Nonato Cruz
Lembro-me, quando menino, que estudava na escola Adib Jatene, que ficava entre o entrocamento e Xapuri, na estrada da borracha de hoje, digo ficava porque não existe mais.
Pois bem, dentre os colegas também estudava uma menina por nome de Núbia e que poderia ser como uma das tantas meninas que ali estudavam se não fosse por um motivo: Núbia tinha hanseníase.
Os sinais da doença já eram bem visíveis, principalmente pela falta de cuidados e de responsabilidade do estado, naquele tempo, com a saúde da população com relação a esta doença e outras tantas.
Núbia seguia sua vida precariamente, e o pior: tratada com desprezo, com medo e desconfiança.
A ignorância predominava nesta época com relação a hanseníase e a pessoa atingida era rejeitada pela sociedade.
Lembro-me da tarde em que Núbia foi expulsa da escola justamente por este motivo.
A professora, Dona Loa, atirou suas coisas no pátio e aos gritos dava ordem para que ela se retirasse.
Núbia saiu puxando de uma perna, apanhou o saco plástico com seus cadernos, mas não chorava.
Isso eu lembro muito bem. Núbia não chorou, pelo contrário, levantou a voz e gritou seus protestos contra aquela mulher que lhe expulsava.
Ela sabia por que estava sendo expulsa: a hanseníase.
As marcas na pele. Os pés tortos. Não tinha como esconder e pagava o preço por isso.
A década era a de 1970 e o bullying era prática comum por este motivo e por vários outros.
Núbia, o rosto zangado e revoltado pelos maus tratos a ponto de ser expulsa da escola. Uma das coisas mais tristes que presenciei em minha infância e na vida escolar.
Do portão, o grito de Núbia: "sua desgraçada" - e foi embora para nunca mais voltar.
Detalhe: Núbia mora hoje aqui em Rio Branco. Casou-se, teve filhos. E - como sempre -segue firme tocando sua vida. Tive, dia desses, a oportunidade de conversar com ela, mas não toquei neste assunto, com receio de magoá-la.
Deus lhe dê toda força, sempre.
Nonato Cruz é radialista.
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