Produtora acreana completa 40 anos na EBC e relembra trajetória marcada por persistência e amor ao rádio
A acreana de Xapuri Rosineide Evangelista da Costa
completou, em setembro passado, 40 anos de dedicação à comunicação pública. Produtora
da tradicional Voz do Brasil, programa de rádio mais antigo do país e do
hemisfério sul ainda em difusão, que está completando 90 anos de história em
2025, a jornalista é reconhecida pela habilidade em encontrar personagens que
dão humanidade às reportagens e pela paixão com que vive o jornalismo.
Em Brasília, ela é chamada de Rose, mas em Xapuri continua
sendo a Rosinha, “a filha do Chico Evangelista”, como ela costuma dizer com
orgulho. O pai, figura marcante na cidade, foi um verdadeiro homem de múltiplas
vocações. “Eu costumo dizer que lá em Xapuri, meu pai só não foi padre nem
médico”, brinca Rosineide.
De fato, Francisco Evangelista de Abreu era um polivalente.
Foi radialista, comentarista esportivo, trabalhou no Instituto de Identificação
Raimundo Hermínio de Melo — da Secretaria de Segurança Pública —, vereador,
presidente da Câmara Municipal, dirigente esportivo apaixonado pelo Vasco da
Gama a ponto de ter criado um time da cruz de malta local, e até delegado de
polícia substituto, nos momentos em que o titular se ausentava da cidade.
Sua presença ativa e curiosa inspirou a filha, que, ainda
criança, ouvia a Voz do Brasil ao lado dele, sem imaginar que um dia faria
parte daquele universo sonoro. “Cresci ouvindo rádio com ele. O sinal da
Nacional chegava fraco, mas a gente insistia pra ouvir a Voz do Brasil. Nunca
imaginei que um dia estaria dentro daquele mesmo programa”, lembra Rosineide.
Da sala de aula para o telex
Rosineide concluiu o ensino médio e o curso de magistério
na escola Padre Felipe Galerani, que funcionava no prédio da escola Divina
Providência, em Xapuri. O sonho era ser professora ou bancária, mas o destino a
levou a outro caminho. Em 1985, mudou-se para Rio Branco e foi contratada como
operadora de telex pela extinta Empresa Brasileira de Notícias (EBN), por
indicação de uma amiga. “Eu ligava quase todo dia pra saber se tinha alguma
novidade. Acho que entre tantos currículos, o chefe acabou percebendo minha
vontade de trabalhar. E foi assim que tudo começou”, conta.
Na época, o Acre ainda não tinha curso de Jornalismo. O
aprendizado vinha na prática, com o apoio dos colegas mais experientes. “Os
jornalistas mais antigos nos ensinavam o que sabiam. Lembro do Zé Leite, que
era editor do Jornal Rio Branco, e do Campos Pereira, que pegava material com a
gente na EBN. Foi ali que aprendi o que é fazer jornalismo de verdade”,
recorda.
Em pouco tempo, Rosineide já ajudava nas produções,
acompanhava repórteres e cobria eventos importantes — entre eles, eleições e o
julgamento de Chico Mendes, conterrâneo e símbolo da luta ambiental. “Foram
anos de muito aprendizado. Era tudo mais difícil, mas a gente dava um jeito.
Hoje é tudo mais fácil, mas naquela época o jornalismo era feito na raça”,
reflete.
Transferida para Brasília no fim dos anos 1990, ela
consolidou a carreira na produção da Voz do Brasil, tornando-se referência pela
habilidade de encontrar personagens em locais improváveis. A rotina intensa
nunca a fez desistir. “Sempre acreditei que vale a pena insistir. Se você quer
uma coisa, tem que correr atrás, não pode desistir no primeiro obstáculo. Foi
assim que construí uma carreira com base sólida”, afirma.
Trabalho como terapia e legado familiar
A jornada também foi marcada por superação. Aos 39 anos,
enfrentou um câncer e ouviu da médica que talvez fosse hora de parar. Mas ela
decidiu continuar. “O trabalho sempre foi minha terapia. Estar entre colegas,
conversando com as pessoas, produzindo matérias — isso me fazia bem, me
mantinha viva.”
Hoje, prestes a completar 60 anos, Rosineide vive um
momento de reconhecimento. Em 2025, o mesmo número cinco que marca etapas da
sua vida — nascida em 1965, contratada em 1985 — se repete em um ano de
celebrações. “Foi um ano de reconhecimento. A Voz do Brasil completou 90 anos,
eu completei 25 anos na produção do programa e recebi homenagens tanto na
empresa quanto no Congresso Nacional. Tudo parece se encaixar”, diz, com
gratidão.
Orgulhosa de suas raízes, a filha de dona Francisca
Rodrigues da Costa, outra figura marcante de sua vida, costuma lembrar de onde
veio para entender aonde chegou. “Uma vez, um psicólogo da empresa perguntou de
onde eu vim e pra onde eu ia. Eu respondi: vim de Xapuri, e hoje estou em
Brasília, no centro da política, no coração onde tudo acontece. Trabalho numa
empresa pública que faz comunicação governamental. Isso pra mim é um orgulho
enorme.”
Mais do que uma história profissional, a trajetória de
Rosineide Evangelista é também uma mensagem de perseverança. “Quero que minha
história sirva de inspiração para o pessoal aí do Acre, pra quem está
começando, pra quem se sente desanimado. Eu saí de Xapuri, e cheguei até aqui.
É possível, sim, quando a gente acredita”, enfatiza.
O amor pelo rádio e pela comunicação, herdado de Chico
Evangelista, parece correr nas veias. Assim como o pai, Rosinha enxerga na
comunicação um instrumento de aproximação e transformação. De Xapuri a
Brasília, do telex ao WhatsApp, ela transformou o ofício de produtora em arte
de ouvir e conectar pessoas em um percurso honra as raízes familiares e
reafirma o papel da comunicação pública como espelho da diversidade e da força
do povo brasileiro.

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