Rodrigo Silva
Todos os dias em nossos smartphones, computadores e TVs, temos uma verdadeira chuva de informações, e nem sempre é possível conferir a veracidade delas. Se acharmos que ela faz sentido para nós e pode ajudar o próximo, tratamos de encaminhar imediatamente para nossas redes de contato e, assim, a informação se dissemina (em uma velocidade absurda), seja ela verdadeira ou não. Realmente, não pensamos nas consequências disso, afinal, é só uma mensagem sobre um assunto polêmico ou que vai alimentar ainda mais uma discussão interessante, não é mesmo? Não é bem assim.
O termo “infodemia” significa epidemia de informações falsas. As pesquisadoras Emma Spiro e Kate Starbird, da Universidade de Washington (Seattle/EUA), estão investigando como a desinformação está se espalhando durante a pandemia da Covid-19 e como os conhecimentos científicos influenciam as percepções públicas.
O coronavírus, por exemplo, já foi tratado como arma biológica produzida em laboratório, já foi uma conspiração dos mais ricos do planeta para alterar os valores de compra e venda de ações, já veio do morcego, do pangolim, já foi culpa dos chineses, dos italianos, já foi letal e agora não é mais — até atribuíram ao Papa Francisco a culpa pela disseminação desse vírus quando ele deu um tapa na mão de uma asiática. Brincadeiras à parte, tudo isso aconteceu em apenas dois meses, e isso nos revela um vírus não apenas como o causador de uma doença, mas como uma verdadeira arma de guerra de informações.
Essas incertezas nos trazem ainda mais angústia e ansiedade. No caso do coronavírus, as situações apresentadas no início da pandemia, por exemplo, levaram a desencontros de atitudes e ações entre os diferentes líderes mundiais. Até agora, não sabemos exatamente qual o grau de perigo em abandonar a quarentena para reacender a economia. Estamos entre a cruz e a espada.
Então, como podemos minimizar essa situação?
Primeiramente, refletir criticamente sobre a informação e, sempre que possível, checar a sua veracidade. Você também pode avaliar qual o grau de contribuição que aquela informação terá na vida das pessoas que você pretende compartilhar, ou seja, será que elas já sabem aquilo? É algo novo e que realmente trará algum benefício? Por fim, ter bom senso! Afinal, o que mais precisamos nesse momento são união e solidariedade.
Rodrigo Silva é biólogo, doutor em Ciências e coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário Internacional Uninter.
Leonardo Torres
Já há algum tempo, não somente o Brasil mas o mundo tem presenciado um levante negacionista, ou seja, um movimento que tende a negar alguns fatos da realidade, refutando-os com teorias mirabolantes. O exemplo mais conhecido e propagado ultimamente é o de quem acredita que o planeta Terra é plano. Existem outros, como a negação do vírus da AIDS, do aquecimento global e agora, como já era esperado, do próprio coronavírus.
O grande problema deste movimento é a sua cegueira. A maioria dos negacionistas afincos sofrem de um delírio coletivo, isto é, uma convicção errônea para a Ciência e para quem não é negacionista, mas aparentemente super verdadeira para quem defende o movimento. Não existe prova científica ou dialética que os faça mudar de ideia, pois esta convicção não depende de fatos e dados, mas de crença, e não há nada mais forte para o ser humano do que crer em algo. Não à toa, temos milhares de provas históricas de indivíduos que morrem por suas ideologias e deuses.
Não é difícil encontrar hoje alguém comentando sobre o coronavírus: "eu não sei, você conhece alguém que esteja com o coronavírus? Parece que é coisa da mídia". Isso é uma típica frase delirante. É verdade que se deve ficar atento às fake news; no entanto, esta dúvida extrapola o limiar da realidade, fazendo o indivíduo não aceitar os fatos do mundo, seja por estar vinculado a uma ideologia política, seja por ele se identificar com líderes políticos que também deliram ou até mesmo como um mecanismo de fuga da realidade, porque tem medo das adversidades do mundo.
É incrível e até mesmo absurdo como a humanidade avançou em tão pouco tempo no que tange à Ciência e tecnologia, porém regrediu ao primitivismo das crenças que promovem um delírio em ideologias ocas e pensamentos negacionistas. Faltou, talvez, levar mais da Ciência e tecnologia para a população e não guardá-la nas patentes secretas que visam lucros econômicos.
Resta saber o quanto esses delírios coletivos cresceram e isso, infelizmente, ficará muito claro após a pandemia do coronavírus. Afinal, a pessoa que nega uma situação mundial como essa não está cega somente para a sua morte como possibilidade, mas também cega para a morte de quem ela contagiar, caso contraia o vírus.
Leonardo Torres é professor e palestrante, doutorando em Comunicação e pós-graduando em Psicologia Junguiana