quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Preconceito contra nordestinos foi alimentado pela loucura de colunistas

Leonardo Sakamoto

Tão deprimente quanto as manifestações violentamente preconceituosas contra nordestinos após o resultado da eleição presidencial é identificar em muitos dos tuítes e posts raivosos o DNA da intolerância de alguns colunistas e jornalistas.

Não se enganem, colegas. Esses crimes virtuais cometidos por zumbis incapazes de enxergar no outro um ser humano detentor do mesmo direito à dignidade foram alimentados por argumentos construídos e divulgados, ao longo do tempo, por pessoas que não se preocuparam com o resultado negativo de seus discursos. Mas, autoproclamando-se arautos da decência, sabem que são norte intelectual para muita gente.

Liberdade de expressão não é um direito fundamental absoluto. Não há direitos fundamentais absolutos. Pois a partir do momento em que alguém abusa de sua liberdade de expressão, indo além de expor a sua opinião, espalhando o ódio e incitando à violência, isso pode trazer consequências mais graves à vida de outras pessoas.

Como aqui já disse, liberdade de expressão não admite censura prévia. A lei garante que as pessoas não sejam proibidas de dizer o que pensam. Mas também afirma que elas são responsáveis pelo impacto causado pela divulgação de suas opiniões.

Esconder-se atrás da justificativa da “liberdade de expressão'' para a depreciação da dignidade humana é, portanto, a mais pura covardia.

Afinal, o exercício das liberdades pressupõe responsabilidade. Quem não consegue conviver com isso, não deveria nem fazer parte do debate público, recolhendo-se junto com sua raiva e ódio ao seu cantinho.

Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

UMA VITÓRIA DA DEMOCRACIA

Um voto contra os golpistas

Evandro Ferreira

Blog Ambiente Acreano

Na eleição de domingo votei em Dilma Roussef, mas até sábado a noite estava certo que votaria em Aécio Neves. O que me fez mudar? Não compactuo com manipulações e tentativas escancaradas de ganhar eleição no grito. Explico: nessa eleição a sociedade brasileira quase foi vítima da manipulação orquestrada pelo ‘partido da imprensa golpista’ (PIG), termo criado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim para designar o conjunto de grandes empresas de comunicação que monopolizam há décadas a ‘forma e o conteúdo’ das informações que chegam à população brasileira. 

Refiro-me ao episódio protagonizado pela revista ‘Veja’, amplamente difundido pelos integrantes do PIG, que afirma em sua última edição que o doleiro Alberto Youssef denunciou a autoridades policiais e judiciárias a participação da Presidente Dilma e do ex-presidente Lula nos desvios financeiros ocorridos na Petrobrás. O depoimento do doleiro foi acompanhado por seu advogado, que ao ser questionado negou ter ouvido tal afirmação.

Para caracterizar o interesse eleitoreiro, a revista antecipou de sábado para quinta-feira a publicação de sua capa e de parte do texto da reportagem. Além disso, não é preciso lembrar que o interesse em ‘vazar’ partes do processo – que supostamente deveria correr em segredo de justiça – não é canônico, especialmente porque aconteceu na véspera da eleição.

A orquestração patrocinada pelo PIG esta semana não tem nada a ver com a liberdade que a verdadeira imprensa – conservadora ou progressista – tanto reclama. Liberdade de informar tem que vir atrelada com a responsabilidade de apurar e a oportunidade do contraditório para os acusados. O que o Jornal Nacional protagonizou no sábado (25/10) é um exemplo didático do ‘jornalismo de esgoto’. Não deu a Lula espaço para se defender. Não repercutiu a denúncia na sexta, mesmo com tempo de sobra para elaborar sobre o tema. Preferiu ‘fazer a festa’ no sábado, véspera da eleição, quando tentativas de esclarecimentos não iriam ter efeito algum no pleito ocorrido no domingo.

Como bem afirmou o colunista Ricardo Melo no jornal Folha de S. Paulo “A triste realidade: bandoleiros de gravata, travestidos de "bem informados", tentam dar credibilidade a histórias oriundas de porões. A forma e o conteúdo, mais uma vez, andaram de mãos dadas”.

E para os leitores mais jovens, que não conhecem ou se interessam em buscar outros fatos protagonizados pelos integrantes do PIG, fazemos questão de relembrar os episódios que resultaram na eleição de Fernando Collor em 1989.

Não consigo esquecer a manipulação que a Globo fez do debate Collor x Lula no Jornal Nacional exibido na véspera daquela eleição, quando, como agora, não era mais possível reparar a verdade dos fatos. No debate Collor x Lula houve um claro equilíbrio, mas na matéria exibida pelo Jornal Nacional, Collor deu ‘um banho’ em Lula.

E o episódio do sequestro, por terroristas chilenos, do empresário Abílio Diniz? Diniz foi ‘libertado’ no sábado, véspera do embate final Collor x Lula. Os integrantes do PIG não perderam a oportunidade de fazer a ligação do PT com os sequestradores: a polícia – atendendo interesses não esclarecidos até hoje – plantou material de propaganda do PT no cativeiro e, depois de torturar os sequestradores – que apareceram sujos, maltrapilhos, com olhos inchados e lábios partidos –, os fez posar com camisetas brancas, limpas e imaculadas, com propaganda do PT. As fotos foram amplamente divulgadas e um diário de Rio Branco deu como manchete na manhã da eleição ‘PT sequestra Abílio Diniz’. Como Lula poderia ganhar aquela eleição?

Se me arrependo de ter votado em Dilma? O tempo, o senhor da razão, dirá. Hoje tenho minha consciência tranquila, mas se minha escolha se mostrar equivocada poderei me corrigir na próxima eleição, daqui a quatro anos. Essa é a vantagem da democracia e não podemos negar, eleitores de Aécio inclusos, que a vitória de Dilma é uma vitória de nossa democracia. 

Quanto aos que tentaram manipular o resultado dessa eleição, a vitória de Dilma representa um duro golpe em suas pretensões. Resta saber se Aécio fez parte da trama tendo em vista a exploração que fez de forma tão didática, quase orquestrada com o PIG, das denúncias de Veja em seu programa eleitoral, no debate da Globo e em declarações para a imprensa geral.

Eu terei paciência de aguardar os desdobramentos do inquérito policial e do processo judicial. Se houver culpados tenho certeza que pagarão pelos delitos cometidos. José Genoino, José Dirceu, Delúbio Soares, Roberto Jefferson e tantos outros cardeais do PT e de partidos aliados estão ai para provar que nossa justiça tarda, mas não falha.

Evandro Ferreira é pesquisador do Inpa-Ac e do Parque Zoobotânico da UFAC. Mestrado em Botânica no Lehman College, New York, USA, e Ph.D. em Botânica Sistemática pela City University of New York (CUNY) & The New York Botanical Garden (NYBG).

sábado, 25 de outubro de 2014

Segundo turno

João Baptista Herkenhoff

Dois candidatos disputarão a Presidência da República, já que nenhum dos postulantes alcançou maioria absoluta no primeiro turno. Nos Estados da Federação haverá segundo turno quando nenhum candidato ao Governo tiver obtido a maioria absoluta dos sufrágios. No próximo dia vinte e seis de outubro, em todo o território nacional, a voz da cidadania  consagrará, pela ordem alfabética: Aécio Neves ou Dilma Roussef.

A eleição direta do Presidente da República foi uma conquista do povo brasileiro. Milhões foram às ruas pedindo eleições diretas. Os mais velhos lembram-se desta luta. Os mais jovens sabem do que aconteceu pela leitura de livros e de outros escritos, ou através de informações verbais.

Preparem-se os que vierem a ver seu candidato derrotado a aceitar a vitória do que for escolhido. Preparem-se os vencedores para celebrar os louros sem menosprezar quem perdeu. Este é o jogo democrático. Numa análise mais profunda da eleição todos serão vitoriosos porque a Democracia será vitoriosa e a Democracia é um bem de todo o povo brasileiro.

A escolha do Presidente da República, dos Governadores e até mesmo dos Prefeitos não deve girar apenas em torno de nomes. O aperfeiçoamento do sistema democrático exigirá que, na oportunidade das eleições, sejam debatidas, com amplitude cada vez maior, propostas de governo e políticas públicas nos diversos campos administrativos (educação, saúde, proteção à infância, transportes, segurança pública), de modo que o povo seja o gerente de seu destino.

A jornada cívica não termina no dia da eleição. O débito cidadão não é pago com o simples depósito do voto na urna. Cumpre participar da vida política, acompanhar a discussão dos temas que estejam em pauta e formar opinião a respeito dos mesmos. É lícito e recomendável pressionar deputados e senadores para que cumpram seus deveres puxando, por exemplo, a orelha dos parlamentares que faltam às sessões. A tribuna popular, franqueada a cidadãos que não são detentores de mandato, é um avanço. A Constituição permite que o povo tenha a iniciativa de leis e essa importantíssima franquia deve ser utilizada, tanto em nível federal, quanto em nível estadual e municipal. O debate sobre os mais diversos temas deve ser acompanhado através dos jornais, do rádio e da televisão. A meu ver não é de mau gosto ouvir a Voz do Brasil. Pelo contrário, este é um espaço onde todas as opiniões se manifestam. O povo pode acompanhar tudo que se discute através da Voz do Brasil, sem precisar de intermediários que muitas vezes omitem ou torcem os fatos e lhes dão uma interpretação tendenciosa.

João Baptista Herkenhoff é juiz de Direito aposentado (ES), professor e escritor.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Nota de Desagravo

DANIEL ISRAEL FILHO, autor da ação que culminou na instauração do processo nº 0001239-34.2011.8.01.0007, vem publicamente declarar que a Sra. MARIA AUDILENA SILVA NOVAIS jamais foi proprietária ou posseira do imóvel conhecido por “Ilha Bela”, tampouco interessada em questões legais ligadas ao referido bem. Ademais, na condição de oficiala de registro de imóveis, agiu com total boa-fé e em conformidade com a lei, no tocante aos atos de registro pertinentes ao imóvel “Ilha Bela”. À esta servidora exemplar, dedico minhas sinceras desculpas quanto às informações em sentido contrário às acima destacadas suscitadas na petição inicial.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Chamado aos xapurienses

Convite Nobel

“O Inverno dos Anjos do Sol Poente foi escrito levando em consideração alguns pontos de vista. Primeiro, a criação ficcional é algo que me conquistou há muito tempo e me domina desde sempre. Gosto de contar histórias desde a mais tenra infância. Depois, trata-se de um romance memorialístico porque as histórias aqui contadas têm como base as minhas recordações de infância, inclusive e principalmente, a respeito de tudo o que me dizia a minha avó cearense. Por último, tenho um grande apreço pelos nossos antepassados xapurienses de origem sírio-libanesa, portuguesa e sertaneja. Esses homens e mulheres fizeram uma obra estupenda. O meu romance também é uma forma de prestar homenagem justa a essas pessoas que me foram muito caras, com certeza”. Claudio Motta.

O lançamento do romance O INVERNO DOS ANJOS DO SOL POENTE ocorrerá no próximo dia 18 de julho, na Pousada Chapurys, às 20 horas.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Advogados e juízes

João Baptista Herkenhoff

A advocacia e a magistratura têm códigos de ética diferentes.

Há deveres comuns aos dois encargos como, por exemplo, o amor ao trabalho, a pontualidade, a urbanidade, a honestidade.

Quanto à pontualidade, os advogados são ciosos de que não podem dormir no ponto. Sabem das consequências nefastas de eventuais atrasos. Os clientes podem ser condenados à revelia se os respectivos defensores não atendem ao pregão.

Já relativamente aos juízes, nem sempre compreendem que devem ser atentos aos prazos. Fazem tabula rasa da advertência de Rui Barbosa: “Justiça tardia não é Justiça, senão injustiça qualificada.”

Vamos agora aos pontos nos quais deveres de advogados e juízes não são coincidentes.

O juiz deve ser imparcial. É seu mais importante dever, pois é o fiel da balança. Se o juiz de futebol deve ser criterioso ao marcar faltas, ou anular gols (observe-se o que está acontecendo na Copa do Mundo), quão mais criterioso deve ser o Juiz de Direito que decide sobre vida, honra, família, bens.

Já o advogado é sempre parcial, daí que se chama “advogado da parte”. Deve ser fiel a seu cliente e leal na relação com o adversário.

O juiz deve ser humilde. A virtude da humildade só faz engrandecê-lo. Não é pela petulância que o juiz conquista o respeito da comunidade. Angaria respeito e estima na medida em que é digno, reto, probo. A toga tem um simbolismo, mas a toga, por si só, de nada vale. Uma toga moralmente manchada envergonha, em vez de enaltecer.

O juiz deve ser humano, cordial, fraterno. Deve compreender que a palavra pode mudar a rota de uma vida. Diante do juiz, o cidadão comum sente-se pequeno. O humanismo pode diminuir esse abismo, de modo que o cidadão se sinta pessoa, tão pessoa e ser humano quanto o próprio juiz.

A função de ser juiz não é um emprego. Julgar é missão, é empréstimo de um poder divino. Tenha o juiz consciência de sua pequenez diante da tarefa que lhe cabe. A rigor, o juiz deveria sentenciar de joelhos.

As decisões dos juízes devem ser compreendidas pelas partes e pela coletividade. É perfeitamente possível decidir as causas, por mais complexas que sejam, com um linguajar que não roube dos cidadãos o direito de compreender as razões que justificam as conclusões.

Juízes e advogados devem ser respeitosos no seu relacionamento. Compreendam os juízes que os advogados são indispensáveis à prática da Justiça. É totalmente inaceitável que um magistrado expulse da sala de julgamento um advogado, ainda que esse advogado seja impertinente nas suas alegações, desarrazoado nos seus pedidos. Quando um fato desta natureza ocorre no mais alto tribunal do país, não podemos omitir o protesto.

João Baptista Herkenhoff, Juiz de Direito aposentado, Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo e escritor.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

UFAC entrega Campus revitalizado em Xapuri

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A Universidade Federal do Acre inaugurou em Xapuri, nesta segunda-feira, 30, a revitalização do prédio que abriga o seu Campus Universitário no município. Participaram da cerimônia o reitor da Ufac, Minoru Kimpara; a vice-reitora, Margarida de Aquino Cunha; o diretor de Apoio à Interiorização e Programas Especiais da Ufac, José Alves Costa; a representante da Secretaria Estadual de Educação em Xapuri, Ziláh Carvalho, e o prefeito Marcinho Miranda, além de outras autoridades locais.

Com a revitalização, o Núcleo da Ufac em Xapuri ganha novas salas de aulas e espaços para a implantação do setor administrativo, laboratórios, biblioteca e outros. Todos os novos ambientes são climatizados e de acordo com o professor José Alves Costa, diretor de interiorização e programas, a instituição federal poderá, a partir de agora, manter até quatro cursos simultâneos no município.

Atualmente, a Ufac disponibiliza para a comunidade local os cursos de pedagogia e Biologia. Quanto à perspectiva de ampliação do quadro de cursos em Xapuri, o professor José Alves afirmou que o objetivo da Ufac é não apenas de implantar novas turmas, mas também diversificar a gama de cursos tanto na modalidade de licenciatura quanto de bacharelado. “As novas instalações oferecem plenas condições para isso e acreditamos que o nosso reitor não deixará esse espaço ocioso”, disse.

O reitor Minoru Kimpara afirmou que Xapuri é uma cidade estratégica para a Ufac. Segundo ele, o município tem todo um significado histórico para todo o Acre pela importância das lideranças que dali saíram para o Brasil e para o mundo. “A Ufac tem para com Xapuri a missão de fortalecer o processo de formação que aqui já existe. Com essa revitalização que estamos entregando agora, o município terá uma melhor condição de prosseguir produzindo boas coisas para o Acre”, afirmou.

O prédio onde atualmente funciona o Campus da Ufac em Xapuri foi projetado originalmente para ser um hospital. Posteriormente, foi reformado e ampliado para abrigar uma escola e, posteriormente, o antigo Campus Avançado de Xapuri, durante o funcionamento do Projeto Rondon, no regime militar, sob o governo de João Figueiredo. Foi inaugurado no dia 18 de dezembro de 1982. Oficialmente, o Campus da Universidade Federal do Acre em Xapuri foi criado em 7 de outubro de 1992, pelo então reitor Sansão Ribeiro de Souza.

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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Roubo e sequestro no bairro Sibéria

Um esforço conjunto das polícias civil e militar resolveu de maneira rápida uma tentativa de roubo seguida do sequestro de uma criança de 12 anos em Xapuri. O crime ocorreu na madrugada do último domingo, 15, durante a realização da festa de aniversário de fundação da Associação de Moradores do Bairro Sibéria, uma das comunidades mais tradicionais do município.

Durante a ação, os ladrões invadiram a residência do presidente da associação, João Jorge Cosmo da Silva, e roubaram um cofre de aproximadamente 100 quilos, onde vinha sendo guardada a arrecadação proveniente das vendas realizadas durante as festividades. Na fuga, os indivíduos fizeram refém um dos filhos do líder comunitário, João Eduardo, que ficou em poder dos bandidos por cerca de 4 horas.

A criança foi abandonada - amarrada e amordaçada - em uma região próxima à desembocadura do rio Xapuri, por onde os criminosos empreenderam fuga com o cofre em que acreditavam haver muito dinheiro. O garoto foi encontrado por um policial militar por volta das 4 horas da manhã sem apresentar sinais de violência, mas muito castigado por mordidas de insetos.

Num trabalho rápido, agentes da Polícia Civil, comandados pelo delegado Sérgio Lopes, titular da delegacia de Epitaciolândia, e vários policiais militares localizaram e apreenderam um menor, de 16 anos, que confessou participação no crime e delatou o principal suspeito de ser o mentor do crime, Járson Figueira Gadelha, o “Careca”, de 25 anos, que foi preso instantes depois. Ele já tem passagem pela Polícia por tráfico de drogas, tendo passado um curto período no presídio de Rio Branco.

De acordo com a polícia, um terceiro suspeito está foragido nas matas da região entre os rios Acre e Xapuri. Equipes das polícias civil e militar trabalham nas buscas e espera-se que a sua prisão ocorra nas próximas horas.

O cofre, que continha cerca de 25 mil reais, foi encontrado enterrado em uma praia do rio Xapuri sem ter sido aberto pelos ladrões. O dinheiro, destinado ao pagamento das despesas da festa do bairro Sibéria já foi devolvido à Associação de Moradores.

domingo, 15 de junho de 2014

CALDO DE BODÓ

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O cascudo ou bodó, como é mais conhecido na região, apesar de ser um peixe um tanto feioso, é tão apreciado como ítem da gastronomia amazônica que possui até festival. O evento é realizado no município de Iranduba (AM), onde o bodó é matéria-prima para mais de 30 pratos. Confira aqui. O caldinho acima, no entanto, foi preparado pelo xapuriense do pé rachado Carpejiane Mota, expert nesses assuntos de fazer blogueiro comer demais.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Boato sobre ebola no Acre

Do G1 Acre

O Ministério Público do Acre (MP-AC) requisitou à Polícia Civil, por meio de um ofício encaminhado na quarta-feira (16) que um inquérito fosse instaurado para apurar a autoria da divulgação da notícia sobre a suposta contaminação de imigrantes pelo vírus Ebola. O boato foi espalhado no município de Brasiléia, distante 232 km de Rio Branco, onde se localizava o antigo abrigo.

De acordo com o MP-AC, o motivo da investigação é para averiguar se ocorreu contravenção penal de falso alarme e/ou crime de incitação da discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

A secretária de Saúde do Acre, Suely Melo, falou ao G1 que o boato surgiu em um jornal de Brasiléia, em que o autor teria utilizado informações de outra reportagem.

“Ele [o jornalista responsável] viu uma reportagem com a organização humanitária ‘Médicos Sem Fronteiras’ falando sobre a distribuição do ebola no mundo. Aí tirou o que interessava para ele e publicou como se fosse a entidade falando que os haitianos têm o vírus ebola”, afirma.

sábado, 12 de abril de 2014

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A imponderável caça ao bicho-homem perfeito

CLÁUDIO MOTTA*

Dias se sucediam longamente, tal e qual as paineiras à beira do barranco escorregadio, de inverno a verão, em vista da existência perpétua de uma fonte de densa água cristalina que, a seguir, já era um arroio e, depois, um igarapé. A vegetação comprimia-se numa diversidade de folhas e cipós enleados, como vidas que se procuram e nunca se acham, porque a estupidez lhes dá o tom. Pássaros de todos os matizes cantarolavam numa mistura densa de sons de primavera. Ali, tudo era perfeito, segundo a ordem da natureza. Só um coração é que batia em desalinho e em descompasso com a harmonia geral.

Certamente, eu teria a licença do Marcelo D2, cantor de hip-hop, para parafrasear o título da música dele, porque a causa em pauta vale muito a pena. Lá existe a busca da batia perfeita. Já aqui, nada é bem assim. A mulata derretida e mimada andava na ponta dos cascos à procura do homem perfeito, algo inexistente desde que o mundo é mundo e que o Adão jogou a culpa em Eva e em Deus por tudo de ruim que lhe aconteceu. Vá-se!

Lembro ter a Zuleidinha dito, um dia, que estava nesta vida à procura do relacionamento perfeito, com um homem no pretérito-mais-que-perfeito. De toda a prosa, enquanto o analista que não sou, consegui gravar, de forma chamuscada, algumas das frases conexas da nossa bela sonolenta, adormecida de tanto esperar por quem não ficou de vir.

- Eu quero um sujeito macho, pagador de impostos, super viril, pegador e cortês que me chame de linda em vez de gostosa ou gastosa. Peço a Deus que sempre ele me ligue de volta quando eu desligar o telefone na cara dele. Que, feito um basbaque irremediável, deite embaixo das estrelas e escute as batidas do meu coração traiçoeiro ou leal, dependendo da ocasião; ou que permaneça acordado só para me observar dormindo. Anseio pelo homem que me beije na testa. Que queira me mostrar para todo mundo, mesmo quando eu esteja suando na beira do tanque ou esquentando a barriga no fogão de lenha. Um ser dócil que segure a minha mão na frente dos amigos dele. Que me ache a mulher mais bonita do mundo, mesmo quando estiver sem nenhuma maquiagem; e que insista em me segurar pela cintura. Busco aquele que me lembre constantemente o quanto ele se preocupa comigo e o quanto sortudo é por estar ao meu lado. Aquele que esperará por mim. Aquele que vire para os amigos e diga: ela é, sim, a mulher da minha vida!

Na literatura, ela estaria num patamar acima do realismo e do romantismo. Só louca para pensar a perfeição de um ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, na teoria, porque, na prática, o Criador é reto e as criaturas todas são tortas e obtusas, quando não amalucadas, como a Zuleidinha que tinha delírios como os acima relatados.

E foi com a alma nesses trajes em frangalhos que ela deixou as divagações teóricas sobre o amor e os homens, e partiu para a prática contundente, mais nua que crua.

Foi quando, numa época obscura da vida, eu e os lá de casa estávamos sem uma secretária de forno e fogão que fomentasse a butuca do meu povo guloso.

Ela apareceu. Negra, bem apanhada, trajes modernos, saltos plataforma, bunda arrebitada, saias mínimas, bustiê de tricô, cabelos espichados e tesos, assim mantidos pela força da brilhantina. Enfim, parecia que acabara de sair de um desfile na Sapucaí. Ô mulata graciosa!

Ficou por ali um ano e pouco... E se foi.

Um tarde, então, não mais que de uma hora para a outra, ela passou a relatar as ocorrências da vida amorosa que até aquele dia experimentara, já aos três ponto quatro em termos de janeiros. Foram muitos os seus projetos de casamentos felizes e carnavais suarentos.

Segundo a Zuleidinha, o primeiro marido era um carnavalesco caciqueano empedernido. Tinha idade compatível e trajes emblemáticos, além de uns certos trejeitos ou hábitos incomuns em meio aos machões de Latino América. Por isto, partiu. Diziam-no, lá no Beco das Garrafas, ser meio maricas, com um pé na gafieira e o outro em tamancos rosáceos. Certo é que o seu macho transviado achou por bem arranjar namoro semi-secreto com um rapazola com quem findou casando e hoje são muito felizes até trocarem tiros.

Numa madrugada de suor, samba e pagode, na Estudantina  -  a gafieira mais romântica do velho Rio de Janeiro  -  eis que lhe apareceu o segundo projeto de homem perfeito.

De certa idade, mais pra lá que pra cá, vinha de Itaquaquecetuba, interior de São Paulo, e vivia nas adjacências da Rua Uruguaiana, isto, há alguns anos ou talvez década. Tinha muitos bens, inclusive um supermercado, uma loja de jóias e uma papelaria na zona da Saara.

Era descendente de libaneses, logo, dado e certo como mão fechada. Todavia, talvez apaixonado, de pronto e surpreendentemente, já a presenteou com alguns mimos um pouco caros, como um apêzinho na Glória e um Fiat uno prata com bancos de couro.

Viveram idílio efervescente por uns dois ou três anos, entre o piscinão de Ramos e as noitadas da Lapa, mas ela o largou em seguida  -  não esquecendo de se apoderar dos presentinhos  -  porque havia duas pedras no meio da sua avenida, como sejam, uma ex-esposa ambiciosa e uma amante insatisfeita, anteriores àquele romance de fim de tarde. As duas, em conluio, passaram a infernizar a vida da pobre coitada.

O terceiro marido lhe apareceu como quem vem do florista e trouxe um bicho de pelúcia e broche de ametista, numa alusão ao bolero do Chico. Em pouco tempo, ela não mais o quis porque ele poderia ser o ideal, em termos de idade  -  tinha vinte e poucos anos  -  mas era violento e, por algumas vezes, em plena Rua do Passeio, andou estapeando a Zuleidinha, esta, entre humilde e exigente.

Ela ficou decepcionada, posto que não gostava de velhos e sempre sonhara ter na cama um sujeito de pouca idade,muita libido e nenhum ciúme. Impossível!

Com a renda que ainda tinha e pelo fato de gostar de empreender, fez sociedade com um ás do jogo do bicho e montou uma casa de shows de bom tamanho, na Rua Riachuelo, Lapa. Um sucesso em vista da qualidade dos dois grupos de samba, um dali mesmo de Santa Tereza, e o outro da Serrinha, em Madureira.

Foi numa noite primaveril de muito movimento de ancas e de caixa, que o marido da vezchegou como quem chega do nada, ele não lhe trouxe nada, também nada perguntou... De meia idade e viúvo, passadas algumas luas do início da pegação, ela o mandou catar coquinhos, pois, segundo a própria, faltava-lhe a famosa pegada.

As décadas foram fugindo, sorrateiramente, escapando por entre os dedos feito banana amassada e, de mulher da vida fácil, por anos a fio, virou matrona de vida difícil, apesar da fortuna amealhada e em seguida gasta com os garotos de programa que lhe saciavam a libido ainda afoita em noitadas a perder de vista.

Anos depois, em diálogo maduro e desinteressado, chegamos a uma conclusão supimpa segundo a qual você pode adquirir tudo na solidão, menos o caráter.

Não mais tardou qualquer mês e a Zuleidinha morreu só, sim, porque, se o raper achou abatida perfeita, ela não encontrou o homem ideal.

__________

*Autor de Janelas do tempo, livro de crônicas; e O inverno dos anjos do sol poente, romance de viagem cujo foco maior é o Acre dos anos 40 e 50, a ser lançado em julho próximo. Cronista do jornal A Gazeta, de Rio Branco, Acre: www.claudioxapuri.blog.uol.com.br  ...

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Prefeituras têm até final de abril para prestar conta de gastos com Educação

Os municípios têm pouco menos de 20 dias para repassar à União dados sobre a aplicação dos recursos aplicados na área da Educação durante o ano de 2013, por meio do Siope – Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação.

“Os municípios que deixarem de declarar seus gastos até o prazo estipulado, 30 de abril, ficarão impossibilitados de receber repasses da União, celebrar convênios e também termos de cooperação com órgãos do Governo Federal durante o ano de 2014. Um auxílio importantíssimo para a pasta”, alerta Walter Penninck Caetano, diretor da Conam – Consultoria em Administração Municipal.

No entanto, para o consultor, chama a atenção os números levantados pela Federação Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE): até agora, apenas 10% dos municípios já prestaram contas ao Siope.

“Educação deve ser a prioridade de qualquer administração. Não é possível que 90%, ou seja, mais de 5 mil municípios, ainda estejam devendo essas informações à União, com o prazo tão perto do fim”, diz Caetano. Para enviar os dados ao Siope, basta entrar no site da FNDE (www.fnde.gov.br) e baixar versão 2013 do sistema.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Apelo ao bom senso

Alguma coisa está fora de lugar na escola Divina Providência, que já foi uma das maiores referências educacionais da Amazônia, quando administrada pelas freiras, as Irmãs Servas de Maria Reparadoras. Minha crítica possui caráter construtivo e se refere, neste caso específico, ao calendário de treinos para a formação das equipes que disputarão os próximos jogos escolares.

Empolgadas com a possibilidade de representar a escola na competição, algumas crianças estão sendo submetidas a um calendário que as obriga a treinar no horário de meio-dia, sendo que aquelas que estudam no período matutino saem das aulas às 11h15. Em anos anteriores, presenciei alunos levando o material esportivo para a escola pela impossibilidade de ir em casa e retornar para os treinos dentro do horário.

Pergunto-me e direciono a mesma indagação aos gestores da escola se é saudável para uma criança na faixa etária dos 11-12 anos ter um intervalo de apenas 45 minutos para que saia da escola, banhe-se e almoce para em seguida se vestir e novamente retornar à escola para praticar atividades físicas. A mim parece haver nesse caso uma bruta falta de bom senso por parte da gestão escolar.

Além disso, como a quantidade de professores de Educação Física (eles são apenas 2, segundo a escola) não é suficiente para atender às várias modalidades e categorias existentes, em determinados horários as crianças treinam sozinhas ou, no máximo, são monitoradas por um aluno mais velho designado pelo professor de Educação Física.

Nesta quarta-feira, 9, meu filho mais novo, de 11 anos, depois de enfrentar essa maratona de sair e retornar à escola no intervalo de um meio tempo de uma partida de futebol, foi agredidos a pontapés por um desses tais alunos mais velhos indicados para "treinar" as crianças menores. No momento da agressão, apenas alunos se encontravam na quadra de esportes da escola. Não havia nenhum responsável no local.

Recorri à escola e ouvi do professor João Ribeiro, meu colega dos tempos da faculdade de Geografia e hoje coordenador pedagógico da instituição, que infelizmente não existe a possibilidade de todos os treinos contarem com a presença de uma pessoa que se responsabilize pelos alunos. Afinal de contas que espécie de treinos são esses em que não existe a figura do treinador/orientador?

Minha opinião como pai de aluno é de que a escola deva abolir imediatamente as atividades para as quais não possui condições de manter um profissional habilitado. Prosseguindo com essas atividades da maneira como estão, a instituição estará assumindo um enorme risco de responder pelos incidentes que venham ocorrer durante os “treinos”.

Sugiro isto como maneira de se evitar que um problema mais grave termine por manchar o renome que a instituição ainda possui, apesar dos pesares, que não são poucos. Longe de querer polemizar ou demonizar a gestão escolar, faço esta crítica com o sincero intuito de contribuir. Como pai, como profissional da imprensa local e como cidadão.

terça-feira, 8 de abril de 2014

O bullying sempre existiu

Nonato Cruz

Lembro-me, quando menino, que estudava na escola Adib Jatene, que ficava entre o entrocamento e Xapuri, na estrada da borracha de hoje, digo ficava porque não existe mais.

Pois bem, dentre os colegas também estudava uma menina por nome de Núbia e que poderia ser como uma das tantas meninas que ali estudavam se não fosse por um motivo: Núbia tinha hanseníase.

Os sinais da doença já eram bem visíveis, principalmente pela falta de cuidados e de responsabilidade do estado, naquele tempo, com a saúde da população com relação a esta doença e outras tantas.

Núbia seguia sua vida precariamente, e o pior: tratada com desprezo, com medo e desconfiança.

A ignorância predominava nesta época com relação a hanseníase e a pessoa atingida era rejeitada pela sociedade.

Lembro-me da tarde em que Núbia foi expulsa da escola justamente por este motivo.

A professora, Dona Loa, atirou suas coisas no pátio e aos gritos dava ordem para que ela se retirasse.

Núbia saiu puxando de uma perna, apanhou o saco plástico com seus cadernos, mas não chorava.

Isso eu lembro muito bem. Núbia não chorou, pelo contrário, levantou a voz e gritou seus protestos contra aquela mulher que lhe expulsava.

Ela sabia por que estava sendo expulsa: a hanseníase.

As marcas na pele. Os pés tortos. Não tinha como esconder e pagava o preço por isso.

A década era a de 1970 e o bullying era prática comum por este motivo e por vários outros.

Núbia, o rosto zangado e revoltado pelos maus tratos a ponto de ser expulsa da escola. Uma das coisas mais tristes que presenciei em minha infância e na vida escolar.

Do portão, o grito de Núbia: "sua desgraçada" - e foi embora para nunca mais voltar.

Detalhe: Núbia mora hoje aqui em Rio Branco. Casou-se, teve filhos. E - como sempre -segue firme tocando sua vida. Tive, dia desses, a oportunidade de conversar com ela, mas não toquei neste assunto, com receio de magoá-la.

Deus lhe dê toda força, sempre.

Nonato Cruz é radialista.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

No Dia Mundial da Saúde, Comissão apresenta situação dos hospitais públicos do Brasil

Entidades médicas, parlamentares e membros do Ministério Público e OAB apresentam relatório sobre a situação de oito grandes hospitais de emergências

Assessoria do Conselho Federal de Medicina

Pacientes internados em macas pelos corredores ou em colchões sobre o chão e casos que se assemelham aos de uma enfermaria de guerra. Esta é a face cruel da assistência oferecida à população nos principais hospitais públicos de urgência e emergência visitados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), numa ação desenvolvida em parceria com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM). O relatório final das visitas foi apresentado à imprensa no Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, em evento realizado na sede do Conselho, em Brasília. O encontro reuniu autoridades, parlamentares e representantes da sociedade, que chamaram a atenção da sociedade para a necessidade imediata de tomada de decisões para evitar a penalização de pacientes e profissionais.

O conselheiro do CFM pelo estado de Mato Grosso do Sul e coordenador da Câmara Técnica de Urgência e Emergência, Mauro Ribeiro, acompanhou de perto os trabalhos do Grupo de Trabalho e relata que muitos dos problemas encontrados devem-se a questões estruturais, ainda não adequadamente resolvidas pelo SUS. “A crise das urgências e emergências é sistêmica. Faltam leitos de Unidade de Terapia Intensiva São problemas que estão ferindo a dignidade e os direitos dos cidadãos brasileiros, previstos na Constituição Federal”, disse.

As informações coletadas relatam a situação de oito hospitais de urgências médicas do SUS: Arthur Ribeiro de Saboya em São Paulo (SP), Souza Aguiar no Rio de Janeiro (RJ); Hospital Geral Roberto Santos em Salvador (BA); Pronto Socorro João Paulo II em Porto Velho (RO); Pronto Socorro Municipal Mario Pinotti em Belém (PA); Hospital de Base em Brasília (DF); Hospital Nossa Senhora da Conceição em Porto Alegre (RS); e Pronto Socorro Municipal de Várzea Grande (MT). As visitas contaram com o apoio de Conselhos e Sindicatos de profissionais da saúde, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que selecionaram os hospitais visitados a partir do consenso entre as os membros do Grupo de Trabalho constituído na CDHM.

“Foram observados extremos em que a atenção à urgência e emergência apresentava um nível satisfatório, embora ainda com problemas a solucionar, até degradante caso que se assemelhava a uma ‘enfermaria de guerra’, em que além de pacientes internados em macas nos corredores da emergência, havia aqueles internados em colchões sobre o chão”, destaca o documento. Para os membros do GT, em todas as situações ficou evidente que muitos dos problemas compartilhados estão relacionados a questões estruturais do Sistema Único de Saúde (SUS) e que “ferem a dignidade e os direitos dos cidadãos brasileiros, previstos na Constituição Federal”.

Segundo o deputado federal Arnaldo Jordy (PPS/PA), coordenador do Grupo da CDHM, “o resultado é um relatório em que reputamos relevante para a compreensão do drama da superlotação, da falta de pessoal especializado, doentes sem atendimento, sintomas vistos com frequência em reportagens da imprensa e visitas aos hospitais”. A expectativa é que o relatório contribua para tentar resolver os problemas enfrentados por setores de atendimento de urgência e emergências de hospitais do país, pois a situação em muitos Estados, de acordo com o documento, é de verdadeiro caos.

RECOMENDAÇÕES – A partir dos resultados do relatório, a Comissão recomendará ao Executivo Federal, aos estados e municípios que, dentre outras providências, adotem efetivamente a Política Nacional de Atenção às Urgências, ampliando a participação no financiamento do SUS; ampliem a abrangência do programa ‘SOS Emergência’, para incluir todos os serviços públicos do país; reduzam a carência de quase 200 mil leitos hospitalares no País e crie mais leitos de apoio e de retaguarda; revisem os valores da Tabela SUS para remunerar a prestação de serviços com dignidade; e evitem a contratação provisória de recursos humanos, privilegiando o concurso público e a contratação pelo regime estatutário.

A CDHM deve ainda requisitar ao Tribunal de Contas da União (TCU) que realize auditorias nos serviços de urgência de todo o país. Em paralelo, a Comissão deverá apoiar a tramitação de proposições que buscam modificar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) – para permitir a contratação de mais profissionais da saúde –, além daquelas que buscam a criação de planos de carreira no serviço público de saúde e que ampliem a participação da União no financiamento do setor, como o Projeto de Lei do Saúde+10, que prevê a destinação de 10% da receita bruta da União para a saúde.

GARGALOS DO SUS – De acordo com o relatório preliminar do GT, os serviços de urgência e emergência enfrentam um duplo gargalo, sendo o primeiro deles o congestionado atendimento e o desconforto na porta de entrada dos serviços. Para esse gargalo, segundo o documento, também contribui a excessiva centralização do atendimento de emergência em poucos serviços, em relação ao tamanho da população e da área territorial de cobertura. Esses mesmos elementos também estão envolvidos no segundo gargalo, que, segundo a Comissão, é a dificuldade em dar solução aos casos de usuários que conseguem ser atendidos. “O resultado é que se gera uma ‘fila’ também para sair do serviço, retroalimentando a situação de carência, pois novos usuários, em princípio, não poderiam ser admitidos até que os outros tivessem seus casos resolvidos”, destaca o documento.

O subfinanciamento do setor também foi apontado pelo Grupo como “a expressão maior da falta de prioridade” dada ao setor, o que obriga as políticas específicas a se adaptarem aos recursos que são disponibilizados. Para expor esse quadro, o GT recorreu a uma recente análise do CFM que, com base em dados do próprio governo, observou que o Ministério da Saúde deixou de aplicar mais de R$ 100 bilhões no SUS ao longo dos últimos 13 anos. Também cita recente análise do Conselho sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), no qual apenas 11% das ações previstas para a área da saúde foram concluídas desde 2011. Das 24.066 ações sob responsabilidade do Ministério da Saúde ou da Fundação Nacional de Saúde, pouco mais de 2.500 foram finalizadas até dezembro de 2013.

Íntegra do relatório disponível em http://portal.cfm.org.br/images/PDF/relatoriourgencias2014.pdf.

domingo, 6 de abril de 2014

O que é ser Avô?

João Baptista Herkenhoff

O título de Avô é sumamente democrático. Podem ser avô o ministro, o embaixador, o industrial, o funcionário público, o comerciário, o gari. Quando o netinho ou a netinha sorri, o avô, seja rei ou súdito, rico ou pobre, brasileiro ou portador de outra nacionalidade, se desmancha de alegria. Quando o pequenino faz uma arte criativa, o avô e a avó batem palmas incondicionais.

Dizem que avós deseducam, mas não concordo com esta tese. Por que uma criança não tem direito de dar mel ao gatinho, jogar pela janela os selos que o avô ciosamente colecionava, tirar do armário a grinalda que lembra à avó o dia do casamento para desfilar garbosamente pela casa com aquela coroa na cabeça? Os adultos comuns, adultos ordinários, estabelecem regras autoritárias que os avós, adultos especiais, adultos extraordinários, com muita sabedoria, revogam.

Como será o mundo que a netinha que me fez avô encontrará, quando se tornar adulta? Será um mundo civilizado, um mundo de Paz? Ou será um mundo que governantes imbecis, financiados por fabricantes de armas, transformarão em cenário de guerra? Como será o Brasil do amanhã? Um Brasil regido por padrões de Justiça Social, onde Mães deem filhos à luz com segurança, em hospitais públicos de excelente qualidade, confiantes do futuro, ou um país onde a Mãe, para livrar a criança da fome, aborta a vida nascente?

Os avós não são importantes apenas no círculo da família. Exercem também um papel relevante na sociedade. Transmitem às gerações seguintes a experiência que a vida proporcionou. A experiência não é para ser guardada como bem individual. É patrimônio coletivo, como muito bem colocou o filósofo inglês Alfred Whitehead

A aposentadoria é um direito assegurado por anos de trabalho, mas não tem de implicar, necessariamente, em encerramento de atividades. Pode apenas sinalizar redução de compromissos exigentes. São múltiplas as novas experiências possíveis. Que cada um encontre seu caminho. Que a sociedade não cometa o desatino de desprezar a sabedoria dos mais velhos.

Quando me aposentei, por tempo de serviço, na magistratura e no magistério, fui tomado por uma crise de identidade. O vazio manifestou-se forte quando tive de preencher a ficha de entrada num hotel. Se estava aposentado como juiz e como professor, qual profissão me identificaria? "Ser ou não ser", eis a questão.  Shakespeare, pela boca de Hamlet, percebeu a tragédia humana antes de Freud.

Ah, sim. Já sei. E escrevi na ficha do hotel, resolutamente: Professor itinerante, autodefinição que me fixou um itinerário de vida pós-aposentadoria.

João Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado, Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo e escritor. Autor, dentre outros livros, de: Encontro do Direito com a Poesia (GZ Editora, Rio de Janeiro).

E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br

CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2197242784380520

sábado, 5 de abril de 2014

A jornada de trabalho diante da fúria do Madeira

Andréa Zílio

Não, definitivamente não conseguimos ter total noção dos resultados que a cheia do Rio Madeira causou, como também não conseguimos mensurar o que está sendo feito no local por homens do Corpo de Bombeiros, Deracre e de outras instituições do governo do Acre. Afinal, nosso estado está isolado via terrestre do resto do país e precisou buscar soluções.

Aventurei-me nessa jornada acompanhando colegas da imprensa, para tentar mostrar mais do que está acontecendo nos trechos que foram comprometidos e levou a estrada à interdição. A aventura começou às 2 horas de terça-feira, quando saímos rumo à Vila Abunã e conseguimos retornar somente por volta das 19 horas, utilizando carro, balsa e barco.

Primeiro o espanto em ver um rio grandioso e assustador dominar aquele espaço. Não se trata de qualquer rio: o Madeira é um dos mais extensos do mundo, e toda sua força e fúria pôde ser vista nesse episódio.

O primeiro sinal do trabalho feito pela turma do Acre é exatamente um trecho comprometido da estrada, que ganhou uma nova base a partir de um imenso e alto tapete de pedras e sinalização improvisada, até o último domingo todo embaixo d’água. O segundo é a balsa que leva até Vila Abunã. Antes seu trajeto durava de 25 a 30 minutos, mas, com o desvio, mudou para quase três horas rio acima e 40 a 50 minutos rio abaixo.

Na simples e simpática vila, um ritmo pacato e olhares curiosos. Sentar em algum canto por ali é um convite automático a uma conversa com os moradores, sobre a situação que vivem. E sim, o Acre está olhando para eles. O sentimento é expressado no tratamento que dão aos homens que trabalham dia e noite na missão, afinal, esse pequeno depende deles.

Adiante, os sinais da vazante do Rio Madeira são vistos nas marcas deixadas pela água na vegetação, casas que foram quase todas cobertas e nos trechos em que precisaram colocar mais pedras e sinalizar para os caminhões passarem. Até hoje, o rio baixou mais de 40 centímetros.

Ver os caminhões na estrada também gera um enorme sentimento de desolação. Imaginar a agonia dessa gente que está de 15 a 20 dias ali é muito aflitivo. Também não é tarefa simples lidar com pessoas que estão no limite do estresse, pois cada um tem sua prioridade e achar o bom senso nem sempre é fácil, mas o respeito tem sido mantido. Há também depoimentos de revolta pelo isolamento e reconhecimento: “O único que olhou por nós foi o governador lá do Acre, Tião Viana, senão a gente estaria muito pior”, afirmou um morador de Vila Abunã, José Francisco, que diz estar há 54 dias isolado.

O empresário José Carlos, do Acre, estava com 22 carretas na estrada e quando viu a possibilidade do cenário mudar, tratou de ajudar os homens enviados para trabalharem em uma solução. Enviou trator e prancha para contribuir com a operação que não era só sua esperança, mas a de muitos outros homens, alguns acompanhados de esposa e filhos. Desde que o trabalho iniciou, há exatamente duas semanas, ele conseguiu passar 15 carretas. “Se o governo do Acre não estivesse aqui dando apoio, a situação estaria muito complicada, muito pior”, comenta.

Assim como demonstra a atitude do empresário, outro fator determinante nesse trabalho é a união dos caminhoneiros, solitários das estradas que não medem esforços para superar o desafio, ajudando também a equipe no que é possível.

De Porto Velho a Rio Branco, é em Jaci-Paraná um dos trechos críticos em que se atravessa dois quilômetros por balsa e 40 adiante se chega a Palmeiral, onde outro porto de atracar foi improvisado para fazer uma travessia de 17 km de balsa até o Velho Mutum. De lá, são 7 km que parecem não ter fim, em que é preciso enfrentar muita água em uma estrada que só sabemos que existe graças aos marcadores colocados um a um pelos homens que ali trabalham e para passar, só com ajuda de caminhão prancha e outras máquinas.  Foi até esse ponto que foi possível chegarmos, mas foi o suficiente para vermos que se trata de uma grande operação que exige esforços e recursos, afinal, são máquinas, homens, alimentação, alojamento, água, combustível.

Ali está a concentração maior do trabalho depois que os pontos de atracagem foram feitos em vários trechos  problemáticos da estrada, amenizados com pedras. Durante o dia, que começa às 5 da manhã, os homens trabalham incansavelmente na passagem de cada caminhão, e cada travessia realizada é uma vitória comemorada com gritos e abraços. Além disso, manualmente fazem o balizamento e medição diários desses trechos da estrada, utilizando varas com marcadores nas pontas. A jornada se encerra entre 20 e 22 horas. Os perigos são muitos, principalmente a correnteza do rio e as cobras, que tiveram seu habitat alterado e surgem o tempo todo, exigindo atenção e mais cuidado.

Determinação e coragem são as palavras que movem esses homens. A missão é fazer os caminhões passarem com tanta segurança quanto possível, e sabemos que é árdua. O desgaste físico e mental é imenso. Só muito humor e espírito humanitário superam e renovam cada um desses homens a cada nascer do sol.

Andréa Zílio é jornalista e atualmene exerce o cargo de secretária adjunta de Comunicação do governo do Acre.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

George Orwell

“Jornalismo de verdade é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade. E publicidade não é mais do que o ruído de um pau a bater na caldeira”.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Também já fui brasileiro

Carlos Drummond de Andrade

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

No tempo em que o Amor morreu

CLÁUDIO MOTTA*

Quando a última folha outonal do galho se desprendeu, um vaso grego ou chinês do armário desabou. Na lápide marmórea, a estátua monótona de um anjo torto tombou de lado. Do teto de gesso antigo, um alabastro se soltou e no chão virou mil pedaços. Da montanha milenar, a geleira, antes eterna, soltou o suspiro derradeiro e alimentou o último rio. Mas Deus não havia esquecido o mundo. Naquele instante, ficava gravada a mensagem segundo a qual o Criador estava a se esquecer da sua mais cruel e deprimente criatura, o humano.

Foi justamente naquele tempo que o Amor se apagou no leito de morte. E, se tal aconteceu, foi porque o homem esqueceu a humanidade perdida em meio a um tempo de delírios e devaneios próprios de quem já não sabe o que fazer em meio ao caos.

Naquela época marcante, ademais, o amor em letras minúsculas perdeu o sentido mínimo que antes tinha, e o acasalamento se fez bem mais importante que o afeto.

Numa segunda-feira de orgia inominável, o inventor de palavras criou o termo tesão; quando, antes, a denominação era libido. Esta, sim, em época anterior, poderia estar em alta ou em baixa, dependendo da situação que faz o cidadão e conforme a quantidade de dólares de que se podia dispor para o bem dos entes desfrutáveis ao redor. 

A prostituição, antes afeta a um grupo de perdidos que se completavam e acoplavam com as mulheres da vida fácil em alcovas suarentas, passou, enfim, a freqüentar os salões dos mais requintados grupos sociais tomando petit gateau, em saias mínimas, bustiês de renda e frufru em derrières descomunais.

Numas dessas ocasiões de pecado arraigado, gentil cavalheiro de boa procedência, bem pensar e grande inteligência, ao chegar à entrada de um clube de famílias tradicionais e muita castidade escondida não sei onde, tinha ao seu lado uma moçoila de pouca idade e vida mundana, apanhada ali mesmo pelas adjacências da praça pública. Ela tinha o arzinho de quem fazia barba, cabelo e bigode desde a mais tenra infância. Mas foi ele quem, corajosamente, olhou para o porteiro e disse:

- Mermão! Onde eu entro, também entra a minha namorada.

Ao que o homem guarnecedor da porta falou escolhendo cuidadosamente as palavras:

- Ora, doutor! Essa moça não pode entrar aqui. Ela é suspeita.

E veio a resposta mais sacana de que tenho notícia desde que o mundo é mundo, se é que eu não me chamo raimundo:

- Ainda mais essa. Preste atenção. Suspeitas são as que estão aí dentro. Essa aqui é quenga mesmo.

E o homem entrou no clube, dançou bolero, rodopiou no samba, fez firula ao som do foxtrot e foi feliz para o resto da vida em meio à sociedade e ao lado da sua esposinha tirada do beco das mariposas. Havia amor, sim, em menor medida, e libido em alta octanagem. A Marietinha era algo indescritível em termos de artes marciais e nas manhas do amor.

Os donos da sociedade jogaram fora a cartola. As mulheres de alta padronagem passaram a ver que as suas filhas tinham algumas manias um tanto parecidas, lá fora, debaixo da escada da mansão, com o namorado Alfredinho, posto que, na época, ainda não havia sequer um Ricardão.

Estava decretada a legitimidade de um tempo em que a baderna social e sexual se abateu por sobre os cavalheiros e damas dos trópicos mais ocidentais da civilização judaico-cristã.

Não, minha senhora. Um pouco depois, já em século posterior, da mesma forma que no anterior, as mocinhas pobres, naquela maldita era de permissividade, já não estavam sozinhas a defender o estandarte das garotas de programa. Também as riquinhas, em mesas de bares e restaurantes da moda, negociavam o prazer carnal com amigos de infância ou até mesmo com desconhecidos, em troca de apenas uma noite frugal no calor do uísque, nas névoas dos cigarros do diabo, à beira da piscina ou à sombra da lua sob pérgula florida.

As casas de exceção, os prostíbulos travestidos de clubes familiares e os motéis de alta voltagem vendiam energéticos sintéticos para homens que já não tinham nenhuma energia. Estes, em carrões prateados trazidos do extremo oriente ou da terra do sol que nasce todos os dias, apesar de pais de filhos barbados e avôs de netos insones, embarcavam na moda moderninha segundo a qual um cidadão grisalho  -  dito coroa  -  com inteligência relacionada ao número de cartões de crédito, podia e ainda pode patrocinar dias de licenciosidade em Dallas ou Luxemburgo, em New York ou no Liechtenstein, do paraíso recuperado ao paraíso perdido. Ah! Coroa rico nunca caiu da moda.

À tardinha, ou mais ou menos às seis, ou até mesmo às nove da noite, a novela da hora mostrava menininhas que eram aconselhadas a acasalar bem cedo, a exemplo do que faziam as artistas pré adolescentes da televisão.

A cama era o anteparo da queda doce e fatal que obrigatoriamente ocorria. Beijos de número um a três, pescoço abaixo, e já se iam às vias de fato em busca do gozo perpétuo atingido em aulas de sexo tântrico ou nas práticas relativas à kama sutra em edição ilustrada. Ô tempo doido!

Um domingão, então, à tarde. Uma estrela quenga de um programa pornô de nome Big Brother foi entrevistada ao vivo na televisão. Ela falou por intermédio de uma língua tão tosca que pouca gente entendeu o que realmente queria dizer. Pior foi falar mal da arte divina do balé:

- Estou saindo do BBB. Tentarei ser modelo, ou atriz, ou puta. Mas, se disso tudo eu nada conseguir, virei ser dançarina do Faustão.

Quase ela apanha da japonesa que, inclusive, taxou a doida de mais inculta que menos bela.

Os mais velhos e os mais inteligentes já há muito viam que esse tal BBB era apenas a formação de um covil onde se reuniam rapazes caça dotes e garotas de programa, ambos a alto custo ou a peso de ouro. Já naquela época diziam tratar-se  -  o programa  -  de uma espécie de lixo cultural inservível e não reciclável. E havia razão em vista dos milhões de basbaques que gostam mais da vida alheia que de arte pela arte.

Era também o fim da inteligência que, já magra e escassa, sucumbiu no choque com a tesão e a alta da libido alimentada pelos energéticos de procedência alemã estilo merck.

Em noite enluarada de um inverno qualquer, então, fui fechar e passar correntes nas janelas que me separavam da vida pregressa. Não apenas saltei o obstáculo e caí na calçada, como também me tornei um modernoso de altíssimo quilate.

Varei a noite de sexta numa orgia em seções de sexo a perder de vista e de fôlego. Atravessei o sábado a chamuscar-me num fogaréu impetuoso da libido saltitante. Fui guindado a herói de mim mesmo e de umas tantas quantas vivem a vida em eterno êxtase que significa gozo.

Foi aí que virei poeta, pois descobri que só o amor, o sexo e a arte tornam a existência tolerável.

__________

*Autor de Janelas do tempo, livro de crônicas; e O inverno dos anjos do sol poente, romance de viagem cujo foco maior é o Acre dos anos 40 e 50, a ser lançado em julho próximo. Cronista do jornal A Gazeta, de Rio Branco, Acre: www.claudioxapuri.blog.uol.com.br.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Escola Rita Maia

Governador Tião Viana assina ordem de serviço para construção de novo prédio

Foto: Gleilson Miranda/SecomBrasileia, Epitaciolandia Xapuri (Acre)A semana começou com boas notícias para a Educação na região do Alto Acre. O governador Tião Viana assinou duas ordens de serviço para construção de novas escolas, uma em Brasileia e outra em Xapuri, e inaugurou a Escola Estadual de Ensino Médio Belo Povir, em Epitaciolândia.Em Xapuri, a Escola de Ensino Fundamental Rita Maia, do 1º ao 5º ano, após construída, será repassada para a administração municipal, cumprindo um acordo feito com o município, que repassou um prédio para o funcionamento do Instituto Federal de Educação do Acre (Ifac). O valor da obra será de R$ 2,6 milhões.A ordem de serviço assinada em Brasileia, para a construção de uma escola estadual de ensino médio, modelo, foi no valor de R$ 3, 4 milhões. O prédio abrigará 12 salas de aula, laboratório, pátio, sala de recursos, quadra poliesportiva, refeitório. Já a Escola Belo Povir, entregue em Epitaciolândia, custou R$ 3,4 milhões.

O governador Tião Viana assinou na última segunda-feira, 31, em Xapuri, a ordem de serviço para a construção do novo prédio da escola municipal de ensino fundamental Rita Maia, que atualmente divide o mesmo espaço com o Instituto de Ciência e Tecnologia do Acre (IFAC).

No ano de 1990, o governo construiu a estrutura conhecida como “Escola Padrão”, que foi cedida ao município que ali instalou a escola Rita Maia. Em 2010, um acordo feito entre os governos federal, estadual e municipal efetivou a implantação do campus do IFAC no município e o prédio da escola padrão foi doado ao instituto federal através da Lei nº 2.394 de 17/12/2010.

Entre os termos da negociação constava a construção de um novo prédio para acomodar a escola municipal, que permaneceria funcionando no mesmo local até a concretização da obra. A convivência entre o IFAC e a escola Rita Maia no mesmo prédio tem sido pacífica e o local se tornou nos últimos anos a maior referência educacional da regional do Alto Acre.

O IFAC atende atualmente a cerca de 400 alunos com cursos de nível médio e superior e a escola municipal Rita Maia oferta a educação básica a mais de 300 alunos, tendo conquistado no ano de 2012 o melhor resultado do ENEM entre todas as escolas de Xapuri.

As dificuldades começaram quando o IFAC anunciou as obras de reforma e ampliação do prédio, que depois de executadas darão à instituição a capacidade para receber 1.200 alunos e de ampliar a gama de cursos oferecidos.

Com o início das obras, o ano letivo dos alunos da escola Rita Maia chegou a ficar ameaçado em 2012 (leia aqui). Uma cantina precisou se improvisada no meio do pátio do prédio em obras para que as aulas prosseguissem.

Na imagem, o governador Tião Viana posa para fotografia junto com alunos da escola Divina Providência, onde a ordem de serviço foi assinada. A foto é de Gleílson Miranda da Secom-Acre.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Rita Maia x IFAC - Um jogo que Xapuri ganhou

Bira Vasconcelos

Hoje o governador Tião Viana esteve em Xapuri para um ato simples, porém de importância histórica, pelo menos pra mim. Nosso Governador deu a ordem de serviço para que fosse iniciada a construção de uma escola com capacidade para 900 alunos, um investimento de 2,6 milhões de reais, onde irá funcionar a Escola Municipal Rita Maia.

Quando digo que é histórica pelo menos para mim, é em função da minha tomada de decisão como então prefeito de Xapuri em ofertar o prédio da melhor escola municipal para o funcionamento do Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Acre-IFAC, e com esse ato convencer, juntamente com o ex-governador Binho, o ministério da educação a implantar o IFAC em Xapuri. O que se concretizou no dia 27 de dezembro de 2010, quando o presidente LULA me entregou a placa de identificação do IFAC-Campus Xapuri.

Juntamente com os professores Sérgio Flórido e João Ribeiro de Freitas, senti naquele ato uma das maiores alegrias como Prefeito e como cidadão, pois sabia que ali se iniciava um novo tempo para os jovens de nossa terra, abria-se naquele momento uma porta chamada OPORTUNIDADE, de melhoria de vida, de crescimento intelectual, mas principalmente de uma opção real à estagnação e ao marasmo intelectual a que estavam fadados, além, é claro, de um novo caminho ante o caminho sem volta das drogas.

Hoje o IFAC conta com 669 alunos, muitos recebendo bolsa para estudarem nos cursos regulares e outros sendo pagos para se capacitarem profissionalmente. Sei que a decisão foi acertada.

Contudo, uma coisa faltava. Quando conversamos, eu e o governador Binho, tinha uma questão: e os alunos da Rita Maia? A resposta foi firme e simples, o IFAC pode dividir o espaço com a Rita Maia no início dos seus trabalhos. Enquanto isso, a prefeitura compra um terreno próximo da atual escola e o Governo constrói outra escola.

Pois bem, como Prefeito compramos uma área de 100x100m, do mesmo tamanho da Rita Maia, na Rua Rotary, e doamos para o Governo. E com o apoio e esforço do Governador Tião foi elaborado o projeto e disponibilizados os recursos. E hoje o governador autorizou a empresa a começar a construção da Rita Maia, e muito em breve com a graça de Deus, teremos nos novos corredores e pátios, a correria, os gritos e alegria de criança se preparando para o futuro.

Obrigado aos servidores, alunos e aos pais da Escola Rita Maia e do IFAC, que passaram por tantos transtornos, mas que em breve estarão em novas instalações.
Obrigado Governador por mais esse compromisso cumprido com Xapuri.

Bira Vasconcelos foi prefeito de Xapuri no período de 2009 a 2012.

Gasolina

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O que chama mais a atenção na imagem acima não é a pequena ave que se abriga debaixo da cobertura de um posto de combustível no centro de Xapuri, também parecendo querer acesso ao líquido inflamável e tão precioso no Acre nas últimas semanas. O que mais impressiona é a quantidade de tambores e corotes ali posicionados a espera da chegada de mais um carregamento de gasolina.

Grande parte desses vasilhames possui um único objetivo: fazer estoque para a venda clandestina. Essa prática tem ocorrido normalmente em Xapuri aos olhos de todos. Um dos resultados disso é que os postos estão tendo combustível apenas por durante algumas horas depois da chegada de cada carregamento. Quem não tem condições de passar horas na fila, fica sem acesso ao produto. E os que se propõem a enfrentar a maratona de espera, também perdem o tempo que gastaram, pois a bomba seca antes de chegar a vez de muitos.

No posto da imagem acima uma única pessoa chegou a comprar de uma só vez 600 litros de gasolina. O destino maior é o bairro da Sibéria, onde o litro pode ser encontrado no mercado negro até por R$ 7,50. O oportunismo e a ganância dessa gente desconhece qualquer princípio ético. Desconhecem o que é partilha e ignoram o que é segurança. E é esse mesmo tipo de gente que em outros lugares do Brasil vai às ruas para protestar contra o governo e depredar o patrimônio público e privado.

A imagem que ilustra o post foi tomada emprestado no Facebook de Haroldo Sarkis.

domingo, 30 de março de 2014

Saiba o que é

O projeto de Lei 2126/11 foi aprovado no último dia 25/03/2014 na Câmara dos Deputados e depende apenas de aprovação no Senado e sanção presidencial.

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Caro leitor (a), você sabe do que se trata o projeto de Lei 2126/11? Caso nunca tenha ouvido falar, talvez você o conheça como Marco Civil da Internet. Lembrou? Você sabe o que isso acarretará e mudará nas normas de utilização da internet pelos usuários? O artigo de hoje visa esclarecer estes pontos, já que o Marco Civil da internet “teve seu primeiro passo dado”, para que suas normas possam surtir efeito, já que a Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (25/03/2014), por votação simbólica o referido projeto de lei.

Primeiramente, temos que relembrar a história e analisar a proposta da PL (projeto de lei) verificando quais garantias esta veio resguardar.

A iniciativa surgida no final do ano de 2009, é uma espécie de constituição para quem utiliza a internet, ditando normas, sanções e inicialmente, colocando o governo como uma espécie de administrador da rede. O projeto ganhou bastante força após a descoberta das práticas de espionagem utilizadas pelo governo Norte Americano contra o Brasil e outros países.

A proposta está sendo alvo de divergências políticas e de opinião, o grande receio é que com a aprovação desta lei, seja criada a censura a liberdade que existe e sempre existiu na utilização da rede, dando controle em excesso ao governo e possibilitando atos discricionários de privação de liberdade por parte deste.

Nestes 5 anos que a lei vem sendo discutida, o texto sofreu diversas alterações, sendo aprovada na câmara de forma menos controladora por parte do Governo, e mantendo a liberdade do usuário.

Segundo o Deputado Federal Alessandro Molon (PT-RJ), relator do projeto, os principais princípios deste são: privacidade, vigilância na web, internet livre, dados pessoais, fim da propaganda dirigida, liberdade de expressão, conteúdo ilegal e armazenamento de dados.

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sábado, 29 de março de 2014

“Sinal dos tempos”

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É o que diria minha avó se tivesse vivido o suficiente para ver um quilo de farinha ser vendido ao preço de quase R$ 6,00. Clique na imagem para ampliá-la.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Babilônia

Babilônia

Mais uma belíssima imagem do aventureiro xapuriense Almir Ribeiro. Cachoeira Babilônia, no Rio Xapuri. É chamada assim porque nas suas imediações desemboca um igarapé que leva o mesmo nome. As cachoeiras e corredeiras do Rio Xapuri não impossibilitam a navegação, mas ultrapassá-las requer experiência e destreza dos barqueiros que navegam por elas durante o verão amazônico. A pesca costuma ser farta nessa região.

Comentário de meu eterno professor Eduardo de Souza, um daqueles que se esbaldou nas águas do Rio Xapuri e, portanto, se tornou xapuriense “nato”, apesar da origem potiguar:

Big Raimari,

Tenho ótimas lembranças da Cachoeira Babilônia nos atendimentos Odontológicos que fiz no Edson da Fronteira. Chegava por lá a bordo de barcos pilotados pelos experientes Chico Silva e/ou Cajú. Num calor sufocante essas águas geladinhas a princípio, nos refrescavam prazerosamente. Tive o privilégio de saborear caldo de bodó nas suas margens feitos pelo "chef" Zé de Barros, e também peixe enrolado em papel alumínio jogado direto dentro da fogueira, depois de temperado pelo Zé da Porca. Beleza de cenário.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Falta de gasolina em Xapuri

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Para quem sentia saudades das filas da carne e do gás de cozinha.

CONVOCAÇÃO

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O Sindicato dos Aposentados, Pensionistas e Soldados da Borracha do Estado do Acre – SIACRE, vem a público convocar toda a categoria a participar de uma Assembleia Geral Extraordinária a realizar-se no dia 29/03 sábado no Ginásio Álvaro Dantas a partir das 08:00 horas da manhã, tendo como objetivo tirar encaminhamentos das seguintes pautas:

  • Informações sobre a PEC dos Soldados da Borracha;
  • Orientar sobre a proposta dos 25 mil;
  • Como anda a votação da proposta no Senado;
  • Apresentar contraproposta do Governo Federal no tocante ao relatório apresentado pelo Senador Aníbal Diniz no ultimo dia 26/04 na CCJ;
  • O indicativo de data para o pagamento dos 25 mil reais e explicar quem terá direito de receber.

Em reuniões no senado com os Lideres do Governo e Senadores o SIACRE definiu novas estratégias de articulação para os encaminhamentos sobre o relatório do Aníbal Diniz com a maior brevidade possível. Levando em consideração que a próxima data para votação desta matéria será dia 02 de Abril de 2014.

Rio Branco Acre, 27 de Março de 2014.

Tráfico humano

João Baptista Herkenhoff

Quando estudamos a História do Brasil aprendemos que a abolição da escravatura ocorreu em etapas. Primeiro foi abolido o tráfico de escravos (1850). Depois foi promulgada a Lei do Ventre Livre, em benefício dos filhos de escravos (1871). Veio depois a Lei dos Sexagenários que libertava da escravidão os idosos (1885). Finalmente, em 13 de maio de 1888 a abjeta escravidão foi totalmente proscrita de nosso país.

Se assim é contada nossa história, o que é esse tráfico humano que a Campanha da Fraternidade deste ano denuncia? Ainda existe o tráfico de pessoas em terras brasileiras, já que o tráfico foi abolido em 1850?

Infelizmente a resposta à indagação é afirmativa.

Crianças são traficadas para extração e comércio de órgãos. Mulheres desprovidas de um mínimo de informação são iludidas com promessas de bem estar e traficadas para a prostituição. Trabalhadores são deslocados do lugar onde vivem e transportados para outros territórios a fim de serem explorados como escravos. Não se trata de uma fantasiosa história de terror, mas de um fato concreto que os Bispos brasileiros, com a reputação conquistada pelos serviços prestados ao povo, certificam, denunciam e condenam, conclamando todas as pessoas de caráter a uma tomada de posição. Sim, não se trata de conclamar os cristãos, e muito menos os católicos. Não é preciso ser católico ou ser cristão para dizer peremptoriamente: basta, isto não pode continuar.

Para o homem religioso o tráfico humano é uma blasfêmia, é ofensa ao Deus Criador. Para o homem que guarda princípios éticos, sem professar uma crença, sem se filiar a um credo, o tráfico humano é uma ignomínia que não pode ser tolerada.

Mas não basta protestar e indignar-se. É preciso exigir providências para que o tráfico humano desapareça dos horizontes nacionais.

Sejam cobradas ações efetivas dos Poderes Executivo e Legislativo. Que se exijam posições firmes e rigorosas do Ministério Público. Que o Poder Judiciário, devidamente provocado, não se cale, nem transija. Que a sociedade civil como um todo assuma sua grande parcela de responsabilidade.

O que não se pode admitir é a atitude de passividade e silêncio, quando sabemos que existem seres humanos tratados como mercadoria. E até pior do que mercadoria porque as mercadorias são guardadas e conservadas para que não se deteriorem, enquanto pessoas humanas vítimas de tráfico são expostas à perda da condição humana, à destruição, à doença e à morte.

Se aqueles que são vítimas do tráfico nem protestar podem, sejamos nós a voz dos que não têm voz, de modo que nosso grito de revolta ecoe de norte a sul.

João Baptista Herkenhoff, magistrado aposentado e Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo, épalestrante pelo Brasil afora. Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Comissão de Justiça e Paz, da Arquidiocese e Vitória. Acaba de publicar Encontro do Direito com a Poesia – crônicas e escritos leves (GZ Editora, Rio).

E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br

CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2197242784380520

É livre a divulgação deste artigo, por qualquer meio ou veículo, inclusive através da transmissão de pessoa para pessoa.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Xapuri perde dona Carmen Veloso

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Faleceu na manhã desta quarta-feira, 26, aos 93 anos, dona Carmen Veloso, uma das quituteiras mais tradicionais de Xapuri. Conhecidíssima pela sua cajuína, seus licores e biscoitos, fez parte de uma geração de mulheres fortes e guerreiras que muito contribuíram para a formação da sociedade xapuriense.

Em 2011, em uma conversa com o jornalista Altino Machado, que passava pela cidade, dona Carmen proferiu uma frase que se tornou célebre: “Xapuri está uma merda”. Do fundo de sua pureza e sinceridade, dona Carmen motivou um dos debates mais acalorados, via internet, de que se tem notícia na velha “Princesa do Acre”.

Naquela oportunidade, dona Carmen fez aquilo o que muita gente tem vontade, mas se furta por uma infinidade de razões: exercer o direito sagrado e constitucional de dizer o que pensa, o que acha e o que sente sobre a terra em que vive. Ela ensinou que democracia se faz assim mesmo: com opinião carregada de causa e sentimento.

A partida de dona Carmen se constitui numa grande perda para a cultura de Xapuri. Ela, como outras e outros tantos dessa geração de heróis e heroínas, estão partindo sem conseguir conhecer, apesar dos esforços feitos com muito trabalho e dedicação, o modelo de cidade com o qual – certamente - muito sonharam.

A solidariedade do blog à família Veloso.

terça-feira, 25 de março de 2014

Sai-cinza

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Uma das famosas cachoeiras do Rio Xapuri. Localizada a várias horas de barco a motor, a partir do encontro com o Acre, em frente a cidade, é uma beleza natural praticamente desconhecida do povo da “rua”. A imagem foi pescada na timeline do xapuriense Almir Ribeiro, no Facebook.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Maioridade Penal

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“o recente assassinato de uma adolescente de 14 anos em Brasília pelo namorado prestes a completar 18 anos levou senadores a voltar a defender, em Plenário, mudanças na maioridade penal. Mais cedo, o presidente do Senado, Renan Calheiros, havia recebido a visita de Joselito Dias e Rosemari Dias, pais da jovem morta, Yorraly Ferreira Dias.O assassino filmou o crime e divulgou o vídeo entre amigos por meio de um aplicativo de troca de mensagens. A principal proposta de mudança na maioridade é a PEC 33/2012, do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que abre a possibilidade de a Justiça aplicar a adolescentes de 16 a 18 anos envolvidos em crimes como homicídio qualificado, extorsão mediante sequestro e estupro penas impostas hoje somente a adultos.

A PEC foi rejeitada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), mas vai a votação em Plenário, depois de apresentação de recurso. Ao pedir a aprovação da PEC 33, Aloysio Nunes explicou que a proposta mantém a regra da maioridade aos 18 anos, mas abre uma exceção que contempla os casos de crimes hediondos. Ele disse que, pelo texto, o promotor que atua na Vara da Criança e do Adolescente perante a qual esteja sendo apurado ato infracional pode pedir a exceção para que o menor de 16 a 18 anos seja julgado como adulto. –

Assim, o juiz, depois de uma apuração criteriosa, poderá chegar à conclusão de que aquele adolescente que cometeu crime hediondo poderá ser submetido à lei penal, e não ao ECA – argumentou o senador. Para o senador Magno Malta (PR-ES), a proposta de Aloysio é um gesto positivo, pois é a uma resposta a uma sociedade que sofre, que se angustia e que “agoniza de dor e de lágrimas”. Ele criticou o governo, que teria “mandado derrubar” a PEC, e lamentou o crime que tirou a vida de Yorraly. – O Senado não pode se acovardar, não pode se apequenar, não pode, enfim, deixar de enfrentar esta questão que angustia a família brasileira – declarou Malta.

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domingo, 23 de março de 2014

Antonico Bucheira: um herói esquecido

Edinei Muniz

Quando João Goulart caiu, em 31 de março de 1964, pouca gente no Acre ousou resistir, tanto que o tal do Edgard Cerqueira, de triste memória - e seu suposto telegrama do Comando Revolucionário (dizem até que era falsificado) - deitou e rolou: meteu os pés sujos na porta da Assembléia Legislativa e ainda encontrou apoio de alguns deputados do PTB (partido de Jango e de Jose Augusto) para sagrar-se governador.

Mas, como toda regra tem lá suas exceções, em Xapuri, terra de cabra valente, um simples açougueiro, decidido a entrar para a história, rabiscou uma cena de heroísmo digna das mais altas homenagens. O nome dele era Antônio Leopoldo, mais conhecido como “seu Antonico bucheira".

Antonico, desde cedo, já se mostrava diferente. Como magarefe, nunca obedeceu à regra (imposta pela elite obviamente) de que “carne de primeira”, tão logo chegasse ao açougue, teria que ser reservada aos ricos. Com ele, a carne, seja qual fosse, era de quem chegasse primeiro. Os ricos babavam de ódio, mas Antonico nem aí para eles.

Com a queda de Jango, petebista roxo que era, Antonico se inquietou. Falou, falou e nada pôde fazer. Reclamava que o povo era mole e não tinha coragem de pegar nas armas para assegurar a volta do Jango e de José Augusto.

Lá pelas tantas, numa heróica manhã de agosto de 1964, quatro meses após o golpe, argumentando a excessiva elevação dos preços das mercadorias, Antonico resolveu ensinar como se reage contra os tiranos: tomou Xapuri de assalto e distribuiu alimentos de graça para a população pobre.

Seu Antonico, e mais uma meia dúzia de revoltosos, entre eles o Zé Bento, pegaram nas armas e dominaram os pontos estratégicos da cidade: a Prefeitura, a Agência dos Correios, onde cortaram o fio do telégrafo, e também, claro, o quartel da guarda, trancafiando os militares de plantão.

Com a cidade totalmente dominada, Antonico dirigiu-se ao comércio, chamou o povo, e distribuiu alimentos de graça para todo mundo. Mas, enquanto ele fazia isso, os seus companheiros de revolta não agiam como a mesma firmeza. O Zé Bento, responsável por vigiar o Quartel da Guarda Territorial, acabou fraquejando e libertou o Cabo Expedido (seu antigo companheiro de farda). Daí em diante, um a um, todos os revolucionários, posicionados em pontos estratégicos, baixaram as armas, só restando Antonico.

Ao receber ordem de prisão, Antonico, que realmente não era fácil, ainda tentou resistir, mas não demorou para perceber que seria em vão, pois fora informado que todos os seus companheiros de levante já encontravam-se devidamente presos. Sem saída possível, acabou se rendendo.

Por tal ato, Antonico chegou a responder um inquérito policial, mas não deu em nada. Dizem que o Guilherme Zaire, poderoso que era naquela época, entrou na questão e livrou nosso combatente da cadeia.

Antonico morreu pouco tempo depois. Partiu sem saber que foi dele o maior ato de bravura contra a ditadura militar produzido no Acre.

Alguém conhece algum outro?

NOTA: o que digo no primeiro parágrafo, sobre a suposta falsificação do telegrama e o pé na porta da ALEAC, tem como base o que disseram Nabor Junior e Iolanda Fleming, dois ex-governadores do Estado do Acre. Não inventei nada...está tudo no livro "Brava Gente Acreana", do ex-senador Geraldo Mesquita Junior.

Edinei Muniz é advogado.