sábado, 4 de julho de 2020

O desastre aéreo que comoveu Xapuri na década de 1950

Segunda-feira, 30 de abril de 1951, uma data que ficou marcada na história da família Melo Sarkis que, na verdade, ainda nem existia quando o avião Beechcraft-Bonanza PP HTI “Tarauacá”, do Serviço Aéreo do Governo do Acre, caiu ao chegar a Xapuri após sobrevoar a cidade e bater em uma castanheira, se precipitando nas imediações da pista de pouso, por volta das 17h30.

No acidente, morreram José Raimundo de Melo e Miguel Gomes Bezerra, além do piloto, o tenente Manoel de Souza Fortes. José de Melo é o pai da matriarca da família Melo Sarkis, Velissa Guaraciaba de Melo Sarkis, que se casaria com Elias Cher Sarkis, três anos após a tragédia que enlutou as cidades de Xapuri e Rio Branco, onde as vítimas do infortúnio eram personagens muito conhecidas das sociedades locais. 

Com 21 anos de idade à época do acidente, Velissa já namorava com Elias Sarkis, ao lado de quem gerou Andrias, Constantino, Jorge Elias (falecido com uma semana de vida), Afonso, Tadeu, Nader e Rachide, a caçula, depois de se casarem no ano de 1954. Os filhos cresceram ouvindo histórias a respeito do acidente que comoveu profundamente a sociedade da época, que ainda lembra de momentos como a missa de corpo presente na igreja de São Sebastião ainda em construção. 

O bancário aposentado Andrias, o filho mais velho, ainda guarda uma peça do avião, recolhida por Elias Sarkis, que quando soube da notícia do acidente correu para o local acompanhado do amigo Afonso Zaire, ainda conseguindo ver a aeronave em chamas. É um cabo de aço que ligava uma das asas, não atingida pelo fogo, à fuselagem da aeronave. Uma triste lembrança da tragédia que completará 70 anos em 2021.

“Esse cabo de aço foi guardado por meu pai durante 54 anos até a sua morte, em fevereiro de 2005. O apego com a peça, que ele usava como um instrumento de defesa pessoal quando se deslocava do trabalho para casa – Elias Sarkis foi trabalhador histórico da antiga usina de energia de Xapuri – lhe rendeu o apelido de “Cabinho de Aço, que chegou a ser transferido para mim”, conta Andrias. 

Andrias conta também que seus pais relatavam que ao sair da aula no fim da tarde do dia fatídico se encontraram para namorar, como era de costume, quando, ao passearem, dona Velissa disse ao futuro marido que acabara de ter uma visão de José de Melo vestido de branco. O namorado respondeu, tranquilizando-a, que seu pai estava em Rio Branco, o que significava que aquele pressentimento era irreal. Momentos depois receberam a notícia do acidente. 

O radialista e professor Nader Sarkis, outro neto de José Raimundo de Melo, conta, com base em relatos da família, que o seu avô estava retornando de Rio Branco onde acabara de ser nomeado para o cargo de Delegado Geral de Xapuri. Ele retornaria da maneira que foi, de batelão, mas quando estava prestes a embarcar foi avisado de que um avião sairia para a sua cidade. Como a viagem de subida pelo rio durava cerca de quatro dias, ele teria optado pelo voo fatal. 

“Pela história que ouço desde criança, o avião caiu após o piloto fazer um voo rasante sobre a cidade, como maneira de avisar a moça com quem namorava de sua chegada, como era habitual fazer. Ela morava na rua Sadala Koury, em frente de onde hoje é a pousada Chapurys. Depois dessa rasante, segundo o que se conta, ele não teria conseguido retomar a altitude para fazer o pouso, batendo nessa árvore e caindo”. 

Além de dona Velissa, falecida no dia 25 de agosto de 2016, o nordestino José Raimundo e a esposa Maria de Nazaré de Melo tiveram outros três filhos, Utilde Cardoso, Raimundo Francisco e Getúlio José de Melo. Dos filhos, nasceram 22 netos, dos quais um deles, José Raimundo Hadad Melo, que vive em Belém (PA), se tornou piloto de avião. 

Um dos irmãos, Raimundo Francisco de Melo, falecido no dia 29 de julho de 2009, foi pioneiro no serviço de radiodifusão e radiotelegrafia em Xapuri. Ele foi o criador da “Raimelo”, emissora de caráter comunitário que animava as noites da cidade após as missas de domingo, na década de 1960. No dia do acidente, Melo, como era conhecido, estava em Brasiléia, a trabalho, e não chegou a tempo para ver o sepultamento do pai.

A imagem ao lado é de uma versão moderna de um Beechcraft-Bonanza, aeronave monomotor executiva com capacidade para transportar com razoável conforto um piloto e cinco passageiros em viagens domésticas. 

Fabricada nos Estados Unidos a partir de 1947, é uma das mais conhecidas aeronaves civis da história da aviação e um dos mais respeitados projetos de monomotores a pistão para uso executivo, com manutenção simples e fácil de pilotar.

Um comentário:

De Paula disse...

Bom dia! Me chamo De Paula e tenho a honra de conhecer uns dos 22 netos. O famoso comte: Hadad. Que pra mim é um amigo irmão. Ele faz parte da historia da aviação. Parabéns pela bela história da família. Ótimo matéria!