sábado, 11 de julho de 2020

O aumento da covid-19 em Xapuri

Não vou entrar no mérito de que o prefeito Ubiracy Vasconcelos esteja certo ou errado em dizer que a população de Xapuri “relaxou nos cuidados” quanto às medidas de prevenção contra o avanço do novo coronavírus no município, após uma repentina subida no número de casos registrada no boletim desta sexta-feira, 10.  Mas posso garantir que faltando com a verdade ele não está, e uma abundância de fatos comprovam isso.

O meu possível dissenso com o prefeito ocorrerá caso o caráter da afirmação do dirigente municipal seja de desculpabilização com relação a responsabilidades que, no caso da crise que o mundo atravessa, nunca poderão deixar de ser compartilhadas. Via de regra, numa situação de exceção com a atual, todos os encargos relacionados aos erros e acertos deverão ser solidariamente assumidos pelos atores envolvidos na questão – povo e governantes.

É fato incontestável que na cidade poucos têm respeitado o isolamento social e esse notório comportamento tem grandes chances de ser o que faz com que a disseminação do vírus não seja controlada. A normalidade com que as pessoas estão enfrentando a pandemia é escancaradamente visível nas rotineiras “festas covid” que são realizadas em várias residências, em fins de semana ou não, cidade afora e em localidades da zona rural.

O fechamento do comércio do município não passa de mero simbolismo. Nada está de fato fechado, a não ser os escassos restaurantes ou pensões e pousadas. Uma simples volta pelas poucas ruas do centro comercial é suficiente para se constatar que praticamente tudo está funcionando – não que isso seja uma crítica à decisão das pessoas de manterem ativos os seus meios de sobrevivência.

Não raramente, políticos promovem aglomerações – recentemente, o próprio governador Gladson Cameli participou de uma em Xapuri – e já estão em campo, em suas pré-campanhas, mantendo contato direto com a população. Famílias se confraternizam, parentes se visitam e até pessoas que declararam via redes sociais estar infectadas já foram vistas perambulando pelas ruas em total demonstração de descaso com a saúde dos semelhantes.

Cito, por oportuno, uma postagem no Facebook, na qual um usuário critica o prefeito por jogar na população a culpa pela subida dos casos de covid-19 e o aponta como o verdadeiro responsável pela elevação do número de infectados em Xapuri por ter autorizado a abertura de igrejas e academias de ginástica. “Com hipocrisia não vamos vencer esse vírus”, disse o internauta em seu desabafo.

Comungo com o internauta quanto à critica ao prefeito em razão de igrejas e academias terem sido “autorizadas” a funcionar, mas é bom que se registre que essas “autorizações” não partiram do gestor municipal, mas do presidente Jair Bolsonaro que elencou, por decretos, essas atividades, entre outras, no rol dos serviços essenciais que, em razão disto, poderiam funcionar país afora.

Compartilho da crítica citada acima porque o decreto do presidente negacionista é inócuo diante da louvável decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que garantiu autonomia a prefeitos e governadores para determinarem as medidas de enfrentamento ao coronavírus, o que deixa claro que Bira Vasconcelos poderia e deveria ter mantido o impedimento inicial dos referidos espaços, caso assim quisesse.

Começo a discordar do internauta, mas jamais desrespeitando a sua opinião ou me opondo ao seu constitucional direito de se expressar, quando ele afirma que as liberações das igrejas e academias contribuiu para o agravamento da pandemia no município. Se essas medidas fizeram alguma diferença, foram mínimas, dada a sua insignificância quando comparada a todo o contexto que descrevi nos dois primeiros parágrafos.

No último decreto municipal sobre as medidas atinentes à pandemia, a prefeitura desaconselha a realização de cultos religiosos, mas faz rigorosas exigências caso, mesmo assim, as lideranças eclesiásticas decidissem por abrir as portas de seus templos, o que não ocorreu em um primeiro momento. A igreja católica, por exemplo, informou que apenas voltaria a celebrar missas quando houvesse condição de segurança aos fiéis.

A liberação das academias também ocorreu com base em exigências similares, entre as quais a de se aceitar apenas quatro usuários por horário, o que, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, está sendo obedecido. 

Se as tais medidas irão ter resultado positivo ou negativo, só o tempo poderá dizer, mas diante da despreocupação geral que impera na sociedade com relação à tragédia da covid-19 será difícil se conseguir fazer uma medida exata. 

Volto a concordar com o internauta que me despertou o interesse pelo assunto quando disse que “com hipocrisia não vamos vencer esse vírus”. É fato. Mas também não o venceremos com meias verdades ou completa desinformação a que se acostumou lançar mão em benefício de uns ou de si próprio e em detrimento de outros - e ainda muito menos sem o uso de uma régua justa a ponto de ser capaz de medir todas as responsabilidades quanto ao momento miseravelmente desastroso que o Brasil atravessa em vários aspectos.

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