sexta-feira, 10 de julho de 2020

Ruína da capela de São Francisco na BR-317

Não sou um frequentador assíduo da igreja em que fui batizado e onde casei uma filha, mas guardo minha religiosidade em um nível de reflexão e contemplação dos mistérios que não consigo compreender a ponto de me sentir em paz com minhas atitudes e maneira de viver. 

Em meio a alguns rituais muito íntimos que mantenho, está o de reservar um grande respeito aos lugares sagrados, independentemente da denominação a que pertençam.

Dentro dessa reverência, conservo uma grande atração por santuários, igrejas, capelas e coisas do tipo. Como quase não viajei até este ponto da vida, as maiores experiências que tenho de visitação a esses espaços se resumem à Catedral do Sagrado Coração de Jesus e a capela de Santo Antônio, em Porto Velho; a catedral de Nossa Senhora da Glória, em Cruzeiro do Sul; e a catedral Nossa Senhora Del Pilar, em Cobija-Bolívia.

Não estão na lista acima a igreja de São Sebastião, de Xapuri, e a catedral Nossa Senhora de Nazaré, em Rio Branco, pois essas são a expressão máxima da minha admiração e nelas não me sinto um visitante. Mas todo esse preâmbulo tem o objetivo de abrir caminho para um registro sobre um lugar muito simples, hoje abandonado, onde um dia foi a capela de São Francisco, na BR-317, nas proximidades da fazenda Araxá, limite de Xapuri com Capixaba.

De um tempo em que famílias ali congregaram, apenas resta a ruína, ainda de pé, da parte frontal da capela. Sempre que viajo a Rio Branco, pratico um daqueles rituais reservados que citei no primeiro parágrafo. Faço uma oração e peço a Deus proteção na viagem e bom encaminhamento nas resoluções que serão tomadas na capital. Na volta, o mesmo procedimento, agradecendo as bênçãos e rogando pela chegada em casa com segurança.

Pelo caminho, sempre me ponho a pensar sobre a energia positiva que aquele lugar esquecido me faz sentir, pois essa relação que com ele alimento me traz uma sensação extrema de paz e de segurança. Imagino que seja efeito dos tempos em que ali pessoas praticaram o amor a Deus e a Ele tanto rogaram por suas vidas, por sua saúde e suas famílias. Pode ser que isso não passe apenas de um puro excesso de minha imaginação, mas que me conforta enormemente o coração.

Pensei, então, que aquele lugar pudesse ser revitalizado. Não retomando a sua condição de congregação, uma vez que a saída de antigos moradores de seus lugares para dar espaço à pecuária e, ainda, a distância para a cidade, torna essa opção inviável. Porém, o espaço poderia ser preservado, restaurando-se a bela parte que ainda lhe resta, cultivando-se ali um jardim, e tornando o local um ponto de parada para orações e fotografias de recordação. 


Talvez seja um devaneio de minha parte, e nem sei se o proprietário da fazenda onde a capela um dia existiu permitiria uma ação como essa. 

No entanto, tenho certeza de a medida agradaria a muitos e seria uma justíssima homenagem a uma personagem das mais importantes da história da religiosidade católica em Xapuri, dona Aurélia Ferreira Castelo, grande mentora das atividades e da vitalidade da comunidade de São Francisco. 

Ministra da Eucaristia e componente do Conselho Paroquial da igreja de São Sebastião, dona Aurélia foi, segundo relatos de alguns fiéis, a maior cuidadora da antiga capela de São Francisco, organizando as procissões que lá ocorriam até ser necessária a desativação da ermida e sua transferência para o Entroncamento, onde uma nova construção foi erguida e se mantém com as suas atividades até os dias atuais. 

Explico não se tratar de mero saudosismo o que me faz tecer essa simples, mas sincera consideração. É uma questão de entender que é importante se preservar determinadas coisas ou fatos que possam guardar grande valor, mesmo que abstrato, para si ou para outrem. O que somos nada mais é do que o conjunto daquilo que herdamos de nossos antepassados, seja pelos genes, seja pela transmissão de valores a nós tão sagrados quanto imprescindíveis.

Ao lado, a nova capela de São Francisco, construída com os esforços de católicos de Xapuri sob a coordenação de dona Aurélia Ferreira Castelo, que teve uma vida de dedicação às causas da igreja católica no município. Ela faleceu no dia 20 de fevereiro de 2017 e seu corpo foi velado no salão paroquial da instituição à qual tanto se ofertou.  

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