sábado, 17 de maio de 2025

O Mago da Banda de Música

O músico xapuriense Antônio Cosmo da Rocha, o Magão – ou Magrão, como ele mesmo deixa escapar com um sorriso discreto que prefere ser chamado - aquele mesmo que o inesquecível Wando Barros denominava de “Mago” – é da rara estirpe dos que vivem da música e, mais do que isso, vivem para a música.
Cinquenta anos se passaram desde que ele ingressou, ainda jovem, na Banda Municipal Dona Júlia Gonçalves Passarinho. Meia década de dedicação ininterrupta a um dos mais respeitáveis patrimônios culturais do município. Ali, entre trompetes, clarinetes e tambores, Magão escreveu sua história com a paciência dos que sabem que a beleza verdadeira é feita de constância e entrega.
Mas seu amor pela música nasceu muito antes, lá nas cabeceiras do Rio Xapuri, no Seringal Nazaré. Um menino de seis anos chegou à colônia Sumaré carregando nos olhos o verde da mata e no peito uma inquietude melódica herdada do irmão mais velho, José Carlos da Rocha, mestre de muitos instrumentos e grande incentivador. Com apenas 10 anos, Magão já arriscava as primeiras notas; com 17, veio para a cidade, e dali em diante sua jornada sonora ganhou o mundo – ou, pelo menos, tornou o mundo um pouco mais belo onde quer que ele tocasse.
Na virada dos anos 70, integrou o conjunto The Super Sonic, ao lado de outros talentos que deixariam marcas na cena local, como Adalcimar, Náder Sarkis e Luiz Brejeira. E como se não bastasse, em 2008, criou o inesquecível projeto Resgate Cultural Baile Show “De Siderais a H-UELEM”, um verdadeiro ato de resistência e celebração da memória musical de Xapuri. Em 2012, levou ao palco do Festival Acreano de Música a canção “20 anos sem Chico”, uma homenagem comovente ao líder sindical que transformou a história da cidade – e com ela, a de todos nós.
Mas Magão não é só história, é também raiz e herança. Pai de Michelle, Lennon e Arathana, perpetuou a paixão pela música nos filhos – os dois primeiros foram membros do grupo H-UELEM “Nova Geração”. Com a companheira de vida, Evanildes Oliveira, construiu não apenas uma família, mas um pequeno coral de afetos que acompanha cada acorde que ele ainda insiste em tocar.
Recentemente, amigos de longa data organizaram uma festa “quase surpresa” para celebrar sua trajetória de 50 anos na lendária Banda de Música. O gesto, liderado pelo também músico Carlinhos Castelo, que tem feito um reconhecido trabalho de valorização da “Dona Júlia”, é reflexo do carinho e da reverência que Xapuri tem por esse homem que, com sua humildade e talento, ajudou a moldar a identidade cultural da cidade.
Magão é, sim, um militante da música. Mas mais que isso: é um guardião do som que ressoa entre as palmeiras e os rios, entre a memória e o futuro. Seu legado não cabe numa partitura – ecoa nas ruas, nas escolas, nos corações daqueles que sabem que a verdadeira revolução começa quando alguém decide fazer da sua vida uma canção. E que privilégio o nosso poder ouvir essa canção há 50 anos.

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