segunda-feira, 27 de julho de 2020

O Acre não merece Bruno

Nada impede, obviamente, que o glorioso Rio Branco Futebol Clube contrate o goleiro Bruno, assim como nada pode evitar que aqueles que têm a menor porção de respeito pela vida sigam reservando ao criminoso a ojeriza pelo delito repugnante que cometeu. O estigma que o assassino carregará pelo resto da sua existência faz parte de seu castigo. Disso, a brandura da lei brasileira não o libertará.

O coro entoado nas redes sociais acreanas em defesa do feminicida me deixa incrédulo. Ele não é digno de apoio popular, não faz jus ao mantra de que todo mundo tem direito a uma segunda chance, pois ele a está tendo sim, mas não poderá dela usufruir sem que tenha de conviver com o clamor pela justiça que para muitos ainda não foi feita.

Muito menos a sua condição se assenta na célebre frase de Jesus Cristo quando disse: “quem nunca errou que atire a primeira pedra”. O crime de Bruno não foi um mero erro, um desvio de conduta, mas uma atrocidade sem tamanho. Bruno não cometeu um crime qualquer, mas matou impiedosamente uma mulher para fugir de uma responsabilidade e jogou o corpo aos cães.

O crime cometido pelo então goleiro do Flamengo foi a consumação, com extremo requinte de maldade, de uma das mais cabais demonstrações de menosprezo pela vida de um semelhante que um ser humano poderia dar. O fato de a perversidade ter sido cometida contra uma mulher indefesa e mãe de uma criança dá intensidade ao sentimento de impunidade que permanece vivo.

Quanto ao Rio Branco, repito: nada o impede dessa nefasta contratação; mas como uma das maiores e mais tradicionais instituições do esporte acreano, o clube se apequena diante da inegável demonstração de indiferença com a causa do combate à violência contra a mulher em um estado que é campeão nesse tipo de mazela social.

O Acre já tem problemas demais; não merece Bruno.

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