terça-feira, 10 de janeiro de 2017

OPERAÇÃO "VOLTA AO MUNDO"

O Ministério Público do Estado do Acre colocou em prática nesta terça-feira (10), em Xapuri, a primeira etapa da operação denominada "Volta ao Mundo", que investiga gastos abusivos de combustível pela administração municipal passada.

Durante todo o dia, foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão em residências e estabelecimentos comerciais de ex-integrantes da gestão municipal e pessoas envolvidas, entre elas o prefeito Marcinho Miranda, que não estava em casa quando os oficiais de justiça bateram à sua porta. Segundo foi apurado pelo MP, os gastos com combustível apresentam significativa incompatibilidade com as possibilidades fáticas do município de Xapuri, sendo suficiente para dar várias voltas ao mundo, o que acabou denominando a operação.

A sede da Prefeitura também foi inspecionada para busca de notas de compras de combustível, contas e convênios para comparar com o que foi declarado. Nos documentos apreendidos, foram encontradas notas com valores altíssimos, incluindo uma no valor de R$ 101 mil, referente a 18 dias de consumo de combustível. A nota era da Secretaria de Infraestrutura e contém o selo fiscal da Secretaria de Fazenda do Estado.

Além da prefeitura, todas as secretarias municipais estão sendo investigadas, mas, nessa terça, a busca e apreensão compreendeu apenas as secretarias de Infraestrutura, de Educação, Agricultura, Saúde e Finanças.

A ação foi coordenada pelo promotor de Justiça substituto do município, Fernando Henrique Santos Terra, que desde setembro de 2016 investiga o caso e acompanhou de perto o desfecho da operação. A promotora de Justiça substituta do município de Brasiléia, Juliana Barbosa Hoff, também participou da operação.

Estiveram envolvidos na Operação, cerca de 50 componentes do MP Estadual, da capital e dos municípios de Xapuri e Brasiléia. As equipes tiveram apoio da assessoria de segurança institucional do MPAC. Na ação foram recolhidos computadores, mídias em CDs, DVDs e pendrives, caixas de arquivo, notas de compra, celulares, requisições e contratos. Também foi feito o flagrante de uma arma com a numeração raspada e documentos oficiais em casas de particulares.

Com informações da Assessoria de Comunicação do MPAC.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

ACIDENTE É O BRASIL ESTAR DE PÉ

Leonardo Sakamoto
Nesse acidente, 56 pessoas acabaram assassinadas.
Acidentalmente, cabeças foram decapitadas e membros separados dos corpos no presídio Anísio Jobim, em Manaus.
Por acidente, o lugar estava superlotado.
Um acidente fez com que facções criminosas comandassem o local.
Outro acidente garantiu que a política de segurança pública do Estado brasileiro fosse falida e incompetente para garantir a reinserção social dos encarcerados.
Mais um acidente levou à adoção de uma política de combate às drogas totalmente ineficaz, que apenas aumentou o poder de organizações criminosas, armando-as até o dentes.
E, é claro, um acidente fez com que leis brasileiras tenham sido criadas para proteger os mais ricos em detrimento dos mais pobres e para que um racismo institucionalizado siga enviando para a cadeia relativamente mais negros do que sua participação na população brasileira.
E, apesar de Temer ter tentado tirar o corpo fora da história, acidentalmente ele é o presidente e, portanto, responsável por esse problema estrutural do país – que não se resolve apenas com a construção de presídios e aumento no efetivo de segurança.
As palavras têm significados, apesar de tentarmos torturá-las sistematicamente no desejo de que atendam nossas necessidades. Procurei em dicionários mas não achei o significado de ''acidente'' que Michel Temer quis imputar a um massacre que possui responsáveis diretos e indiretos – dos próprios presos até a cúpula da República.
Pois o que aconteceu não foi casual, inesperado e fortuito, mas proposital, esperado e previsto.
Precisamos parar de culpar o acaso por crimes intencionais. Não se estupra por acidente, não se atropela e mata embriagado ao volante por acidente, não se espanca alguém na rua por acidente, não se põe fogo em uma pessoa em situação de rua que estava dormindo por acidente.
Manaus não foi acidente.
Mas o Brasil, há muito tempo, parece estar sendo conduzido por acidente.
Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política pela universidade de São Paulo. Escreve o Blog do Sakamoto, no Portal Uol.