Em artigo publicado pelo site de jornalismo ambiental ((o))eco, nesta segunda-feira (27), o jornalista acreano Fabio Pontes afirma que o Acre, que por 20 anos exerceu certo protagonismo na preservação de sua cobertura florestal, hoje é referência naquilo que há de pior em termos de política ambiental.
De acordo com Pontes, o ritmo sem precedentes de devastação
da Amazônia no Acre, que foi o terceiro estado que mais desmatou no mês de
agosto deste ano, é consequência tanto do desmonte das políticas de proteção do
meio ambiente promovida pelo governo federal quanto pelo local.
“Por aqui, a estratégia de deixar a boiada passar foi
adotada com muito mais antecedência pelo governo de Gladson Cameli (PP) do que
aquela exposta por Ricardo Salles diante de um país assustado com a pandemia da
Covid-19”.
O jornalista diz ainda que durante sua campanha para governador,
Cameli tinha como promessa fazer do agronegócio o carro-chefe da economia
acreana. Para isso, ele garantiu desburocratizar e flexibilizar as normas
ambientais do Estado e tirar a fiscalização do pescoço de quem queria produzir.
“A principal missão de Gladson Cameli ao assumir o governo
do Acre, em janeiro de 2019, era destruir todo o arcabouço institucional de
proteção da Amazônia construído durante as duas décadas de governos do PT. Tal
política gestada durante o chamado governo da floresta de Jorge Viana
(1999-2006), conhecida como Florestania, passou a ser o inimigo público número
um de Gladson Cameli”.
Em agosto de 2021, o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD),
do Instituto do Homem e Meio Ambiente (Imazon) detectou 1.606 quilômetros
quadrados de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 7% em relação a
agosto de 2020, quando o desmatamento somou 1.499 quilômetros quadrados.
É a maior taxa para o mês em 10 anos. Com isso, o acumulado
desde janeiro também foi o pior da década. O desmatamento detectado em agosto
de 2021 ocorreu no Pará (40%), Amazonas (26%), Acre (15%), Rondônia (10%) e
Mato Grosso (9%).
O que disse o governo
Por meio da Agência de Notícias do Acre, o Governo do
Estado argumentou, também com base nos dados do Imazon, que os números mostram
que o estado apresentou uma redução de 12% no desmatamento no mês de agosto de
2021, em relação ao mesmo período do ano passado.
“Mesmo não sendo uma fonte considerada oficial, a redução
demonstra que as ações adotadas pelo governo do Estado têm sido fundamentais
para conter o avanço do desmatamento”, disse a agência estatal.
O governo também citou um dado do Sistema de Detecção de
Desmatamento em Tempo Real do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Deter/Inpe),
órgão oficial de promoção de informação de dados sobre desmatamento, que afirma
que o Acre teve uma redução da extensão de alertas de desmatamento de 35,3% no
mês de agosto em relação a 2020.
A diretora executiva da Secretaria de Estado do Meio Ambiente
e das Políticas Ambientais (Semapi), Vera Reis Brown, explicou que os dados de
desmatamento devem ser analisados com critério.
“É um assunto complexo que exige a adoção de metodologia
que permita comparação dos dados ao longo da série histórica. No entanto, as
informações geradas pelo Imazon, MapBiomas, entre outras, têm sido fundamentais
na complementação dos dados gerados pelo Inpe e pelo Centro Integrado de
Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental, o Cigma”.
O jornalista acreano Fabio Pontes escreve há mais de uma década sobre Amazônia, cobrindo meio ambiente, povos indígenas e comunidades extrativistas, crises migratórias, mudanças climáticas e a política regional para veículos de imprensa do Acre e do país.