Rubinho
Lá por 1974, desembarcaram em Xapuri, alguns jogadores que haviam sido dispensados dos clubes da Capital.
Daniel, um crioulo meia-armador habilidoso, vindo do Andirá, eu ainda não conhecia. Do Internacional, também chegou Samba, um zagueiro rápido e vigoroso.
Antônio “Negão” Tadeu, jogara juntamente comigo em Rio Branco, algumas partidas pelo time do Rodoviária, presidido pelo professor Rivaldo, filho de Tenente Rui, ambos já falecidos.
Duplanir, também oriundo do Andirá e casado com Mayda Farhat, já morava em Xapuri
Porém, destes, a figura mais impressionante e folclórica, sem dúvidas, foi o Peruaba. A este, sim, já o conhecia dos antigos alojamentos do José de Melo. Além dele, ali ainda moravam: Vale, Fernandinho, Eli, Chicão, Roberval e outros de quem não mais me recordo. Era a chamada “barca” no jargão dos “boleiros”. Traduzindo: o termo “barca”, referia-se a “barca furada”, mesmo.
Peruaba, ponta direita arisco e veloz, chegou, estreou e gastou todo o seu futebol numa única partida. Nunca mais apresentou o mesmo rendimento, apesar de toda tarde ser um dos poucos a cuidar da parte física.
Destacava-se mesmo era em contar histórias e em pensar rápido. Por mais que seu interlocutor fosse esperto, o Peruaba com seu sotaque de malandro, sempre dava um jeito de enganá-lo.
Eu nunca soube e jamais perguntei sua naturalidade; não havia necessidade disto. Era um cidadão do mundo e em qualquer lugar que chegasse, ele se daria bem.
Peruaba conquistou a todos em Xapuri, inclusive a uma das filhas de D. Lucinda. Ele não conseguira uma namorada, mas em seu coração havia uma titular. Ele não a apresentava ou a ela se referia como namorada, nem esposa e nem amante.
- Esta é a minha “titula”, “mermão”.
Em Rinaldo Matos, para a época, fora de forma devido ao excesso de guloseimas da lanchonete dos pais, tascou um apelido:
- Parece um “Peixe-boi”, mermão!
Como todo malandro esperto, a profissão de Peruaba era a de pintor. Era capaz de pintar uma casa inteira sem que se visse sobre ele uma única gota de tinta.
E ao saber que seu Alberto Mota não conseguira alguém disposto a realizar a pintura do sobrado pertencente a Dr. Adalcides Galo, onde hoje é a Pousada dos Xapurys, topou o desafio.
- Seu Alberto, consiga uma vara comprida, que em pinto a casa. Pode deixar, mermão.
Cortou-se uma comprida canarana, em cuja ponta Peruaba acoplou o rolo de pintura.
Não foi nem mesmo almoçar. À tarde, quando seu Alberto Mota voltou, o Peruaba já terminava a primeira demão.
- Seu Alberto. Agora vou pro treino. Sabe como é: no final de semana tem jogo contra o Santiago, seu Janes ainda não fez pagamento e minha “titula” precisa fazer a feira. Como já fiz metade do serviço, quero saber se o senhor pode adiantar algum. Amanhã, chegarei cedo e rapidamente darei a segunda demão.
Seu Alberto, ainda impressionado com a rapidez com que o serviço caminhara, apenas esboçou uma tímida reação.
- Peruaba, posso mesmo contar com você, amanhã? Perguntou antes de entregar praticamente o valor integral dos serviços.
- Deixe com o Peru, mermão!
Nunca mais voltou prá terminar o serviço.
Rubens Santana de Menezes é professor aposentado e ex-goleiro dos bons. Atualmente coordena o grupo Filhos e Amigos de Xapuri e conta boas histórias da terrinha no Facebook.
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