Sérgio Roberto Gomes de Souza
O meu primo Julinho Figueiredo sempre foi para mim uma espécie de ídolo. Cracaço de futebol, suas jogadas de efeito permearam o imaginários de muitos meninos e adultos de Xapuri nos anos 80, quando fez parte do inesquecível time do América Futebol Clube. Nas peladas em campinho de terra batida, vários aspirantes a “Julinho” corriam atrás da bola imitando jeitos e trejeitos do craque. A coisa ganhou ares de adoração quando foi jogar em Rio Branco e, principalmente, quando passou a fazer parte de equipes recheadas de estrelas na época, caso do poderoso Rio Branco Futebol Clube e o nababesco Independência Futebol Clube.
Pouco tempo após brilhar no “José de Melo”, Julinho terminou sendo transferido para o Equador, passou a atuar como profissional. A fase durou pouco, e serviu para que percebêssemos que nosso herói também tinha sua “kriptonita”, um ponto fraco, ou forte. Sua principal fragilidade sempre foi sua principal virtude, gostar perdidamente dos seus e de sua terra. Julinho foi embora fisicamente de Xapuri, mas não teve jeito, levou com ele suas vivências, experiências e sentimentos, na verdade, nunca se mudou da cidade onde nasceu.
Tive o prazer e privilégio de conviver com meu primo durante um ano em Brasília, tínhamos decidido, finalmente, levar estudo a sério. Nesse período, testemunhei um fato que demonstrou o desapego e a humildade do Julinho. Levado por um conhecido para realizar um teste no Sobradinho Futebol Clube, time de Brasília que disputava a primeira divisão do campeonato brasileiro e preparava-se para uma excursão pela Europa, o craque fez o que mais sabia e gostava, treinou entre os profissionais como se estivesse no campinho de terra batida do Colégio Divina Providência em um pachorrento final de tarde em Xapuri: esbanjou talento, deu dribles desconcertantes e, enfim, veio o veredicto: APROVADO!
Tudo combinado, bastava se apresentar para os treinos rotineiros e preparar-se para viajar rumo ao “Velho Continente”. Mas, para minha surpresa, ao chegar à casa do seu irmão Edmilson Figueiredo para saber notícias, deparei-me com o Julinho sentado no sofá assistindo desenho animado do pica-pau. Havia desistido. As justificativas que me deu para o ato confesso já não lembro, mas hoje o compreendo, o craque havia sido exposto a “kriptonita”, viu a possibilidade de distanciar-se dos seus e de sua terra, isso o enfraqueceu e ele tomou a decisão de voltar. A atitude foi um gesto nobre, digno dos que tem coração puro e, talvez por isso, sejam agraciados com tanto talento.
O Julinho hoje mora em Xapuri; antes, ressalte-se, cursou Educação Física em São Paulo e disputou um campeonato estadual de futsal, tendo sido cortejado por equipes no final para permanecer. Acho que o moço já sabia que iria constituir uma bela família na cidade onde nasceu e ter a vida tranquila que nos permite envelhecer com dignidade, acho que ele já sabia que este seria seu principal gol de placa.
Fiz questão de escrever um pouco sobre o meu primo, que permanece como meu ídolo no futebol, para corrigir o que considero injusto. Nesses tempos em que tentamos organizar uma exposição sobre futebol na cidade, pouco se falou daquele que, no esporte inventado pelos ingleses, foi quem mais trouxe glórias para Xapuri, por isso, gostaria de colocar o nosso eterno camisa “9” do América Futebol Clube, no lugar mais alto do panteão, afinal, é onde ele merece estar.
Sérgio Roberto Gomes de Souza é professor da UFAC.
2 comentários:
Sergio, Parabéns pelo reconhecimento e ao Julinho so temos que agradecer por tudo de bom que ele fez ao futebol Xapuriense, no América e na selação, que acompanhei de perto jogos em Xapuri, Brasileia, Cobija e Quinari....tempo inesquecivel de grandes craques como ele....Abs!
Jorgewan Hadad.
Sergio, Parabéns pelo reconhecimento e ao Julinho so temos que agradecer por tudo de bom que ele fez ao futebol Xapuriense, no América e na selação, que acompanhei de perto jogos em Xapuri, Brasileia, Cobija e Quinari....tempo inesquecivel de grandes craques como ele....Abs!
Jorgewan Hadad.
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