A vida, às vezes, nos costura com linhas tortas, pontos soltos, arremates incertos — e, ainda assim, forma algo belo. Como quem acompanha minhas publicações já está cansado de saber, não fui criado por minha mãe biológica, e essa ausência, esse vácuo de origem, cavaram em mim marcas profundas.
Cresci com um peso que eu não sabia nomear, uma espécie de exílio interior. No lar que me acolheu, tive amor, sim. Tive colo, pão, cuidado e, acima de tudo, conselho. Mas o afeto, por mais sincero que seja, nem sempre consegue vencer o abismo do que nos falta.
Minha segunda mãe — essa mulher de alma imensa — me deu tudo o que pôde. Com ela aprendi o que é segurança, o valor do abraço que permanece mesmo quando o mundo parece ruir. Mas havia em mim uma mágoa muda, uma pergunta sem resposta, um espinho fincado na carne da memória: por que fui deixado?
Minha segunda mãe — essa mulher de alma imensa — me deu tudo o que pôde. Com ela aprendi o que é segurança, o valor do abraço que permanece mesmo quando o mundo parece ruir. Mas havia em mim uma mágoa muda, uma pergunta sem resposta, um espinho fincado na carne da memória: por que fui deixado?
Arrastei esse sentimento como quem carrega uma mala cheia demais por uma estrada muito longa. E, ainda assim, segui. Segui por amor à vida, por obstinação, talvez por esperança. Tornei-me o que sou: alguém feito de lacunas, mas também de reconstruções.
O dia em que reencontrei minha mãe biológica foi como abrir uma carta esquecida por décadas. Cada palavra sua era um fio puxado do novelo de minha história. Pela primeira vez, ouvi o silêncio dela com ouvidos atentos. Compreendi, com o coração já mais amadurecido, que o amor também pode se expressar na dor da ausência, na renúncia feita não por fraqueza, mas por desespero. Maria Virgínia — esse nome agora me habita com outra temperatura. Ela me amou, mesmo de longe, mesmo no escuro.
E Zizi — Ricarda Figueiredo — foi a mulher que sustentou meu caminhar. Com ela aprendi que ser mãe não é apenas dar à luz: é iluminar o caminho do outro, mesmo quando se caminha na penumbra.
Hoje, com olhos mais brandos e alma menos rígida, vejo a maternidade em suas múltiplas formas. Não precisei compreender tudo — e nem poderia. Mas aprendi que amar é, às vezes, aceitar o que não se explica. Que a vida não vem com roteiro, e que o amor não se mede por presença constante, mas pela marca que deixa — seja no gesto, na ausência, ou na memória que resiste.
Neste dia, ergo o coração em homenagem a essas duas mulheres que me deram vida, cada uma à sua maneira. A elas, meu amor inteiro, sem reservas. Porque, afinal, o amor mais verdadeiro talvez seja esse: aquele que não exige explicações para existir.
Obrigado, mães. Por tudo.
Obrigado, mães. Por tudo.
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