Xapuri está com excelente estrutura de ensino e o bom desempenho de seus jovens nos diversos certames nacionais, atestam o acerto das medidas.
Um dos motivos da montagem do Grupo e da Associação dos Filhos e Amigos de Xapuri, foi nosso contumaz hábito de apenas reclamar contra o estado de abandono da Princesinha, após tê-lo feito, todos esqueciam o que haviam discutido e voltavam-se à suas rotinas.
Na verdade, além das reclamações, terminava-se a conversa com uma velada cobrança de que se haveria de fazer algo; mais na esperança de que seu interlocutor tomasse a iniciativa. Era a necessidade de interagir, compartilhar informações e inserir-se na busca de soluções para a lastimável situação a que foi relegada a Princesinha.
Após um período em que as desconfianças e receios mútuos foram minimizados (algo de ressentimento, por uma suposta quebra de compromisso tácito), novamente os Filhos e Amigos de Xapuri estão unidos em busca do resgate cultural de Xapuri e mais uma vez, volta-se a sonhar com realizações a partir do esforço conjunto.
Há, talvez, o melhor time que Xapuri já produziu: Profª Euri, Cláudio Porfiro, José Porfiro, Sérgio Souza, Carlos Estêvão Castelo, Nabiha Bestene, Eurilinda Figueiredo, Marcela Figueiredo, Marcela Monteiro, Ofélia Valle, José Andrias Sarquis, Ronei Sant’Ana, Nilton Cosson, Simone Daniel, Elisângela Horácio, Alan Ferreira, Ana Lucia Cunha, Daniel Zen, Rui Sant’Ana, Almir Ribeiro, Dalmo Rufino, Luis Celso, Clênio Monteiro, Milena Barros, João Garrinha, Roberto Matias, Antonio Ferraz, Carlos Afonso, Emir Mendonça, Clenes Guerreiro, Alarice Botelho, Antonio Rocha, Diego Ferraz, Victor Pontes, Jessé Advíncula, Hermes Brasileiro, Cleilson Alves, Mariete Costa, Maisa Farias, Chiquinho Barbosa, Joscíres Ângelo, Nader Sarkis, Carlos Ciro e muitos mais. Respeitável! Falta-nos apenas maior inserção no esforço.
Por tudo isto, é necessário que Xapuri seja reconhecida não mais como a Princesinha do Acre, mas sim, como o Principado de Xapuri, por sua contribuição nos diversos ramos do conhecimento humano, por sua cultura, pelo papel de vanguarda desempenhado nos últimos tempos, através do pensamento de Chico Mendes que modificou as relações Homem x Natureza no mundo inteiro.
Quando Armando Nogueira outorgou-se a si mesmo, o título de Marquês de Xapuri, ele sabia exatamente a que se referia e também que estava em débito para com seu lugar e os seus.
Resta-nos saber se iremos cumprir nosso destino manifesto ou se queremos ser mais uma geração a reclamar e murmurar à socapa.
Em busca de um novo tempo: o do Principado de Xapuri.
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